Maratona do Rio de Janeiro: à descoberta dos encantos da Cidade Maravilhosa

Estivemos no Brasil a correr a principal prova do país. Ficamos agradavelmente surpreendidos

As praias com areais a perder de vista, os morros imponentes que rodeiam a cidade e lhe dão cenários de cortar a respiração, a simples e natural alegria contagiante do povo brasileiro, o samba, a comida... Há muitas razões para cruzar o Atlântico e ir ao Rio de Janeiro. Afinal de contas, a alcunha de Cidade Maravilhosa não está lá por acaso. É porque, efetivamente, o Rio de Janeiro é uma cidade com um encanto diferente. Um encanto a cada recanto. Que contagia até pela forma alegre e descomplexada como por ali se vive, pese embora as dificuldades que muitos enfrentam. O Rio de Janeiro é tudo isto. E muito mais.

E é também a cidade que acolhe aquele que se assume como o maior festival da corrida da América do Sul. A Maratona do Rio de Janeiro. Um enorme evento, com distâncias entre os 5 e 42 quilómetros, em quatro dias de verdadeira loucura nas ruas frenéticas e cheias de vida da cidade carioca. Record esteve lá para sentir a vibração, viver o momento e contar-lhe tudo sobre o evento.

Os números não mentem e são o primeiro ponto de análise. A organização fixou os 40 mil como limite de inscritos nas quatro provas e as inscrições esgotaram bem antes da realização da prova. Era o primeiro sinal da adesão popular e, também, da qualidade do evento. 20 mil estavam inscritos na meia maratona, 10 mil na maratona e os restantes 10 mil entre os 5 e os 10 quilómetros. E havia uns loucos (cerca de 2 mil) que faziam algo chamado 'Desafio Cidade Maravilhosa': correr a meia maratona no sábado e a maratona no domingo. Se é para aproveitar o Rio... claro que íamos fazer ambas as provas!

Feira da maratona: a festa começa aqui

Já estivemos em Nova Iorque e Berlim a correr maratonas e sabemos como são as feiras dessas duas maratonas. No Rio de Janeiro, ainda que numa dimensão um pouco inferior, encontrámos algo similar. Localizada na Marina da Glória, a 'expo' da Maratona do Rio está alojada num enorme espaço aberto, com uma vista desconcertante para Niterói, de um lado, e para a Zona Sul do Rio, do outro. E até temos a chance de ver alguns aviões aterrar no Aeroporto Santos Dumont, logo ali ao lado. O cenário da feira da prova era uma espécie de prelúdio para o que viria depois, no dia das provas.

Com 40 mil inscritos, o processo de recolha do kit de participação tornou-se um pouco confuso, porque é efetivamente muita gente no mesmo espaço - até porque terão passado por ali pelo menos mais 20 mil pessoas, por conta da presença de familiares e amigos -, mas a organização fez questão de colocar no ato da inscrição opções horárias, de forma a tentar dividir os corredores por determinados períodos. Escusado será dizer que poucos terão cumprido. Mas adiante... Apesar da confusão desse momento, a verdade é que o processo em si é rápido e num ápice temos em mãos o kit, composto pelo dorsal e a camisola da prova (no caso a dobrar, porque estávamos ali para fazer o Desafio).

Fora do pavilhão principal, em várias grandes tendas, os patrocinadores do evento têm direito a espaços dedicados, ao passo que as restantes marcas estão expostas num pavilhão mais pequeno, que nos pareceu efetivamente demasiado pequeno para o propósito. Tanto que se fazia uma fila enorme para lá entrar. É um ponto a melhorar. Talvez o único.

Porque, de resto, todo o cenário e zona envolvente é muito agradável. A Praia da Glória está ali ao lado e podemos até dar um mergulho no mar para refrescar as pernas (e o corpo). Ou então podemos simplesmente ficar ali sentados na relva e desfrutar de um momento de confraternização 'runnistica'.

A Meia Maratona, o melhor do programa

O primeiro grande momento de loucura chegou no sábado. Para aquela que foi, no nosso entender, a melhor prova do programa. Muito por conta do cenário absolutamente de cortar a respiração. A Meia Maratona arranca pelas 6 da manhã, junto à Praia do Leblon, e segue para a zona norte da cidade, quase sempre passando junto de praias icónicas, como Ipanema ou Copacabana. Isto enquanto vamos vendo, no horizonte, o sol nascer. É absolutamente de cortar a respiração. Se tivéssemos de escolher um ponto alto do fim de semana. Foi este. Sem dúvida.

