Maratona de Copenhaga: não estávamos preparados para isto...

Corremos a prova da capital dinamarquesa e ficamos agradavelmente surpreendidos

Estamos habituados a pensar nos dinamarqueses, ou nos nórdicos em geral, como um povo tranquilo, civilizado, bastante calmo. Ora, foi o total oposto aquilo que vivemos na semana passada em Copenhaga, onde estivemos a correr a Maratona da capital. Uma prova inesperadamente de uma qualidade de topo, com um ambiente a fazer inveja as melhores do Mundo. Já estivemos em Nova Iorque e ficamos encantados. Espanha é um país que, regra geral, nos encanta pelo apoio, mas Copenhaga consegue, sem dúvidas, ombrear nesse particular.

Nesse particular e não só. Copenhaga tem também uma maratona rápida. Mesmo que os recordes do percurso possam dizer que não - 2:08.23 nos homens; 2:23.14 nas mulheres. Isso justifica-se essencialmente pela posição no calendário, que não é muito apelativa para os melhores atletas, mas também pelos prémios financeiros, que são bem mais chamativos noutras paragens para corredores que fazem tempos em torno das 2:05. Se viessem aqui, facilmente correriam esses registos.

E depois há outro aspeto que, em alguns anos, complica esses registos de tempo: as condições meteorológicas. Não é habitual, mas em alguns anos, pela sua realização em maio, esta Maratona de Copenhaga é assolada por um calor pouco recomendado para as lides dos 42,195 quilómetros. Como normalmente é corrida com temperatuas amenas, a prova é habitual iniciada pelas 9.30, o que sendo uma hora tardia para uma prova quente, é um bom horário para uma prova com o habitual clima de maio nestas paragens.

Organizada pelo Sparta, um clube de atletismo bastante importante no país, a Maratona de Copenhaga teve este ano a sua 42.ª edição - em 2020 e 2021 foi cancelada devido à Covid-19. Sendo organizada por corredores para corredores, com uma longuíssima história, a atenção ao detalhe daquilo que faz a diferença nota-se desde o primeiro momento. Por exemplo, este ano houve uma mudança do percurso, com um novo ponto de partida e chegada, com o propósito de tornar a prova ainda mais rápida. Essa mudança deu-se também em toda a imagem da maratona, num 'rebranding' para algo mais moderno e apelativo.

Ao longo dos 42,195 metros desta maratona passamos por praticamente todos os pontos turísticos da cidade, alguns deles por duas ou três ocasiões. Isso enquanto somos autenticamente levados ao colo num corredor humano que chega a ser impressionante. Olhando para trás, percebemos que em praticamente 90% do percurso tivemos alguém a apoiar. Não estávamos nada à espera disto... Disso e do facto desse apoio ser em modo 'louco'. Gritos e mais gritos, palmas, incentivos e, imagine-se, até fumos à passagem dos corredores, quase como se estivéssemos no meio de uma claque. Outro pormenor que nos impressionou foi o facto de várias vezes terem chamado os nossos nomes - por conta do facto do nome estar impresso no dorsal num tamanho superior e legível a que está na beira da estrada.

Além desse apoio das gentes da cidade (e outros visitantes), a Maratona de Copenhaga contou com imensos pontos de animação, com bandas e DJ's a darem-nos música ao longo do percurso. Foram mesmo muito raros aqueles momentos de silêncio, de sofrimento interior. Impressionante!

Como impressionante (e igualmente inesperado) foi o número de portugueses que este ano em Copanhaga. Quase 100 estiveram neste dia a correr os 42,195 metros e muitos deles com tempos rápidos que confirmam aquilo que dissemos acima. Quase 100 num total superior a 10 mil. Acreditamos (e esperamos) que depois desta nossa crónica esse número possa crescer em 2023, pois acreditem que vale efetivamente a pena fazer a longa viagem até à Dinamarca para correr esta maratona.

Se querem começar já a sentir um pouco do que é correr na Dinamarca, por que não abraçar a Meia Maratona de setembro? Faz parte do circuito das Super Halfs, é organizada também pelo Sparta e, a julgar por esta amostra, promete muito!

NOTAS FINAIS

Percurso: 8/10

Não tivesse tantas viragens e passagens repetidas no mesmo ponto e a nota seria bem mais elevada. Copenhaga tem um percurso relativamente plano, com apenas dois ou três pontos com uma ligeiríssima subida. As subidas não são pronunciadas e pouco ou nada nos retiram no ritmo. O único momento em que achamos que fomos algo condicionados foi mesmo numas zonas algo estreitas do percurso, o que nos faz reduzir o ritmo por vezes de forma abrupta. Ainda assim, a verdade é que esta maratona tem um percurso com bastante potencial para bater recordes. O facto de ser feita praticamente na sua totalidade em áreas residenciais permite-nos ter sempre muito apoio e isso funciona quase como 'doping' psicológico.

Logística: 8/10

No geral, há poucas coisas a apontar à forma como esta maratona está organizada. A feira pré-prova está localizada junto à partida (e meta), num espaço bem organizado e com muita oferta de expositores. Desde marcas desportivas e de nutrição, passando pelos habituais espaços de promoção de outras provas. Por lá encontramos compatriotas do Funchal e ainda do Porto - até deu tempo para brinde com Vinho do Porto! O processo de recolha do dorsal é rápido e o da camisola da prova também.

