Miguel Sousa Tavares
Depois do 25 de Abril de 1974 e da libertação do país da longa ditadura em que vivera 48 anos, seguiu-se, pouco depois, a libertação da ditadura futebolística em que vivíamos, consagrada na fórmula 3x1x0: três campeonatos para o Benfica, 1 para o Sporting, 0 para o F.C. Porto ou alguém mais. O Benfica era o clube do povo acomodado, o Sporting o clube da élite do Estado Novo, o FC Porto o clube dos ‘andrades’ do norte, que serviam para animar as festas de Lisboa, provincianos temerosos e subservientes. Deve-se a dois homens a inversão histórica de terem posto fim a esse duopólio lisboeta, lançando o FC Porto, não apenas na disputa pela hegemonia nacional, como também na alta roda internacional, onde até hoje brilha sem igual entre nós. O primeiro foi Jorge Nuno Pinto da Costa, que veio desassossegar a paz de compadres estabelecida e mostrar como o mérito podia e devia triunfar sobre os direitos adquiridos. O segundo foi José Maria Pedroto, o treinador que conseguiu pôr fim a 18 anos de secura portista a partir do momento em que, na véspera de uma deslocação ao Estádio da Luz, falou nos "roubos de catedral" - no dia seguinte, o árbitro do Benfica-Porto preparava-se para consumar mais um sob a forma de um penálti inventado a favor dos da Luz, mas recuou lembrando-se da frase de Pedroto: o FC Porto empataria o jogo e seria finalmente campeão nesse ano.