Jogo está hoje nos nossos telemóveis
Esta é uma semana especial no Retrogaming. Além de apresentarmos, como normalmente, um jogo que fez as delícias de muito boa gente há uns bons anos, falámos igualmente com o seu criador. O nome André Elias diz-vos alguma coisa? Depois de apresentarmos o pai, vamos ao filho: Elifoot.
Todos os anos a espera pelo mais recente FM é longa e há quem corra a experimentá-lo no dia de lançamento. Os mais novos não se lembrarão, mas quem começou nestas lides há mais tempo sabe que todas aquelas inovações tiveram um passado, ou melhor, um antepassado que abriu portas a praticamente tudo o que conhecemos nos simuladores de treinador de futebol dos dias de hoje.
Elifoot foi esse antepassado. A marca completa este ano 30 primaveras de existência e ainda está aí para contar a sua já longa história. Vamos mergulhar nela!
Foi em 1987 que André Elias lançou o primeiro Elifoot. O jogo fora programado para o ZX Spectrum e tinha quatro divisões, sendo possível adicionar até oito treinadores humanos – a primeira vez que um jogo arriscava tal feito.
"O Elifoot é o mais famoso jogo português", começa por dizer, orgulhoso, André Elias, ao Record Gaming.
"Isto começa em 87, tinha eu 17 anos, estava no 12.º ano. Já sabia programar, programava para Spectrum. Comecei a programar com 12 anos, em BASIC. Fiz um jogo com 16 equipas, umas quantas controladas pelo computador e até oito que eram controladas por treinadores humanos, à volta de um computador. A essência foi fazer um jogo que não existisse e para eu próprio jogar".
Estava lançada a pedra para a grande obra. André Elias foi pintando – literalmente – o quadro de Elifoot. Assim, o jogo abandonou a versão a preto e branco em 1992, com Elifoot II. Apenas dois anos mais tarde, o título chegava ao Windows, um passo marcante no projeto, numa espécie de protótipo para aquela que foi, provavelmente, a versão com mais sucesso do jogo até hoje: Elifoot 98. Mas, até lá, a história foi longa.
Hoje andamos nas nuvens, depois de passarmos pelos CD’s e pelas pen’s, mas lembram-se do que havia antes? "O jogo começou a popularizar-se. Havia disquetes, normalmente de 5’’1/4 – as de 3’’1/2 começavam a aparecer. Estamos a falar de 1990, 1991. Os meus amigos iam a minha casa jogar, e um dia, um pediu-me se não lhe podia passar uma disquete. Depois disse que a tinha dado a um amigo que estava na Escola Náutica. Passado uma semana foi lá e já toda a gente estava a jogar. No fundo, o Elifoot tornou-se viral antes de o termo ‘viral’ ter sido inventado".
André Elias acabou por entrar no mercado de trabalho e a verdade é que Elifoot perdeu gás, devido à falta de tempo. Mas, sem André saber, do outro lado do Atlântico o jogo proliferava.
"Em 96, quando tive contacto com a internet, no sítio onde trabalhava como consultor industrial, ao procurar no motor de busca Altavista - não sabia ainda muito bem o que procurar na internet – escrevi Elifoot e saltam-me centenas de páginas brasileiras! Não fazia a mínima ideia do impacto brutal que o jogo tinha tido no Brasil! Isso aconteceu porque era um jogo em português, as equipas eram facilmente editáveis e eles punham as equipas deles. Aí começa a fase comercial do Elifoot, que arranca com a versão 98. O projeto chegou a chamar-se 97, mas não o lancei nesse ano. Foi o primeiro jogo pago do Elifoot".
E aqui sim, entramos no Retrogaming de hoje. Têm a minha palavra: Elifoot 98 é um jogo que não passa de moda. Pura e simplesmente não se torna aborrecido! E o tédio não aparece porque o jogo foi pensado… sem pensar nisso! A simplicidade com que víamos uma plataforma colorida, baseada em texto – sim, Elifoot 98 não tinha imagens – fazia com que nos focássemos tanto nos objetivos que nem víamos as horas passar.
