A escolha de Patrick Dippel como novo chief scout do Benfica pode ser um bom indicador sobre momento estratégico do clube da Luz. Desde logo, cria a percepção interna de que as respostas para uma área tão estrutural como o do scouting já não estavam a ser encontradas dentro de portas, nem no mercado nacional. Como tal o Benfica foi procurar fora, e foi procurar a um contexto onde a função evoluiu mais cedo e de forma mais profunda do que em qualquer outro lugar, à Alemanha!
Dippel não é um scout no sentido clássico do termo. O seu percurso profissional começa e desenvolve-se, durante largos anos, em departamentos de análise, com passagens tão significativas quanto o foram a DFB (Federação Alemã), ou o Bayern de Munique.
A observação em estádio não foi o ponto de partida da sua carreira, mas antes a análise de jogo, de desempenho e de dados, num modelo em que o vídeo, a contextualização estatística e a leitura estrutural do jogador antecedem, e muitas vezes se sobrepõem, ao olhar presencial.
Este detalhe não é menor. Pelo contrário: representa uma mudança conceptual relevante num clube historicamente associado a redes extensas de live scouting e a uma cultura muito assente no “ver com os próprios olhos”.
Não será pois arriscar em demasia dizer que a aposta em Dippel sugere que o Benfica pretende recentrar o processo decisório, colocando a análise como eixo estruturante e o live scouting como complemento, e não como ponto de partida.
Há aqui também um sinal claro de modernização, mas não isento de risco, talvez menor e mais calculado num clube como o Benfica que já detinha o mais avançado departamento de analise do futebol português. Mas analisando as oportunidades e riscos que esta escolha poderá acarretar, importar metodologias do futebol alemão (rigorosamente sistematizadas, hierarquizadas e orientadas por processos) exige uma capacidade de adaptação ao contexto cultural e competitivo português, onde a pressão mediática, a urgência do resultado e a valorização do talento criativo impõem outros desafios. Para mais quando falamos de um clube tão "sanguíneo" quanto o é o Benfica, cuja paixão poderá ser difícil de acomodar na matriz de avaliação de cada momento, para um profissional "tipicamente" germânico. Lembremos-nos de Roger Schmidt e do seu divórcio com a massa associativa do Benfica que antecedeu largamente a sua saída. No entanto confesso que não conheço pessoalmente Dippel e para toda a regra há sempre a sua excepção. Na Alemanha não é diferente, é apenas mais incomum.
A contratação de Patrick Dippel é, por isso, uma declaração de intenções sobre como o Benfica quer identificar talentos para construir o seu futuro.
Resta saber se a cultura interna do clube, e a exigência externa dos adeptos e sócios estarão preparada para acompanhar essa mudança, e tão ou mais importante, vão ser capazes de esperar pelos seus resultados.
De uma coisa estou certo, esta aposta vale o risco e poderá fazer a diferença no contexto do futebol português.
