Nuno Félix

Nuno Félix Scout internacional

Hansi Flick Flac Flop!

O jogo de ontem à noite começou de véspera. Na conferencias de imprensa de antevisão ao jogo, o treinador alemão do clube da Catalunha desmanchou-se em elogios ao Benfica e ao seu estilo de jogo, queria amaciar o adversário e aburguesou-se. À mesma hora no Seixal, a equipa técnica de Bruno Lage preparava um antídoto letal para a avalanche de futebol que previsivelmente iria defrontar. 

Não há que esperar grandes segredos nem surpresas quando um treinador alemão vai a jogo ao comando da equipa favorita, mesmo quando falamos de um outliner como Hans-Dieter Flick, na minha opinião, o mais latino de todos os treinadores alemães.

A cultura de mérito e de batalha, o pragmatismo quase que matemático, e a ética laboral impedem os técnicos germânicos em geral de guardarem cartas na manga ou travestirem as suas estratégias de jogo em função do adversário. Foi assim que o treinador alemão facilitou o trabalho a Bruno Lage, apresentando na Luz o onze previsível, a jogar tão alto quanto as leis do jogo o permitem, ignorando, e na prática, desvalorizando, o potencial de resposta da equipa encarnada que, para mais, jogava em casa.

O Estádio da Luz já estava com saudade da teimosia germânica e da sua rigidez estratégica, sendo que, desta vez, o alemão estava do outro lado.

Para quem viu este Barcelona jogar no início do campeonato são difíceis de entender os últimos resultados na La Liga e ontem o jogo seguia pelo mesmo caminho.

Querem uma justificação para como Flick colocou a seleção alemã a jogar o melhor futebol de sempre e ainda assim falhou rotundamente e só encontrou a glória do comando do Tiranossauros Rex da Bundesliga Bayern Munique?

Rigidez estratégica que muitas vezes roça a soberba e pode ser confundida com arrogância ou síndrome de complexo de superioridade. Um mal do qual sofrem todos os treinadores alemães com exceção de Nagelsmann (um verdadeiro mestre da leitura e reação ao jogo). 

Escrevo aqui isto para memória futura do próximo presidente que pondere trazer um treinador germânico para a Liga Portugal.

No plano estratégico Bruno Lage deu um banho na já de si encharcada noite de ontem, a equipa foi inatacável no rigor com que interpretou os momentos para condicionar a saída de jogo do Barça, e para acelerar no ataque ao espaço. Não percamos tempo com as vicissitudes de um jogo louco. Lage foi bestial até ao minuto 61, momento em que possuído por uma rigidez e conservadorismo interpretativo que é recorrente no treinador do Benfica, e por isso mesmo, vastamente preocupante, pelo facto de parecer ser um novo indício de como Bruno Lage ao comando do SL Benfica se vê ao espelho. Aursnes tem vindo a cair nos seus desempenhos, mas ontem esse não era de todo o caso. Era sempre ele que saltava linhas de trás para a frente e oferecia uma terceira opção de passe aos seus companheiros. Substitui-lo quando Aursnes estava a ser o homem que espalhava a dúvida entre os defesas adversários foi abdicar dar o conforto no jogo que o Barcelona ainda não tinha encontrado. Passar a defender a 5 e ainda assim continuar pedir aos seus jogadores para subirem a linha defesa, foi convidar o Barcelona a tomar conta dos espaços entretanto disponibilizados no meio campo, sem por contraponto, lhes retirar,  a possibilidade do ataque à profundidade.

Bruno Lage com o 4-2 e meia hora para jogar, julgou que havia chegado o momento em que o mais importante passava a ser a gestão de plantel e que aquele resultado provisório era para congelar. Não percebeu que a leitura correta que havia feito do adversário, não era de todo compatível com a rigidez no seu entendimento da gestão de resultado e da gestão do plantel. 

Lage pensou como treinador de equipa mais pequena e não soube adaptar o seu plano, a um jogo que se revelou extraordinário sob todas as dimensões. No final o placard voltou a reforçar a convicção do alemão na sua supremacia (e com ele pouco ou nada aprendeu), enquanto Lage, depois do jogo em Munique, teve a sua segunda Master Classe sobre o que acontece a quem pensa pequeno contra equipas alemãs ou comandadas por estes. É sempre até ao último minuto Mister! Espero que finalmente tenha aprendido a lição!

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