A nossa análise ao modelo de performance da marca francesa
Durante anos, a Decathlon, através da Kalenji, colocou vários modelos de sapatilhas de corrida no mercado, mas sempre numa ótica que podia ser entendida como 'low cost'. Nunca terá sido assumido, mas todos olhavam para aqueles modelos como tal. Por isso, na hora de se lançar para uma nova era no calçado de corrida, a conceituada marca francesa decidiu lançar uma submarca, para que, de certa forma, fosse possível 'desligar-se' dessa fama 'low cost', para ser encarada de uma forma mais séria. E daí nasceu a Kiprun.
Em 2018 os primeiros passos concretos foram dados, mas apenas em 2021 se viu finalmente uma aposta clara. Paul Chelimo, o norte-americano de origem queniana que conquistou duas medalhas olímpicas nos dois últimos Jogos Olímpicos (prata no Rio de Janeiro e bronze em Tóquio, ambas nos 5.000 metros), foi a primeira grande contratação em 2023 e serviu para mostrar definitivamente ao mundo a marca. Isto depois das apostas nos atletas da casa: Yoann Kowal e Méline Rollin (que recentemente bateu o recorde nacional da maratona e estará nos Jogos Olímpicos).
Três nomes importantes, que foram determinantes no desenvolvimento daquele que foi, na prática, o primeiro grande modelo de performance da marca, as KD900X LD. É certo que se tratava do segundo com placa de fibra de carbono, depois das KD900X, mas de acordo com a crítica este foi mesmo o primeiro que pode ser entendido como uma aposta ganha. E foi, também, o primeiro que tivemos chance de testar.
Quando as tirámos da caixa, a primeira sensação agradável foi o peso leve. Apenas 208 gramas no tamanho 42 que, aproveitando já para falar disso, nos pareceu bem fora da norma. Expliquemos: este 42 que nos chegou era mais digno de um 43,5 numa outra marca. Isto leva ao primeiro conselho que deixamos: comprem um tamanho abaixo do vosso normal para corrida. Mas também mostra o quão leve este modelo é. E esse tem de ser, desde logo, um grandíssimo ponto positivo. Outro pormenor que nos impressionou foi toda a construção, com um design premium, com vários pormenores curiosos, como as coordenadas do centro de desenvolvimento da marca em França, a inscrição do drop do modelo (4mm, no caso) ou o 'To race' ('para competir') na zona interior.
Não tendo referências de comparação, nomeadamente com o original modelo de performance da marca, vamos centrar-nos nas sensações que tivemos na nosso teste intensivo, em plena preparação para (mais) uma(s) maratona(s) de outono/inverno. Nesse aspeto, vamos já apontar o conforto como algo bastante interessante. Apesar da construção algo minimalista, com uma malha super fina e bastante respirável, as KD900X LD têm pontos de material acolchoado estrategicamente colocados, que ajudam a tornar a corrida em algo bem mais prazeroso.
Faltará, ainda assim, um pouco mais de suporte na zona do calcanhar para dar uma garantia de estabilidade extra. Não tivemos problemas nesse particular, mas acreditamos que para alguns corredores possam ser um problema. Por outro lado, aquele aspeto do tamanho algo maior do que o normal faz com que, se acertarmos no nosso tamanho, possamos ter problemas no ajuste.
Agressivas... a pedir velocidade
Uma das primeiras coisas que notámos quando começámos a correr com as KD900X LD foi uma certa exigência nos gémeos, especialmente quando as utilizámos num treino mais longo, feito a um ritmo em torno dos 4'30/km. Poucos dias depois, já a um ritmo mais rápido, não tivemos qualquer problema, o que nos fez chegar à conclusão de que, provavelmente, a placa de fibra de carbono esteja numa posição que, a ritmos menos rápidos, acaba por exigir mais do ponto de vista muscular. Isso leva-nos a considerar que, mais do que provavelmente outros modelos, para usar estas sapatilhas é necessário ter uma técnica relativamente apurada (e, já agora, correr rápido).
Correndo a um bom ritmo, o retorno de energia que temos, pela combinação da espuma VFoam Plus (desenvolvida pela marca) e a placa de fibra de carbono, é até bastante satisfatório e o grau de amortecimento também. Talvez em termos de retorno fique um nadinha abaixo de outras super sapatilhas, mas nada de muito crítico. Não as testámos acima dos 23 quilómetros e provavelmente não o faremos, já que nos pareceu que, apesar de ter um bom amortecimento, talvez as meias maratonas sejam o limite (pelo menos para corredores amadores e com uma técnica menos apurada).
Um dos eventuais responsáveis por essa sensação será a altura de meia sola, com 36mm no calcanhar e 32 no antepé. Sim, são altas, mas já começámos a ficar (demasiado) habituados a rodar ali no limite dos 40mm.
O que nos convence por completo é esta sola. É até incrível ver a Kiprun ter feito um modelo com aparência tão durável e com tanta tração com pouco mais de 200 gramas. Em piso algo solto ou molhado, estas KD900X LD portaram-se sempre muitíssimo bem.
Balanço feito, a Kiprun conseguiu definitivamente colocar no mercado um modelo de grande qualidade, a um preço mais acessível do que os demais (as sapatilhas com placa de fibra de carbono já andam a aproximar-se dos 300 euros...). Sim, podem perder algo no retorno de energia e serem, se calhar, apenas recomendadas para uma meia maratona, mas quem as comprar não ficará desiludido com a escolha.
Ah, não dissemos o preço: são 180 euros.
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