Nuno Félix

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Nuno Félix Scout internacional

Bayern vs Sporting: O voo de Ícaro

Em Munique os contos de fadas não duram mais do que 11 minutos. 

Entre o golo que fez o Sporting acreditar e a reação furiosa do Bayern, houve um intervalo, curto em tempo, durante o qual, da forma como o campeão português afirmou o seu futebol, foi enorme em ilusão. Depois, tudo regressou à ordem natural das coisas: o rolo compressor alemão, a fortaleza do Allianz Arena e mais uma noite em que um clube português sai da Alemanha de mãos vazias – são já 16 jogos sem uma única vitória lusa em casa do Bayern, com apenas dois empates a destoar da costumeira derrota.

Ícaro vestiu ontem de verde e branco. A equipa de Rui Borges entrou em campo com a coragem de quem acreditava que podia desafiar o rei sol: bloco compacto, linhas juntas, sem tentar condicionar a primeira fase de construção de Kompany e a sobreviver à previsível avalanche inicial. Quando chegou o 0-1, o gigante abanou e o miúdo europeu, este Sporting,  acreditou que podia levar a ousadia até ao fim.

Mas o Bayern não é apenas um nome, é todo um contexto competitivo. A pressão alta bávara foi sufocante: 28 ações defensivas no meio-campo leonino (recorde desta edição da prova), empurraram o Sporting cada vez mais para dentro da sua área e transformaram cada saída curta num risco existencial. A equipa de Alvalade perdeu 24 bolas no seu terço defensivo, 15 delas no lado esquerdo, onde Maxi Araújo viveu uma noite de pesadelo perante Michael Olise, tornando-se o jogador mais driblado num jogo desta Champions, seis vezes.

A reviravolta em 4 minutos foi a fotografia perfeita de um colapso: Gnabry, aos 65’, e Karl, aos 69’, castigaram a sucessão de erros de decisão de um Sporting que deixou de respirar com bola e passou a sobreviver a cada recuperação do Bayern. O golo leonino, único disparo que acabou na baliza sem que a equipa conseguisse enquadrar qualquer remate durante todo o jogo, num total de apenas quatro tentativas, acabou por ser mais um acidente estatístico, como o são tantas vezes os frutos desta equipa que mesmo encostada às cordas, também sabe contra-atacar.

Ícaro caiu não por ter tido a ousadia de voar, mas por não ter sabido gerir a proximidade ao sol. Este Sporting tem argumentos para discutir jogos com gigantes europeus, como o próprio Kompany reconheceu ao sublinhar que os leões estão no topo da Champions. 

Falta aprender a transformar o arrojo em maturidade competitiva: fazer faltas quando é preciso, partir o ritmo quando o estádio entra em ebulição, proteger melhor as fragilidades de um onze remendado e aceitar que, em noites como esta, também se ganha com pontapé para a frente e nas canelas.

O voo de Ícaro em Munique terminou numa queda honrosa, mas deixa uma evidência: o Sporting já não é um turista na Liga dos Campeões. Está, sim, a aprender, da forma mais dura, a arte de voar alto sem deixar que as asas se derretam ao primeiro bafo de calor de um gigante.

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