Opinião

Henrique Calisto
Henrique Calisto Presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF)

Quando se fala de treinadores

Quando se fala de treinadores, é comum pensar nos grandes nomes que enchem estádios e conquistam títulos. No entanto, a relevância social dos treinadores ultrapassa o futebol profissional: estende-se desde a formação até à elite internacional.

Nos escalões jovens, os treinadores são muitas vezes a primeira figura de liderança fora do ambiente familiar e escolar, transmitindo valores fundamentais como disciplina, respeito, cooperação, e capacidade de superação. Mais do que ensinar a chutar uma bola, ensinam a lidar com vitórias e derrotas, a trabalhar em equipa e a sonhar. Cada treino e cada jogo tornam-se lições de vida, moldando não apenas futuros jogadores, mas sobretudo cidadãos responsáveis. 

No futebol amador, os treinadores desempenham um papel essencial na coesão social. Abrem portas a jovens de diferentes origens sociais, promovendo igualdade de oportunidades, integração e sentido de pertença. Muitos rapazes e raparigas encontram no futebol não só um desporto, mas um caminho de amizade, segurança e esperança, afastando-os de caminhos de risco. O treinador é, assim, um mediador social e um exemplo de proximidade.

Ao mais alto nível, os treinadores não só orientam equipas, são modelos de liderança, estratégia e superação, são também gestores de pessoas, capazes de lidar com pressões mediáticas e de manter grupos unidos em ambientes competitivos.

No contexto do futebol português - marcado por orçamentos limitados, grande pressão mediática e exigência de resultados imediatos - os treinadores são obrigados a ser criativos, resilientes e estrategicamente versáteis. São qualidades que não passam despercebidas a clubes estrangeiros, que procuram nos técnicos portugueses uma forma de maximizar os seus recursos com inteligência e eficácia.

Mas, se no estrangeiro os nossos treinadores são cada vez mais valorizados, dentro de portas nem sempre recebem o reconhecimento que merecem. A critica fácil, a exigência desmedida e a constante instabilidade de projetos desportivos, levam a que muitos técnicos portugueses enfrentem carreiras instáveis, com despedimentos prematuros e falta de condições para implementar ideias de forma sustentada.

É necessário pois, um olhar mais justo e ponderado sobre o papel dos treinadores em Portugal. São eles os responsáveis por moldar talentos, por criar identidades de jogo, por desenvolver estruturas competitivas, mesmo em contextos difíceis. Sem bons treinadores, não há bom futebol. E Portugal tem, felizmente, muitos, que em contexto internacional são EMBAIXADORES DE PORTUGAL.

Os treinadores portugueses espalhados pelo mundo (400), são mais do que técnicos de futebol: são embaixadores culturais. Levam consigo a língua, os valores e a criatividade de um país pequeno, mas que ensina o mundo a pensar o jogo de forma inovadora. São símbolos de competência, trabalho e conhecimento.

Valorizar os treinadores nacionais é valorizar o futuro do futebol português. É reconhecer que, por trás de cada vitória, de cada jogador em ascensão e de cada clube que se supera, há sempre uma mente que planeia, decide e lidera. E isso merece respeito e orgulho.

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