Prejuízo de 4,2 milhões de euros, é este o resultado financeiro apresentado pela Sporting SAD nos primeiros três meses de 2020/2021. Num período tradicionalmente caracterizado por lucros, esta foi a quarta ocasião, em mais de 20 anos de atividade da SAD, que se apresentaram prejuízos nos primeiros três meses, sendo também o segundo pior resultado de sempre (só ultrapassado pelos 7,2 milhões de euros de prejuízos do Eng. Godinho Lopes em 2011).
Com Frederico Varandas desaparecido no combate à Covid-19, o vice-presidente Francisco Salgado Zenha deu voz, e não a cara, por estes números em declarações à Antena 1. O administrador da Sporting SAD diz que "seria difícil não termos resultados negativos face àquilo que é o contexto atual, no meio de uma pandemia com impacto dramático nas linhas de receitas". Por "linhas de receitas", Salgado Zenha refere-se em particular às receitas oriundas do "consumidor Sportinguista", nomeadamente, as receitas de merchandising e de bilheteira.
Relativamente à bilheteira, recordo que, na época passada, a Sporting SAD cobrou no primeiro trimestre cerca de 3,9 milhões de euros nessa rúbrica, valor que se fosse transposto para esta época também não chegaria para cobrir os prejuízos verificados. Salgado Zenha também não disse que este primeiro trimestre contou com uma contabilização superior de direitos televisivos ao período homólogo em cerca de 4,5 milhões de euros.
A forma como Salgado Zenha designa os Sportinguistas, "consumidores", é exemplificativa da distância insanável que existe entre os sócios e esta administração, que se propôs a "unir o Sporting". Como é sabido, durante os últimos meses tenho sido uma voz muito ativa na luta pelo regresso dos adeptos aos estádios de futebol. Uma luta pela qual não vi, nem vejo, o Sporting CP e os seus responsáveis a dar a cara. É por isso com estupefação que vejo a administração da SAD queixar-se de algo pelo qual não fez, nem faz, o mínimo esforço, ao contrário, por exemplo da administração do FC Porto.
Por falar em FC Porto, esta semana ficou a saber-se que os azuis e brancos faturaram cerca de 60 milhões de euros só em prémios de participação na Liga dos Campeões. O Sporting, por seu turno, faturou apenas um milhão (!) de euros na Europa - após o desonroso 4º lugar no campeonato e a eliminação no play-off de acesso à fase de grupos da Liga Europa contra uma equipa cujo nome nem me recordo.
Mas analisemos os números ainda mais em detalhe. No que diz respeito a fornecedores, a Sporting SAD deve uns inacreditáveis 64,6 milhões de euros só a curto prazo (agravamento de 20,5 milhões de euros face ao deixado pela administração anterior). Esta é a maior dívida a fornecedores da história da Sporting SAD. Decompondo este valor, confirmo que 30,2 milhões de euros se referem a dívidas a clubes (agravamento de 3,5 milhões de euros face à anterior administração) e 27,8 milhões de euros a agentes de jogadores (agravamento de 10,4 milhões de euros face à administração anterior). Em ambos os itens, também se regista atualmente a maior dívida de sempre. Do lado dos montantes a receber de clientes existem 11,9 milhões de euros no curto prazo. Isto significa que existe uma diferença negativa de 52,6 milhões de euros entre os montantes a receber de clientes e os montantes a liquidar a fornecedores. Será isto um all-in? Mas continuemos.
- A administração de Frederico Varandas tem uma dívida financeira de 129 milhões de euros (agravamento de 17,8 milhões de euros face à administração anterior);
- A atual administração teve 63,4 milhões de receitas antecipadas (agravamento de 14M€ milhões de euros face à administração anterior);
- Os juros praticamente duplicaram com a administração de Frederico Varandas;
- O passivo atual situa-se nos 298,2 milhões de euros (agravamento de 15,7 milhões de euros face à administração anterior);
A degradação da situação financeira da Sporting SAD é uma evidência e a situação merece
máxima atenção por parte dos Sportinguistas, até porque, do meu ponto de vista, não é só uma questão financeira que está em causa.
O futuro da Sporting SAD é particularmente preocupante se analisarmos com critério o que está a ser feito. Verifiquem que a administração de Frederico Varandas conseguiu piorar todos os grandes indicadores, mesmo tendo recorrido à venda/acordo rescisão de praticamente todos os grandes ativos da sociedade, que representaram um volume total de mais de 180 milhões de euros. Jogadores vendidos como Bruno Fernandes, Bas Dost, Raphinha, Matheus Pereira ou Acuña, mas também os acordos de rescisão obtidos posteriormente como William Carvalho, Rui Patrício ou Gelson Martins.
A Sporting SAD nunca vendeu tantos jogadores como nestes dois anos e, mesmo assim, esta administração conseguiu piorar em termos financeiros e desportivos.
Não basta Salgado Zenha falar na rádio. É preciso saber-se ao certo qual o paradeiro destes milhões desaparecidos. É nesta busca que os Sportinguistas também devem estar unidos.