No dia da corrida, o ponto que mais nos impressionou foi a organização dos blocos. Como dissemos acima, há blocos de partida definidos pelo tempo, mas não há qualquer tipo de separação física. Quem define essa separação são os balões dos pacers, mas apesar de não haver controlo foi incrível ver que ninguém andou naquela loucura de tentar ir mais para a frente - para ritmos que não eram os seus. Os nórdicos são mesmo civilizados. Por que não podemos ser iguais?

Por fim, o único ponto negativo na nossa opinião. Várias mesas de hidratação estavam localizadas em zonas muito estreitas e, para mais, pareceram-nos algo pequenas. Isso faz com que, em ritmos mais lentos, onde se juntam mais e mais corredores, seja algo complicado pegar nos copos de água e seguir sem parar. Um pequeno pormenor, porque de resto... tudo praticamente perfeito.

Ambiente: 10/10

Uma das maiores surpresas desde que andamos nisto de correr maratonas pelo mundo. O ambiente de prova em Copenhaga é absolutamente incrível. Chega até a arrepiar. Raros são os momentos em que não temos gente na beira da estrada a apoiar um bocadinho que seja. Batem palmas, gritam os nossos nomes, gritam simplesmente e fazem uma grande festa, onde há até espaço para (imagine-se!) a utilização de fumos, como se de um jogo de futebol se tratasse. O final é junto ao Parken, num enorme corredor com cerca de 1000 metros que nos leva ao colo até à meta. Impressionante!

Medalha e t-shirt: 6/10

A nota aqui vai claramente inflacionada pela qualidade da t-shirt. É oferecida no kit, mas a verdade é que não podemos esconder que ficamos algo desapontados pela qualidade da camisola técnica da Nike que nos é dada. Parece que pegaram na camisola mais barata - que nem parece técnica... -, imprimiram duas coisas e já está feita a t-shirt oficial. Já a medalha, recolheu opiniões algo negativas, mas no fundo destaca-se por ser algo diferente. Não apontamos defeitos.

Preço: de 105€ até 110€

O valor é elevado, mas a prova também tem uma qualidade de topo e, para todos os efeitos, estamos a falar de um país que no global é também ele bastante caro. Curiosamente, não há uma grande diferença de preços entre quem se regista numa primeira fase e aqueles que o deixam para a última.

Como chegar

De Lisboa temos voos diretos na TAP (diariamente) e na Norwegian (4.ª, 5.ª, sábado e domingo) que nos levam à capital dinamarquesa em cerca de 4 horas. A partir do Porto, temos somente voos diretos na Norwegian (2.ª, 5.ª, 6.ª e domingo) e na Ryanair (4.ª e sábado), pelo que é necessário algo ginástica para ir do norte do país até à capital dinamarquesa - o voo dura pouco mais de 3 horas. Há sempre opções com escala, que podem ser estudadas em plataformas como o Sky Scanner ou Momondo.

Do aeroporto há várias opções para chegar ao centro da cidade, mas a nossa recomendação passa pelo metro. Tem uma regularidade incrível (a cada dois minutos) e leva-nos até aos pontos centrais da capital em pouco mais de 20 minutos. O preço de cada bilhete ronda os 4 euros. Aqui recomendamos que estudem bem os vossos planos de deslocações, pois talvez a aquisição do passe de 24 horas (por 12€) seja a melhor opção.

Onde ficar

Preparem a carteira! Copenhaga é uma cidade bastante cara. Especialmente para um comum cidadão português. Ainda assim, é possível ficar-se alojado na capital dinamarquesa sem pagar uma fortuna. Especialmente tendo em conta que o metro funciona de forma tão eficiente. Por isso, podem ficar sem medos numa zona de arredores e confiar na rapidez e eficiência dos transportes públicos.

Onde e o que comer

Preparem a carteira (parte 2)! O custo de vida na Dinamarca é bastante alto e isso sente-se muito na alimentação. É muito fácil, com um pedido básico, chegarmos a valores próximos dos 30 euros. Por isso, antes de pensarem ir a Copenhaga, preparem-se bem para isso. De qualquer forma, apontando algumas recomendações, ir à Dinamarca e não provar algumas das comidas típicas seria uma pena. Apontamos o smørrebrød (uma fatia de pão com coberturas de todo o tipo - carne, peixe, etc.), o stegt flæsk (carne de porco fatiada frita) ou ainda os doces, com destaque para o wienerbrød, que nos conquistou por completo.

O ideal é procurarem os mercados de comida de rua, como o Reffen (mais voltado para comida do mundo), o Torvehallerne (onde encontramos refeições típicas) ou o Tivoli Food Hall. Relativamente às pastelarias, deixamos três dicas: Skt. Peders Bageri, BUKA Bakery e Emmerys.

E, claro, não podem esquecer as cervejas! Um último alerta aos horários: na Dinamarca é muito difícil conseguirem encontrar espaço para almoçar depois das 15 ou de jantar após as 21.

Por Fábio Lima
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