Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares
Miguel Sousa Tavares Jornalista

Não há imortais

A praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, tem vinte postos ao longo da sua extensão: são, no fundo, apoios de praia. E, no alto de cada barraquinha dos postos, os seus donos hasteiam as bandeiras dos seus clubes favoritos. Em 2006, dois anos depois de o FC Porto se ter sagrado pela segunda vez campeão europeu de clubes em Geselkirchen e campeão mundial em Yokohama, ao percorrer a praia de carro em toda a sua extensão, desde o Leblon até ao Arpoador, fui contando as bandeiras hasteadas: havia dezasseis de clubes brasileiros, em especial os cariocas, uma do Real Madrid, uma do Inter de Milão e duas... do FC Porto. Não só então, mas também noutras ocasiões – como ao ver miúdos a jogar futebol na rua, na África do Sul ou na Argélia, com camisolas do FC Porto – foi quando se me tornou mais claro o impressionante caminho que o F.C.Porto tinha feito sob a direcção de Jorge Nuno Pinto da Costa, desde um clube regional, verdadeiro saco de pancada e vítima de gozo e trafulhices por parte dos clubes da capital, até um clube líder a nível mundial, maior do que Portugal, e que, por si só, tinha posto a cidade do Porto no imaginário de todos os que amam este desporto, nos quatro cantos do mundo. Isso só o FC Porto fez e essa é a obra maior e inesquecível de Pinto da Costa. Não me admira nada o silêncio institucional de Benfica e Sporting na sua morte: é pura dor de cotovelo, dor de inveja, essa característica primeira dos portugueses. Mas compreende-se: ele acabou com o oligopólio perfeito dos dois maiores clubes de Lisboa, repartindo entre si os campeonatos na proporção de três para um a favor do Benfica. E não apenas veio desassossegar o arranjinho estabelecido, como ousou arrombar a porta com estrondo, primeiro ultrapassando o Sporting, o clube da elite, e depois o Benfica, o clube do regime.

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