Opinião
A POUCAS jornadas do final, o campeonato da II Liga foi esta semana agitado pela polémica entre o treinador do Felgueiras, Jorge Castelo, e os responsáveis do Santa Clara. No cerne desta polémica estão as palavras de Castelo no final do jogo de domingo entre as duas equipas em S. Miguel. O treinador do Felgueiras criticou a política de subsídios aos clubes desportivos que tem sido adoptada pelo Governo açoriano, o que motivou imediatas reacções, logo no momento, e dois dias depois uma conferência de Imprensa e comunicado por parte da Direcção do Santa Clara, a que se seguiu, volvidos outros dois dias, nova conferência de Imprensa, desta vez por parte de Castelo, com o apoio da Direcção do Felgueiras.
A polémica, centrada nos subsídios do Governo açoriano, não é nova: mesmo no arquipélago, ela já existiu, nomeadamente a partir de contestações dos dirigentes do Lusitânia, da Terceira, que não se coibiram, enquanto viam a sua equipa de futebol descer aos Distritais, de lamentar a diferença de privilégios para com o rival de S. Miguel. Por isso, Jorge Castelo, que abordou o assunto no final de um jogo onde a sua equipa fora derrotada pela margem mínima, e no qual se queixava da arbitragem, tocou num tema muito sensível entre os açorianos, que tem motivado grandes discussões nos últimos dois/três anos, aqueles em que o Santa Clara subiu ao primeiro plano do futebol português e se tornou no principal representante do desporto do arquipélago.
Castelo, com um percurso interessante no mundo do futebol - desde as funções de preparador físico no Benfica às de treinador principal no Felgueiras, partindo de uma formação académica que dá outra dimensão às suas palavras -, ficou de alguma forma metido entre dois fogos, dado a rivalidade entre ilhas do mesmo arquipélago, mas teve o condão de trazer para o território continental uma questão que era, até aqui, sobretudo insular. Aliás, não faltou, de entre os açorianos, quem questionasse Castelo sobre os subsídios que o Felgueiras recebia da respectiva Câmara Municipal.
Efectivamente, quem, nesta área, pode atirar pedras ao telhado do vizinho? Actualmente, o envolvimento das autarquias na sobrevivência das equipas profissionais de futebol chega a ser chocante. Também esta semana, o presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Mata Cáceres, explicou, em palavras claras, que se não fosse a Câmara talvez o clube, um dos históricos do País, já não existisse. Parece-me, assim, que persiste alguma confusão, entre os nossos responsáveis políticos, sobre o que deveria ser a sua função nesta área: os apoios aos clubes são importantes na medida em que devem possibilitar a prática desportiva a todos os cidadãos. Mas uma autarquia, ou um Governo Regional, não tem que financiar uma equipa de futebol profissional. Um clube que opta por essa via deve conseguir criar condições para isso, não estando dependente dos dinheiros públicos. Sinceramente, estes deveriam ter outros usos.