Há nomes que atravessam o tempo como uma benção... ou como uma maldição!
Conceição!
Para os alemães, este apelido soa a pesadelo.
Em 2000, Sérgio Conceição silenciou a velha guarda germânica com um hat-trick que eliminou a poderosa Alemanha do Europeu. Um feito que, para quem vive por dentro do futebol alemão como eu há mais de duas décadas, deixou cicatrizes mais profundas do que os próprios alemães gostam de admitir.
Como nação de sobreviventes e de guerreiros que é, reinventaram todo o edifício do futebol germânico por conta do pai Sérgio, mas ontem o filho Chico voltou a por a nu que há muita coisa no futebol alemão que podemos e devemos pôr em causa.
De facto, ontem, numa noite mágica, o "novo" Conceição voltou a escrever uma página negra para o futebol alemão. O filho do Sérgio, marcou um golo que parece saído do guião de um filme de redenção genealógica, num Portugal onde o nome se repete, mas o talento renova-se. "Um golo louco", dizem os jornais internacionais. E foi mesmo. Louco pela coragem, pela ousadia e pelo sentido de oportunidade. Louco como é o sangue quente de quem não teme herdar e gastar o talento e a vontade que lhe vieram com o apelido.
A imprensa alemã, não teve como não se render. E entre as linhas de admiração, sente-se a inquietação: "os Conceição não perdoam".
Vi muitas seleções alemãs serem reconstruídas com precisão cirúrgica. Vi equipas renascerem do nada com o típico pragmatismo de um país onde tudo parece funcionar. Mas há algo que eles ainda não decifraram: o instinto português.
O instinto português para o jogo, para o treino, para a análise e observação.
E, nesse capítulo, a família Conceição tem sido um verdadeiro enigma para o Modus operandi germânico.
Derrota, em alemão, escreve-se "Niederlage". Mas desde ontem, há uma tradução alternativa, mais curta e mais dolorosa: Conceição.