Rui Dias
As armas físicas no futebol assumiram um prestígio excessivo. Já lá vai o tempo, na Argentina dos anos 60, em que a estrela maior de uma equipa de topo chegava ao intervalo, agarrava-se ao espelho, penteava-se, passava longos minutos a retocar o cabelo e acabava a cerimónia colocando um pouco de desodorizante, sinal de que não tinha corrido na primeira parte e não pensava fazê-lo na segunda. A história, contada por Valdano num dos seus livros, exemplifica uma certa forma de entender o jogo que o tempo se encarregou de alterar. A ditadura do físico e seus derivados impôs-se definitivamente. A velocidade, vista como bem de primeira necessidade, é uma qualidade considerada imprescindível. Porém, analisada com independência dos fundamentos futebolísticos, tem um valor reduzido. A ela tem de estar associada precisão, técnica e clareza de intenções, caso contrário serve para perder a bola mais cedo e constituir uma fonte inesgotável de problemas.