Opinião
O PRIMEIRO Campeonato do século XXI vai ser recordado durante muito tempo como uma competição anormal. O título do Boavista e o sexto lugar do Benfica, respectivamente o melhor e o pior da história de ambos os clubes, fazem parte de um momento inacreditável, que ainda está para provar seja o começo de uma revolução. Provavelmente não será, mesmo que a competição domingo terminada tenha transmitido outros sinais de esperança num futuro mais democrático, para o que também contribuiu o sensacional quinto lugar da U. Leiria (parabéns a Manuel José) e a estranha luta entre o Sporting e o Braga por um lugar europeu que o Marítimo já havia garantido por força da presença na final da Taça de Portugal.
Mas, mesmo que não triunfe a revolução, este golpe de Estado deixará marcas profundas, até na relação entre adeptos e dirigentes, sendo que a massa crítica dos primeiros não deixará de crescer na mesma proporção em que os últimos tentarem continuar a explicar a má gestão desportiva, que delapida orçamentos de forma quase criminosa, apenas com a falta de sorte.
Este Campeonato, entendamo-nos, foi ganho com mérito pelo Boavista e perdido com honra pelo FC Porto, um segundo classificado (a um ponto) que se despediu em grande estilo no último jogo e fará uma época bem positiva se se conseguir sagrar no Jamor, bem ao contrário do juízo de valor que fará parte de uma massa associativa habituada aos êxitos.
Já a carreira de Sporting (a 15 pontos do vencedor) e Benfica (menos 23) merecem palavras diferentes. Os dois clubes com mais adeptos no País cometeram erros incríveis, delapidaram recursos e vogaram ao sabor da emoção. Mudaram de treinadores, jogadores e o Sporting, inclusive, de dirigentes com mandato. Parece impossível que possam fazer pior ou, até, igualarem tamanha mediocridade, por muito que o Sporting possa agitar a Supertaça e a banal ida à Taça UEFA. É que não está em causa ganhar, lugar apenas de um; está em causa a forma como se perde. E, este ano, Sporting e Benfica perderam de forma demasiado brutal e estranha. Tivessem gasto menos cinco milhões de contos cada um e já a análise seria diferente. Mas assim...
Nota - V. Setúbal e Varzim, dois clubes com história no futebol português, juntaram-se ao Santa Clara no regresso ao escalão principal. No Bonfim, a assistirem a um jogo dramático, decidido no último minuto, estiveram cerca de 25 mil pessoas. Quantos clubes em Portugal podem orgulhar-se de tanta dedicação?