Miguel Sousa Tavares
1 -Reflectir é um indispensável exercício de ginástica mental e de humildade intelectual, hoje muito em desuso. As redes sociais e o seu diabólico algoritmo encarregaram-se de substituir o conhecimento e a reflexão pelas opiniões instantâneas, firmes e inabaláveis, como só alguém que não reflecte é capaz de ter. Mas toda a reflexão exagerada ou acerca de coisas óbvias não aproveita ao próprio nem a ninguém mais e quase sempre significa tão somente uma paralisia que é característica de quem não consegue ou não quer decidir. Exemplo: a União Europeia e a Palestina. Depois de dois anos e 46.000 mortos causados pelo massacre e destruição dos israelitas em Gaza, as altas figuras da UE foram interpeladas por alguns (raros) Estados membros para explicarem por que razão já aprovaram 18 pacotes de sanções à Rússia, mas em relação a Israel, nada, nem sequer a suspensão do Acordo de Cooperação, que dá grandes vantagens a Israel mas que exige "respeito pelos direitos humanos". Como não queria nem ouvir falar no assunto, o "Van der Leyen Team" chutou a apreciação para uma comissão que iria investigar (pasme-se!) se Israel anda a violar os direitos humanos em Gaza. Dois meses passados, a comissão apresentou as suas conclusões: crimes de guerra, genocídio, o uso da fome como arma, etc. Enfim, o catálogo de horrores que todos vemos numa televisão perto de si todos os dias. Mas nem assim a UE ficou esclarecida: resolveu abrir um período de reflexão, sem data para terminar nem consequências à vista.