Há um erro quase congénito nas candidaturas presidenciais aos grandes clubes portugueses: o de apresentarem quadros técnicos como trunfos eleitorais. O fenómeno repete-se de forma cíclica — vimos isso recentemente, nas eleições para o FC Porto (onde está Zubizarreta?) e voltamos a vê-lo agora no Benfica. É a instrumentalização eleitoral do que devem ser escolhas do âmbito exclusivamente técnico e que não são nem podem ser sufragáveis. Com o devido respeito por todos os adeptos do futebol, não têm quer o conhecimento quer as competências para avaliar quem deve ou não deve ser um director desportivo de um clube profissional de futebol
Transformar um diretor-geral, um diretor desportivo ou um coordenador técnico em argumento de campanha é uma distorção sem quaisquer virtudes. Estas funções exigem competência, rede de contactos, sensibilidade negocial, leitura de mercado e conhecimento profundo do contexto competitivo nacional e internacional. Nenhuma destas qualidades se mede em votos.
O problema é que, neste jogo eleitoral, o critério deixa de ser técnico e passa a ser mediático. Em vez de se procurarem os melhores, procuram-se os mais apresentáveis. Em vez de profissionais discretos mas eficazes, buscam-se nomes que soem bem na praça pública. E assim se perde o essencial: a adequação ao cargo.
A escolha de Andries Jonker, treinador e selecionador, mas sem percurso relevante como dirigente ou conhecimento do futebol português, é o exemplo mais recente dessa tendência. Um nome estrangeiro, com prestígio internacional, mas sem lastro local, ou craveira na função.
A história mostra o contrário: Tiago Pinto, Antero Henrique, Luís Campos, Mário Branco, ou Carlos Freitas (apenas para citar alguns nomes) eram desconhecidos da maioria dos adeptos quando assumiram cargos semelhantes — e foi precisamente essa ausência de protagonismo que lhes permitiu trabalhar com rigor e foco. Como exemplo de sentido oposto tivemos Rui Pedro Braz...
Quando os clubes escolhem dirigentes para ganhar eleições, em vez de os escolherem para ganhar campeonatos, o resultado é sempre o mesmo: perde o futebol, e os clubes que os escolhem não ganham campeonatos.
Por Nuno Félix