Opinião

Paulo Vinícius Coelho
Paulo Vinícius Coelho Jornalista

As minhas memórias de Mourinho no Brasil

José Mourinho e o Benfica juntos trazem-me lembranças.

Primeiro de tudo de meu tio-avô, António, que me ensinou a ter enorme respeito pelo clube da Luz.

Tenho cá no Brasil memórias muito boas de uma família portuguesa e democrática. Minha prima Isabel, que vive em Setúbal, é sportinguista, por herança de seu pai, meu tio Jorge.

Meu primo Jorge, filho de meu tio Adriano, jogou basquetebol pelo Benfica e ensinou a todos os seus, como minha prima Catarina, a ser benfiquista. Meu avô Alexandrino é que era Belenenses.

Mas era meu tio António, casado com tia Adelaide, irmã de minha avó Maria Emília, quem mostrou-me primeiro todo seu amor pelo Benfica.

E o que é que o retorno de Mourinho à Luz tem a ver com isto tudo? Ora, lá pela época 2000/2001, meu tio esteve cá no Brasil e queixava-se muito de uns tempos difíceis para quem torcida pela camisola encarnada.

Sua queixa partia da direção e chegava ao treinador: “Temos lá no Benfica um gajo que é igual ao vosso Luxemburgo, no Brasil. Arrogante, prepotente... Chama-se José Mourinho!”

Já tive a oportunidade profissional de estar com Mourinho, em Belo Horizonte, e não o julguei nada daquilo que meu tio dizia. Nada de arrogância. Profissionalismo era a palavra. Mas, no tempo do Benfica, tinha de se afirmar como treinador, num tempo em que se dizia ter sido tradutor de Bobby Robson.

Eu mesmo puder perguntar a Mourinho, pessoalmente:

“É verdade que fosse o intérprete de Bobby Robson?”

Respondeu-me: 

“Eu era o intérprete, porque era o único a falar o inglês, pá!”

Ops, não é que meu tio António tinha lá sua razão.

Mas a resposta de Mourinho não era prepotente. Dizer a verdade não é arrogância. Nem mesmo quando chegou em Inglaterra e disse ser “The Special One.” Era mesmo. Ou não seria especial alguém capaz de fazer o Porto eliminar o Manchester United, de Alex Ferguson, dentro do Teatro dos Sonhos e de ganhar a Champions League com um clube de Portugal, na era do futebol globalizado?

Mas no Benfica precisava impor-se num período de dificuldades para o clube, para os adeptos e também para os que lá trabalhavam. Resistiu onze jogos, só.

Razão pela qual chegou de volta à Luz, 25 anos depois, a dizer que nenhum clube lhe deu tanto orgulho. Não é preciso ser o mago de Setúbal para entender que a cidade natal de José tem mais adeptos do Benfica do que do Sporting ou do Porto.

Mesmo que tenha carinho pelo Belenenses, por que lá seu pai jogou, e porque lá também passou uma época, José pode ter gostado de ver o Vitória de Setúbal, mas o Benfica é mesmo um clube especial.

E José Mourinho volta à origem para tentar reconstruir-se e também ao clube mais popular de Portugal. Também para apagar aquela primeira passagem, do ano 2000.

José Mourinho traz-me memórias de meu tio, mas também do grande técnico que é. E de como pode pensar grande o futebol de Portugal. 

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