Opinião
Os clubes da Liga reúnem-se anualmente para aprovarem modificações aos três regulamentos que regem a organização dos campeonatos profissionais. Está na natureza dessas assembleias um objetivo simples: adequar as regulamentações às vicissitudes e às necessidades surgidas no decurso de cada uma das épocas, a fim de estabelecer novos regimes, sanar dúvidas, dissipar contradições e criar novos instrumentos para o exercício funcional dos órgãos.
Por vezes, acresce ainda a necessidade de conformar as "normas setoriais" da Liga às alterações legais e/ou rasgar novos trilhos de "autorregulação". Esta época, como em algumas outras no passado (com origem em 2007 na gestão de Hermínio Loureiro), o trabalho preliminar de reflexão e elaboração dessas modificações foi entregue ao "grupo" respeitante a uma "comissão permanente das competições", capaz de apresentar na reunião magna dos clubes um trabalho concertado e coerente. Embora peque por se reduzir hermeticamente aos representantes dos clubes, institucionalizar esse método foi uma boa providência.
Assim, é natural que, no que toca à regulação das provas, surja como normal a intervenção na polémica questão dos "emprestados". O ruído ao longo das últimas épocas – desde logo em termos de consequências disciplinares – foi excessivo e não trouxe nada de positivo à integridade dos campeonatos. Fossem qual fossem as proibições e as regras a introduzir, tudo sempre seria melhor do que o "pântano" de suspeições que a matéria suscita – nas relações que se estabelecem entre os clubes na hora de "emprestar" ou na composição (ou não) das equipas com os jogadores cedidos. A opção foi (i) limitar o número de "emprestados" ao mesmo clube na mesma competição e (ii) proibir a utilização desses jogadores nos jogos com os clubes que cedem, com os consequentes ilícitos e o aumento do máximo de jogadores inscritos. Ficar claro é vantagem, mesmo que não se goste.
Noutro vetor sensível, é ainda natural que se queira mudar o sistema de designação dos árbitros. Foi uma época de muita contestação nesse domínio, aliada à perceção de desarmonia no funcionamento do Conselho de Arbitragem. Passar de nomeação sujeita a critérios para sorteio (mesmo que condicionado), se se confirmar e se se sujeitar ao crivo da assembleia geral da Federação, é um salto no escuro e o primeiro grande teste da relação entre Luís Duque/Liga e Fernando Gomes/FPF. Alterar aqui tem riscos. E a erosão entre Liga e FPF – a acompanhar – é um deles.