Kipchoge: «Quebrar a barreira das duas horas na maratona será como chegar à Lua»

Atleta queniano compara feitos e assegura que quer ficar na história

A cerca de dois meses da realização do INEOS 1:59 Challenge, um desafio no qual irá tentar quebrar a barreira das duas horas na maratona (a realizar-se entre 12 a 20 de outubro na cidade austríaca de Viena), Eliud Kipchoge concedeu esta quarta-feira uma derradeira entrevista antes de entrar na sua derradeira fase de preparação, numa conversa telefónica efetuada com vários jornalistas de todo o Mundo a partir de Kaptagat, no Quénia, na qual Record foi o único jornal português representado.

Assumindo estar "muito entusiasmado por esse dia histórico", o atleta queniano referiu que a sua preparação pouco mudou em relação ao que tem feito habitualmente. "O treino é o mesmo, pois basicamente apenas introduzi algum trabalho de força adicional, mas o que mudou essencialmente foi a preparação mental. Sinto-me com a mente livre, estou pronto para isto. Estou a desfrutar muito desta experiência", assumiu.

Uma preparação mental que, segundo o atleta queniano, passa pela crença naquilo que tem em mãos. "O meu treino nesse particular é simples. Acredito no meu sistema de treino, acredito na minha equipa e é isso que me mantém forte mentalmente. Não posso enganar-me se quero ser bem sucedido", explicou, em resposta a uma questão de Record.

Campeão olímpico e mundial, para lá de ter no seu currículo oito Major Marathons e ser também o detentor da melhor marca da história (2:01:39 horas, conseguida em Berlim, no ano passado), Kipchoge assume que nada do que já conquistou se aproxima daquilo que tentará atingir em Viena. "É mais importante. Isto é sobre fazer história e deixar uma marca no desporto. É como quando o homem pisou a lua pela primeira vez. Serei o primeiro homem a correr abaixo das duas horas. É crucial. É sobre história, sobre deixar um legado, de inspirar pessoas. Não é sobre ter um recorde mundial. Significará imenso correr abaixo dessa barreira. A minha mensagem para o Mundo é simples: 'nenhum ser humano é limitado'. E sei que depois de mim, quando eu quebrar o recorde, alguém irá seguir-se e conseguirá também correr abaixo dessa barreira."

"Quebrar esta barreira é crucial para mim. Quero mostrar ao mundo que quando confias em algo e tens fé nisso, tens muito mais capacidades do que acreditas. Algumas pessoas acreditam que é impossível. Respeito o que pensam, mas também devem respeitar aquilo que eu penso. Nós entendemos que é possível e vamos prová-lo. Esta é a altura certa para fazer história", frisou.

E desengane-se quem pense que este evento é visto pelo queniano como uma espécie de corrida de despedida ou que, caso consiga mesmo o recorde, se irá retirar. "Não será um evento de despedida. Encaro todas as provas como um desafio. Por agora estou totalmente focado neste desafio e depois disso direi o que se segue".

Uma rotina muito particular

Uma das maiores curiosidades à volta deste tipo de preparações passa pelo número de quilómetros feitos semanalmente, mas também a rotina diária de um atleta de topo, algo que normalmente é mantido em segredo. Kipchoge decidiu inverter a tendência e revelou como é o seu dia-a-dia. "Normalmente acordo às cinco da manhã, preparo-me para o meu primeiro treino do dia. Volto para o centro de treinos, tomo o pequeno almoço, relaxo, almoço, durmo um pouco e depois vou para a segunda corrida do dia. Volto novamente ao centro de treinos, janto e durmo. Os meus dias normalmente são assim. Semanalmente tenho feito entre 220 a 230 quilómetros".

Quanto a estratégia de treino, Kipchoge explica que, no seu entender, os treinos mais importantes são feitos na pista. "Creio que a nossa intensidade de corrida vem dos treinos de pista. Tenho sempre de me certificar que depois desses treinos consigo recuperar bem, daí fazer muitos treinos a um ritmo confortável."

Outros tópicos

Sapatilhas para utilizar no desafio (pergunta Record)

"Não é um segredo. Usei os Next% em Londres e estou pronto a utilizá-los de novo em Viena. São um modelo ao qual estou totalmente adaptado."

Qual o tempo que pensa conseguir?

"Não sei o tempo, pois creio que o céu é o limite. O meu objetivo em Viena é quebrar a barreira das duas horas"

O que falhou em Monza, no breaking 2?

"Era como um boxeur que estava a subir para o ringue e não sabia o que poderia acontecer. Agora estou preparado e sei o que vai acontecer. E se tudo correr bem vou vencer".

Sente-se como um ídolo e qual o seu ídolo de infância? (pergunta Record)

"Fico muito feliz por saber que sou um ídolo e uma figura inspiradora para tantos corredores no Mundo, ao mostrar-lhes que não temos limites. Quando era miúdo, o meu ídolo era o meu treinador Patrick Sang."

Nervos pré-prova e rotina pré-prova? (pergunta Record)

"Costumo ficar nervoso no dia anterior, mas tento acalmar-me, concentrar-me e relaxar."

"Saio para uma corrida calma durante a manhã, tomo o pequeno almoço e alongo. Depois disso descanso. No dia da prova acordo tendo tempo necessário para me preparar, para tomar o pequeno almoço, relaxar e para chegar à zona de partida."

O que faz de si o melhor maratonista? No que é diferente dos outros?

"Não creio que seja diferente. Tento apenas acreditar em mim e dar o meu melhor para deixar a minha marca"

Saiba mais sobre o desafio de Eliud Kipchoge no INEOS 1:59 Challenge em www.ineos159challenge.com

Por Fábio Lima
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