Opinião
A Liga deste ano, apesar do hino estar gravado, dos estádios estarem cheios e pintados de vermelho e do Benfica estar a fazer tudo bem feito (e tudo é tudo), vai jogar-se até ao fim. O FC Porto não desarma. Isso é bom para a competição, já de si tão fraca e pouco interessante em geral, pois, ao menos no topo, não lhe tem faltado emoção, golos, luta coletiva, batalhas individuais e até um certo burburinho - admitamos exagerado e um tudo nada mal educado -, que faz parte do quadro geral. É nesta última vertente que devemos integrar o manto protetor que Julen Lopetegui garantiu que cobria Jorge Jesus (e não haveria uma alma jornalística na sala de imprensa que perguntasse o óbvio - estamos a falar de arbitragens?), assim como nesta guerra de palavras já estava a troca de nomes que afinal não tinha sido involuntária, como o treinador do Benfica explicou, com aquele ar de eterno miúdo da rua mesmo com rugas, uns dias antes.
É assim o futebol e a verbalização do conflito, que os teóricos rebaptizaram como "mind games", também integra o jogo, estimula os adeptos, alimenta programas de televisão e páginas de jornais. É a espuma dos dias.
Mas, se quisermos analisar para lá dessa espuma dos dias, estamos, de facto, num momento de iminente concretização de mudança de ciclo no futebol em Portugal, uma mudança que tendo sido ambicionada por Luís Filipe Vieira há mais de uma década levou tempo a concretizar, teve forte e sustentada oposição do FC Porto e erros de palmatória do próprio Benfica. O bicampeonato que agora está à porta, e que simbolicamente significará a transferência (veremos se efetiva) do domínio do Porto para Lisboa, só não aconteceu antes porque o Benfica geriu mal a vantagem obtida pelo menos em duas épocas, em que já era melhor e mais poderoso do estrito ponto de visto do futebol jogado. Faltava o resto e o resto não é pouco. Foi isso que Jorge Jesus, numa prova de que nunca é tarde para aprender, compreendeu e que esta época - com dois jogos pela frente - só por milagre não o levará ao título.
O passo seguinte é o mais importante porque não chega ganhar, é preciso ganhar de forma continuada. As ideias chave de Luís Filipe Vieira sobre o Benfica e o futebol do Benfica são conhecidas, mas quando o presidente quebrar o silêncio, dentro de 15 dias, há muitas perguntas que precisam de resposta. É o momento em que Vieira vai clarificar a situação do treinador, da utilização de atletas da formação, do trabalho do "scouting" do clube, da maneira como está a ser gerida a elevada dívida. Luís Filipe Vieira tem jogado bem neste tabuleiro mas não está sozinho. No futebol, como na vida, mais difícil que chegar ao topo é permanecer lá.
Um jogo que vale uma época
O jogo de amanhã no mítico Estádio Santiago Bernabéu é a antecâmera para o Real Madrid salvar a época ou, pelo contrário, fechar um ano frustrante. O empate caseiro contra o Valencia numa tarde maldita - três bolas no ferro e um penálti falhado por Cristiano Ronaldo - afastaram o Madrid da vitória na Liga pelo terceiro ano consecutivo. Pior: nas últimas sete épocas a equipa só ganhou um campeonato, o que, se tivermos em conta o investimento feito é um retorno desportivo deplorável e que questiona, de novo, as opções de gestão de Florentino Pérez. O Real Madrid, como o Barcelona ou o Manchester United, são clubes globais com adeptos de facto em todo o mundo, uma tendência que se acentuou na era das redes sociais e da comunicação instantânea. Ora, esse facto maximimizou o negócio e, desse ponto de vista, não há queixas. Só que os adeptos de todos os dias, os que vão religiosamente a Chamartin, querem vitórias e títulos. O Real tem que ultrapassar a dificílima Juventus e jogar a época na final da Champions.
"Beautiful game"
Os adeptos do Chelsea, de pé, aplaudindo Steven Gerard - o histórico capitão do Liverpool que se prepara para abandonar o seu clube de sempre e fechar a carreira na América - são uma bela ilustração do futebol inglês. Gerard, quase a chegar aos 35 anos, fez todo o seu percurso com a camisola vermelha do Liverpool, foi um dos melhores jogadores da sua geração e - sabe-se agora - em nome desse raro amor à camisola recusou vários convites para mudar. Podia ter jogado em Espanha ou em Itália, podia ter trocado Liverpool por Londres vestindo a camisola do Chelsea. Tera tido três convites deste último clube e, sim, lamenta, não ter trabalhado com José Mourinho, mas o coração falou sempre mais alto.
Destino: Manchester?
Pep Guardiola vai cumprir o contrato com o Bayern Munique ou vai aterrar na próxima época em Inglaterra para dirigir o milionário Manchester City? Os dados apontam para a manutenção do treinador catalão na Baviera, mas a especulação começou. Guardiola não está isento de erros na planificação da época do Bayern - a quem está a acontecer este ano algo muito parecido com o que sucedeu na época passada -, mas, mais inquietante e muitas vezes sem razão de ser, é a constante crítica a que está a ser sujeito pelos barões do clube, como Franz Beckenbauer ou agora Lothar Matthäus. Mesmo sendo o City um clube especial (e um pouco artificial) - logo, mais exigente com os resultados - Pep será mais feliz em Inglaterra. Os alemães, em geral, não estimam o sucesso dos outros.