Com um pelotão de 20 mil corredores só para esta prova, a organização fez um fantástico trabalho (teórico) para tentar separar as largadas e criar a melhor experiência possível, mas a verdade é que até no melhor pano cai a nódoa. Foi o que sucedeu aqui. A ideia, com sete largadas distintas de cinco em cinco minutos, era perfeita no papel e permitiria um escoamento eficaz do pelotão. Mas a verdade é que rapidamente foi possível perceber-se que o respeito das ondas de partida não ia acontecer. Lá como cá, ainda há muito aprender. Conclusão: o ínicio foi uma enorme confusão e, se há algo para melhorar, é mesmo nisso - a culpa principal é dos corredores... Ainda assim, mal o tiro de partida foi dado, rapidamente o pelotão andou a bom ritmo e nem houve espaço para qualquer tipo de 'pára-arranca' nos primeiros metros.

Com as praias do nosso lado direito, começando no Leblon, passando por Ipanema e Copacabana, os primeiros quilómetros foram feitos enquanto lá ao longe o sol ia nascendo. Repetimos: um cenário de cortar a respiração. Era impossível ficar indiferente. Nunca nos passou pela cabeça correr rápido neste dia, mas ao observar o cenário era mais do que óbvio que tínhamos era de aproveitar o momento e a vista que íamos tendo. Depois de deixar a zona das praias, seguimos em direção à zona norte da cidade, onde estava localizada a meta - na Marina da Glória. Enquanto isso, lá íamos tendo novos cartões postais do Rio de Janeiro. O Pão de Açúcar de um lado, o Corcovado lá atrás ou as vistas para o lado de Niterói. Para quem gosta do Rio ou para quem nunca lá esteve, é um passeio turístico que vale totalmente a pena. O percurso é quase sempre interessante e plano. O único ponto que não gostamos tanto deu-se pouco depois da Praia de Botafogo, onde fazemos dois retornos que pouco agradaram aos corredores. Mas, de resto, nada mais a apontar.

O dia começou com 20ºC - sim, às seis da manhã! - e isso obrigou a um cuidado adicional com a hidratação. Ainda que apenas houvesse pontos de abastecimento de um dos lados da estrada, as mesas pareceram-nos razoavelmente longas e bem apetrechadas. Aqui, ao contrário do que temos na Europa, a água era dada em copos de 200ml fechados. Todos os copos eram colocados em enormes mesas com gelo, o que garantia que, mesmo com o calor e humidade que se faziam sentir, tivéssemos sempre à nossa disposição águas frescas. Que bem soube!

Finalizada a prova, o processo posterior foi relativamente rápido e bem fluído. Recebemos água para iniciarmos desde logo a nossa reidratação - os termómetros já iam nos 25ºC pelas 8 horas - e a medalha era entregue logo depois. Tudo sem problemas de maior. Ao contrário do que sucedera no ano passado, onde foram relatados alguns problemas. A organização analisou o problema, aprendeu e corrigiu-o. Simples!

Contas feitas, terminaram a maratona neste sábado de festa perto de 15 mil corredores. O mais incrível de tudo foi mesmo o equilíbrio de forças entre géneros: 50,15% dos atletas que concluíram a prova eram mulheres. O que diz bem da adesão a um estilo de vida saudável no Brasil e também da tenacidade e vontade de superação das mulheres brasileiras.

E chegou a Maratona

Nem 24 horas depois de termos iniciado e terminado a Meia Maratona, lá estávamos de novo numa linha de partida. No caso para os 42 quilómetros, que devido ao calor bem típico desta zona do globo se dava pelas 5 da manhã - estavam novamente uns 20ºC. Ainda era noite cerrada e já praticamente 10 mil corredores se amontoavam junto à Marina da Glória para iniciar a sua aventura de 42,195 quilómetros. E a utilização do verbo 'amontoar' não está ali em vão. É que, tal como na meia maratona, os corredores voltaram a provocar uma enorme confusão no arranque. Ninguém respeitou as horas de partidas definidas, pese embora a existência de cinco ondas definidas, separadas por cinco minutos. Novamente, foi um ver se te avias para conseguirmos encontrar um espaço no mar de gente que estava já junto à largada.

Ainda assim, tal como no caso da meia maratona, assim que foi dado o tiro de partida não mais tivemos problemas em termos da fluidez do escoamento do pelotão. Nem mesmo nas zonas mais estreitas que se seguiram. E aqui fica uma crítica à forma como o percurso foi desenhado. No papel, a ideia era fantástica: levar os corredores à zona central e histórica da cidade, para mostrar aos visitantes os pontos mais emblemáticos que não as praias. O problema? Passamos por lá com a noite cerrada e praticamente não conseguimos apreciar devidamente os pontos que mereciam, claramente, a nossa atenção. Neste momento inicial os grandes destaques foram a passagem pelo Museu do Amanhã, uma obra arquitetónica incrível, e ainda pela roda gigante que se iluminava com as cores da Maratona. O resto, por mais belo que fosse, no meio da escuridão foi praticamente impercetível.

