Opinião

SANDRA SIMÕES: Lutar contra a maré

O CONSELHO Superior do Desporto (CSD) vai ter a partir de Março, de acordo com um projecto de decreto-lei em estudo, mais membros mas a disparidade entre o número de homens e mulheres continuará a ser desconcertante. Actualmente o CSD é constituído por 22 (presidente, 15 representantes de diversas instituições, como o Instituto Nacional do Desporto ou o Comité Olímpico de Portugal, e seis personalidades designadas pelo Governo). O saldo é francamente negativo: 21-1. O único elemento do sexo feminino é Dora Gomes.

Nascida em 1971, Dora é seis vezes campeã nacional de bodyboard, destacando-se ainda pelos resultados que consegue a nível internacional. Entre outros títulos sagra-se vice-campeã europeia em 1994, campeã do circuito europeu 1995 e campeã do Mundo nos World Surfing Games, em 1998. O Governo viu nela "reconhecido mérito", à semelhança do que fez com Eduardo Araújo, Moniz Pereira, João Paulo Bessa, Armando Alves e Olímpio Bento.

O projecto de decreto-lei, discutido na reunião da última terça-feira do CSD, prevê a entrada de conselheiros de outras entidades corporativas da área desportiva, um dos quais deverá ser da Associação Portuguesa a Mulher e o Desporto, conforme indicação do Conselho Consultivo da Comissão para a Igualdade e Direito das Mulheres. O novo CSD terá, em princípio, 32 elementos, não diminuindo em nada a diferença entre o número de elementos do sexo masculino e feminino.

"Nas Federações e, inclusivamente, na Confederação e no Comité Olímpico de Portugal (COP) as mulheres não abundam. Por razões cada vez menos compreensíveis, estão afastadas destes órgãos de decisão. Na Comissão Executiva do CO não existe nenhuma. Ainda tentei que uma senhora integrasse a minha lista, mas ela estava do lado oposto", diz Vicente de Moura, presidente do CSD e do COP. Vicente de Moura considera que "é preciso fomentar a participação das mulheres nas bases", mas que também "é necessário que estas se disponibilizem, integrando os clubes, associações, federações e assim por diante".

A socióloga Cristina Almeida está a ultimar um estudo relativamente à existência das mulheres nos órgãos sociais das federações nacionais em 1999. Enviou um questionário, pedindo-lhes para indicarem os nomes e respectivos cargos. Responderam 40 entidades federativas. Cerca de metade, portanto. Só foram indicadas dez: Maria de Fátima Oliveira (presidente da Mesa da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Natação), Maria Santos (presidente do Conselho de Disciplina da Federação Nacional de Karate), Olga Rouco (presidente do Conselho Jurisdicional da Federação de Orientação), Maria da Glória Ribeiro (presidente do Conselho Disciplinar da Federação de Orientação), Ana Isabel Pires (presidente do Conselho de Arbitragem da Federação de Trampolins e Desportos Acrobáticos), Helena Maria Noronha (presidente do Conselho de Arbitragem da Federação de Arqueiros e Besteiros), Anabela Varela (presidente do Conselho de Disciplina da Federação de Atletismo), Catarina Miranda (presidente do Conselho de Arbitragem da Federação de Corfebol), Cristina Pereira (presidente do Conselho Juridiscional da Federação de Corfebol) e Cristina Alves (presidente do Conselho de Disciplina da Federação de Jet Sky). A amostra não é totalmente representativa por se desconhecer o que se passa nas federações que não enviaram o formulário, mas as indicações não devem andar longe destas.

HONRAR FRAZIER FRENTE A LAILA

Um estudo publicado no último número da revista médica "The Physician and Sportsmedicine" mostra que sempre que um pugilista apanha um murro na cabeça, o cérebro desloca-se dentro da caixa craniana, com riscos de lesões. Nem as protecções da cabeça podem impedir esse processo. As conclusões de Barry D. Jordan, do Hospital de Burke, em White Plains, estado de Nova Iorque, não atormentam Jacqueline Frazier-Lyde. Aos 38 anos, esta advogada, com três filhos, tem estreia marcada nos ringues para 6 de Fevereiro. Frente a quem? Nada mais, nada menos do que Laila Ali, filha de Mohamed Ali. Mas não é só Laila que tem um nome a honrar. Jacqueline é filha de Joe Frazier.

IR LONGE COM UM PAI DESTES?

Jelena Dokic, 16 anos, é a grande esperança do ténis feminino australiano. Ganhou o título júnior no Open dos EUA em 1998, conseguiu duas vitórias na selecção e na Taça Hopman (onde derrotou Arantxa Sanchez Vicario, Sandrine Testud e Asa Carlsson) e acabou a época passada em 39º lugar WTA. No recente Open da Austrália foi eliminada pela húngara Rita Kuti Kis (86ª), tornando-se alvo dos meios de Comunicação Social australianos por má conduta familiar. Compareceu na conferência de imprensa quatro horas depois alegando ter ido rezar a uma igreja e declarou que Kutis Kis "nunca foi uma jogadora nem nunca o será". Provocou também a ira das adversárias ao acusar os responsáveis do ténis feminino de manipularem os sorteios. Quem está por trás deste comportamento? O seu pai, Damir Dokic, que estragou o microfone de uma câmara e depois ofereceu 500 dólares ao operador pela cassete, onde era visto com a filha à saída do hotel.

Damir não é novato em maus exemplos. Em 1999 foi preso em Birmingham por desordem pública e excesso de álcool. Minutos após a expulsão da filha do "court", motivada por insultos a um juiz de linha e outros espectadores, deitou-se no meio da rua impedindo o trânsito.

PRIMEIRA EQUIPA NOS DOIS PÓLOS

Caroline Hamilton, produtora cinematográfica. esteve a semana passada no centro das atenções. A londrina, de 35 anos, liderou a primeira equipa feminina do Mundo que conseguiu chegar aos dois pólos. Três anos depois de ter dirigido uma equipa de 20 mulheres que atingiram o Pólo Norte, esteve agora acompanhada por Zoe Hudson, fisioterapeuta de 32 anos, Pom Oliver, agente imobiliária de 46, Rosie Stancer, escrita de 38 anos e sobrinha neta da rainha-mãe de Inglaterra, e Ann Daniels, de 32. Concluíram a expedição segunda-feira cerca das seis horas tmg (mesmo hora em Lisboa), após percorrerem mais de 1100 quilómetros desde 24 de Novembro.

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