Clube do Bolinha já era

Faça o exercício comigo: lembra-se de cor do nome de todos os 23 convocados de Fernando Santos para o Euro’2016? Com sorte, e sem precisar sequer de puxar muito pela cabeça, tem na ponta da língua o onze titular da final contra a França. Agora pense mais um bocadinho: quantos nomes da convocatória de Francisco Neto para o Europeu feminino de futebol, que arranca hoje na Holanda, o(a) leitor(a) conhece? E quantos jogos da Liga Allianz viu esta época?

Não se envergonhe da resposta porque, infelizmente, não estará sozinho. Nas vésperas de a Seleção feminina de futebol fazer história ao estrear-se naquela competição (o primeiro jogo é na quarta-feira frente à Espanha), e em plena era da (ainda utópica?) igualdade de géneros, continua a ser ingrato ter de abordar o quase paralelo universo do futebol masculino e feminino.

Embora muito se tenha feito nos últimos anos para promover o futebol feminino, não só ao nível amador como profissional, é inegável que o modelo da Liga feminina Allianz da época passada trouxe aos escaparates uma nova realidade: o aumento da competitividade do campeonato, a par de um crescimento substancial no número de praticantes, augura um futuro risonho, que pode começar já a dar frutos ‘visíveis’ neste Europeu.

Mas os números continuam a ser masculinos. Em março último, a FPF anunciava um recorde absoluto total de 4.062 jogadoras de futebol de 11 inscritas, um crescimento de 33% face ao ano passado; do lado ‘deles’, um residual aumento de 4,5%, com 139.367 (!) praticantes.

O investimento nem sempre aparece, muitas vezes nem dinheiro para equipamentos existe; as (boas) notícias também não. Em pleno mercado de transferências, os milhões que se movimentam são uma realidade absolutamente diferente entre o mundo deles e o delas. O crescimento sustentado, ainda que numa realidade bem distante daquela que se vive no resto do Velho Continente ou nos Estados Unidos, tem ainda largos passos pela frente. Fale-se de uma questão mais cultural do que discriminatória, de um futebol que foi passando de geração em geração como um assunto de homens, facto é que hoje em dia os pais começam cada vez mais (e mais cedo) a encaminhar as filhas para o futebol. As mentalidades vão mudando e, inevitavelmente, o investimento terá de seguir o mesmo caminho.

O ‘menina não entra’ que líamos nas tiras de BD da Luluzinha pela boca do ‘mítico’ Bolinha e do seu clube de rapazes já ficou para trás nos mais variados sectores. O futebol feminino não é exceção e temos um cartão de visita de excelência para apresentar na Holanda. Portugal terá uma palavra a dizer nesta estreia europeia e, a 6 de agosto, data da final do Europeu, é garantido que vai saber responder às perguntas que fiz lá atrás na ponta da língua.

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