Por entre jogos do campeonato e da Taça de Portugal – era um dos muitos países disponíveis – a preocupação com as finanças ocupava grande parte do nosso cérebro. A lotação do estádio podia aumentar, mas queríamos mesmo meter-nos num empréstimo com juros altos?
À medida que as épocas iam decorrendo, íamos conhecendo melhor a panóplia de jogadores que brilharam em Portugal nos anos 90. Notávamos que os jogadores que tinham um asterisco (por exemplo Bruno Gimenez*) marcavam mais golos e aprendíamos que a classificação comportamental dos atletas era mais importante do que pensávamos. Os jogadores estavam distribuídos por categorias: sarrafeiro (mais propício a cartões vermelhos e, portanto, mais barato), caceteiro, caneleiro, cavalheiro, cordeirinho e fair play (menos propício a cartões vermelhos, mas mais caro).
"Os brasileiros acharam muita piada a estes nomes que usamos por cá", confessa André.
Havia prémios monetários para o vencedor da I Divisão, vencedor da Taça e melhor marcador de todos os campeonatos. Podíamos usar o dinheiro para renovar contratos antes de terminar a temporada, caso contrário os jogadores iam fazer-nos um ultimato: ou pagávamos bem ou saíam imediatamente em leilão, que nos rendia apenas uns trocos. A vida é injusta, não é?
Os 90 minutos
Com várias velocidades à escolha, os ‘90 minutos’ no Elifoot 98 faziam mal ao coração. É que alternávamos o
olhar entre o nosso jogo e o relógio, à espera que surgisse um som (um vulgar som do Windows) e o nome do nosso marcador.
Era possível fazer substituições (também as havia forçadas) e ver todos os resultados das quatro divisões ao mesmo tempo. Uma espécie de ‘livescore’ em formato arco-íris que nos hipnotizava. Agora imaginem isto multiplicado pelo número dos vossos amigos, todos à volta de um PC. Uma receita de sucesso, tanto que os hackers olharam de imediato para ela.
E mesmo 11 anos depois de nascer, Elifoot continuava a ser ímpar.
"Era o único multijogador que havia. Não havia um conceito de jogos online como há hoje. Não havia telemóveis com ligação à internet. As pessoas jogavam todas em cima do computador, várias, ao mesmo tempo. E gostavam disso. E o jogo já se conseguia espalhar porque já se podia mandar por email".
O futuro à boleia de… avião
Pois bem, hoje não será à volta de um computador mas sim de um smartphone que os jogadores de Elifoot de reúnem. As primeiras versões mobile saíram em 2012, mas Elifoot continuam apostado em recordar o que de melhor fez e, assim, a versão 98 ainda vive nos nossos bolsos. Claro que o jogo não está hoje sozinho.
"Entretanto surgiram outros jogos, grandes jogos. Alguns deles, diz-se, inspiraram-se no Elifoot. Não tenho dúvidas".
Revelando que está a trabalhar na próxima versão, André Elias explicou, em tom de brincadeira, que o jogo tem sido desenvolvido um pouco por todo o Mundo, já que André… é piloto de aviação: "O Elifoot já teve ‘escritórios’ desde a Papua Nova Guiné até São Francisco".
E, 30 anos depois, o criador ainda joga?
"Jogo sim, mas tenho amigos que jogam melhor do que eu. Isto é como se eu inventasse o xadrez, mas depois houvesse jogadores melhores", brinca.
E como bem aprendemos nestes tempos que vivemos, quando é para pedir, é para pedir a sério: "Elifoot até quando? Espero, no mínimo, mais 30 anos".
Cheikh Touré, de 18 anos, foi encontrado morto no Gana, depois de ter sido convencido de que iria fazer testes numa equipa profissional
Informação foi divulgada pelo FC Rebellen, clube composto por ex-jogadores onde o holandês atua
Antigo futebolista holandês cedeu a sua casa em Liverpool ao compatriota, em 2011
Antigo futebolista inglês luta há vários contra o vício do álcool