Opinião
Há muito que o Benfica inflectiu a sua estratégia no que diz respeito ao futebol fora das quatro linhas. Abandonou o confronto directo com os rivais e principais adversários e investiu na aproximação às zonas de influência com alguns cuidados, sem se expor em demasia. O Benfica está mais perto do centro de poder.
Ofutebol profissional precisa de um rumo. Não é de agora. É de sempre. A coexistência institucional com a FPF, mais do que necessária, é imperativa. Não vale a pena estar com sofismas. Um presidente da Liga, seja ele quem for, terá sempre a sua autonomia muito limitada. Aliás, o mandato de Mário Figueiredo, se não achou outras vantagens, foi claro em relação a essa matéria: nem regimes nem estatutos que apelavam ao reforço do poder do presidente da Liga e da sua iniciativa presidencial permitiram grandes avanços. Quem ousa tocar nos mecanismos sistémicos que estão na base daquilo que é, hoje, a realidade do futebol em Portugal, leva. Como se viu em relação à questão da (não) centralização dos direitos televisivos, que deixou muita gente à beira de um ataque de nervos. Não valem a pena nem romantismos nem aventureirismos.
Ofutebol tem uma base conservadora muito sólida. Isso tem aspectos positivos, mas em contrapartida não deixa a modalidade e o negócio adquirirem uma dimensão mais actual e moderna. Começa nas leis de jogo e acaba nos truques de ilusionismo em relação a quase tudo o que se relaciona com a indústria. Chegámos, no entanto, a um momento sem retorno – ao limite do ilusionismo. As Federações sobrevivem porque a FIFA e a UEFA assim o determinam, em defesa do negócio global. Não é preciso grandes conhecimentos de economia geral, na FPF, porque com o dinheiro injectado pela FIFA e pela UEFA basta evitar doses de loucura absolutamente anormais.
ALiga tem um espectro mais reduzido. A sua dependência é orgânica e não há mandato que resista à regra dominante, segundo a qual “os clubes mandam no presidente da Liga e o presidente da Liga não manda nos clubes”. Por isso, apesar da importância da Liga na agilização do funcionamento do futebol profissional (organização dos campeonatos, Taça da Liga, gestão da arbitragem, etc.), cujo sucesso está intimamente ligado à capacidade de seduzir os patrocinadores, o respectivo presidente tem pouco a aspirar para além de uma generosa remuneração, de algum tempo de antena (protagonismo) ou de uma “saída limpa”, a prazo, para a FPF, como, aliás, sucedeu com Fernando Gomes.
Não deixa de ser curioso, por isso, que – depois da bárbara tentativa de desalojar Mário Figueiredo da presidência da Liga, por ter posto em causa o princípio de abuso de posição dominante da PPTV/Olivedesportos – tenham sido vários os pré-candidatos interessados em ocupar um lugar-chave na Rua da Constituição, como são os casos de Paulo Carvalho, Carlos Marta, Rui Rangel, Paulo Teixeira e Rui Alves, que viram entretanto Fernando Seara antecipar-se e apresentar-se, oficialmente, como candidato, talvez o mais sério candidato a tornar-se na extensão óbvia desta FPF. Nesta eleição, mais do que os votos de Benfica, Sporting ou FC Porto, que são iguais, pesa aquilo que os clubes mais representativos do futebol português consigam fazer para influenciar o voto dos outros clubes.
Neste plano, não deixa de ser curiosa a posição do Benfica quando esteve em causa a sucessão de Gilberto Madail. Todos se lembrarão que Seara esteve para avançar, mas tinha de entregar (segundo as suas palavras) a cabeça de Luís Duque numa bandeja. O Benfica acabou por apoiar “incondicionalmente”, segundo o próprio Vieira, a candidatura de Fernando Gomes, depois de este ex-administrador FC Porto ter sido bastante simpático para os encarnados enquanto foi, “por momentos”, presidente da Liga. Nesse período, as “bolsas” de apoio ao FC Porto entabularam uma espécie de aproximação a Seara, pelo que, entre avanços e recuos, vai ser curioso verificar qual a posição do Benfica neste processo. Vai fazer como o FC Porto e ficar “a meio da ponte”?
Estamos a pouco mais de duas semanas das eleições e, mais uma vez, não se conhecem programas, mas apenas protagonistas. E não deixa de ser curioso verificar que o motivo pelo qual se verificou a excomunhão de Mário Figueiredo – a defesa acérrima da centralização dos direitos televisivos – é agora uma das reivindicações programáticas de Seara.
Ainda vamos assistir à compatibilização de interesses entre Joaquim Oliveira e Luís Filipe Vieira?...
JARDIM DAS ESTRELAS
Marca Marco (****)
Não tem o afã sportinguista de Leonardo Jardim, mas o afã também não deu para mais. Profissional é profissional e Marco Silva, nessa perspectiva, promete. Fez, até agora, um percurso interessantíssimo e, com pouco, beneficiando de uma boa organização na qual se enquadrou, valorizando-a, conseguiu muito, no Estoril. A relação com os jogadores foi um dos seus fortes e o discurso, suficientemente seguro, também concorre a favor. Era a hora de um novo desafio. E o desafio surgiu, criando já uma grande responsabilidade quando aceitou colar-se ao ambicioso discurso presidencial. É uma etapa que lhe vai exigir bastante. A realidade mudou. Mais pressão e um balneário com outras características. Marco vai marcar em Alvalade ou aceitou, de caras, um presente envenenado?
O CACTO
Pé-coxinho
O “JN” apresentava ontem um trabalho interessante em que quantificava – entre os convocados de Paulo Bento – o tempo de inactividade de alguns jogadores durante a época. O seleccionador nacional preferiu o critério do “espírito de grupo” ao do rendimento desportivo. Tem vantagens e desvantagens. A vantagem de muito provavelmente não haver “casos e casos”. A desvantagem (teórica) de não haver condições para grandes primores físicos. Um Mundial desaconselha uma equipa ao pé-coxinho – a Selecção do pé-coxinho.