Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares
Miguel Sousa Tavares Jornalista

Vinte anos desperdiçados

1. Fez na quinta-feira passada vinte anos que o Estádio do Dragão foi inaugurado, numa noite de magia e esperança. Dessa noite que vivi na bancada do novo estádio, lembro-me de poucas coisas marcantes, para além da festa da inauguração, em si mesma: que o jogo, disputado entre um misto da equipa A e B do F.C. Porto e uma equipa quase toda composta por suplentes do Barcelona não teve grande interesse; que o relvado, apesar de novo, estava lamentável (teve de ser logo substituído e renasceria como um tapete de excelência e de referência); e que o mágico Luís de Matos, no final, abriu um cofre, selado uma semana antes, onde estava o resultado do jogo: 2-0 para o FC Porto. Dessa noite, apenas duas coisas ficariam para a história. A primeira foi a entrada, a cerca de um quarto de hora do fim, de um miúdo argentino de 16 anos, formado na ‘cantera’ do Barcelona, com pouco mais de 1,60 metros de altura e ostentando nas costas o mítico número 14, que Johan Cruyff – até então o meu jogador preferido de sempre – havia imortalizado no Ajax, no mesmo Barcelona e na selecção da Holanda. Chamava-se esse miúdo Lionel Messi, vulgo ‘A Pulga’, e, depois da estreia no Dragão com a camisola do Barça, em breve mudaria o número nas costas de 14 para 10 e iria espantar o mundo durante mais de vinte anos e até hoje como aquele que para muitos, eu incluído, passou a ser o melhor jogador de todos os tempos. Mas nessa noite ainda não tínha forma de o adivinhar, apenas adivinhava o segundo acontecimento histórico daquele dia: estava a assistir à inauguração daquele que era então o mais bonito estádio de futebol do mundo, e hoje ainda dos mais bonitos, obra da autoria do arquitecto Manuel Salgado. Há estádios, como o do Benfica, replicando o modelo Arena, comum em dezenas de outros locais, que são excelentes para ver futebol; há outros igualmente com pretensões de grande arquitectura, mas que são incómodos e apenas tiram partido da envolvente natural, como o de Braga, de Souto Moura; mas o Dragão reune as duas coisas: é prático e cómodo, encerrado dentro de uma obra de arte que serve para passear a vista quando o jogo não presta. E de há vinte anos para cá, no universo FC Porto, só o Dragão não envelheceu.

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