O dia foi nascendo, o sol subindo e o pelotão ia em direção à zona das praias, onde na véspera se tinha corrido a meia maratona. O cenário era o mesmo, mas tal como no dia anterior a sensação de encanto era também a mesma. E aqui com uma diferença que se agradecia. Com uns 30 quilómetros já nas pernas, o apoio popular era incrível. Ao longo daqueles quilómetros de praia a praia, no ir e voltar - fomos até ao Leblon e voltámos rumo à zona da partida -, eram milhares as pessoas que se alinhavam para nos apoiar. Por mais que as dores fossem surgindo - no nosso caso aqui já acumulávamos mais de 50 quilómetros em dois dias... -, ter aquele apoio bem que se agradecia.

Aqui, com as praias ao nosso lado, com o relógio a chegar perto das 8 horas, o sol já estava lá em cima e a temperatura subia. Motivo para dar novo aplauso à organização: mesas de hidratação colocadas com o devido comprimento, sempre bem apetrechadas com água fresquinha que nós bem agradecíamos. De 2,5 em 2,5 quilómetros, não havia forma de nos queixarmos de falta de água.

Quando deixamos a zona das praias mais famosas, agora restavam uns 6 quilómetros até à meta. Novamente passando por onde já tínhamos passado largos minutos antes, mas sempre com um cenário incrível. O Pão de Açúcar, o Corcovado... Estava tudo lá. Quase dava vontade de parar um bocadinho e apreciar a beleza natural desta cidade que, como o nome bem diz, é mesmo maravilhosa! E assim, num instante, fomos em direção à Marina da Glória, onde à nossa espera estava uma longa reta da meta, que nos permitiu saborear aquele momento de glória - como o nome do local onde termina a prova.

No final, foram mais de sete mil aqueles que concluíram a maratona, numa enorme festa que confirmou o Rio de Janeiro com a prova mais participada da América do Sul. No global, a prova correu da forma esperada e em certo ponto até surpreendeu. O potencial está lá. É só continuar a melhorar e crescer de forma sustentada. O futuro é risonho!

Ah! Antes de fecharmos, 1374 corredores concluíram o tal Desafio Cidade Maravilhosa. O jornalista que vos escreve foi um deles e já tem um plano para 2024: repetir. E quem sabe se não se aventura a fazer as 4 provas do programa!

Percurso: 9/10 (meia maratona); 7/10 (maratona)

O nosso longo texto acima denunciou a nossa opinião. O percurso da meia maratona é claramente o mais bem conseguido, especialmente pela sua beleza, com as praias e os principais pontos turísticos no nosso horizonte. O da maratona, como dissemos acima, peca pelo facto de passar na zona histórica quando aí é demasiado escuro para conseguirmos apreciar corretamente. De resto, nota para o facto do perfil ser maioritariamente plano e convidar a tempos rápidos. O problema são mesmo as condições climatéricas. Mesmo que não esteja muito calor, a humidade que se faz sentir é um grande obstáculo a esses registos.

Logística: 8/10

Aqui vamos novamente fazer uma separação na análise, porque a logística das duas provas é bem distinta.

No caso da meia maratona, com largada junto ao Leblon, o processo é bastante simples. Como o nosso hotel era perto de Copacabana, até conseguimos ir a correr até à partida. Foi uma espécie de aquecimento para a corrida. Caso o corredor estivesse numa zona mais distante, o metro funcionava a partir das 5 da manhã e os corredores tinham acesso gratuito ao mesmo mediante a apresentação do dorsal e/ou camisola da prova. Era muito fácil lá chegar, até porque o Metro do Rio de Janeiro é incrivelmente eficiente e regular nas passagens.

O caso mudou de figura para a maratona, com início às 5 da manhã. A essa hora o metro ainda não funcionava e os transportes públicos eram praticamente para esquecer. A única forma de chegar à zona de partida era de táxi, o que pode tornar-se uma tarefa complicada tal era a procura por um disponível. O ideal aqui é reservar de véspera, sob pena de termos uma surpresa. Uma sugestão para o futuro talvez seja seguir o exemplo de Nova Iorque, que providencia autocarros em pontos pré-definidos para levar os corredores à zona da partida. Só uma ideia...

De resto, o processo de levantamento do kit de inscrição é bastante simples e prático - neste momento é necessário preencher um termo de responsabilidade -, tal como o momento de entrega e levantamento das mochilas no bengaleiro pré-provas. Nada a apontar.

Ambiente: 8/10

Uma enorme festa! A Maratona do Rio é muito mais do que corrida. Bem ao jeito brasileiro, a música e o ritmo acompanha-nos desde o primeiro minuto até ao último. Na Feira da Maratona foram vários os espectáculos musicais tanto no momento da entrega do kit como também no dia das provas. Ao longo da corrida foram vários os pontos de animação, com música tipicamente brasileira e aquele ritmo que só nos faz pensar e querer continuar a mexer o corpo.

Medalha e t-shirt: 10/10

Nota máxima! Não há como não dar uma nota máxima. As camisolas da prova, da Adidas, contam com designs e cores para cada uma das diferentes provas. A Maratona, por exemplo, teve uma camisola laranja, com uma imagem do Museu do Amanhã. A da Meia Maratona, num laranja 'queimado', tem o desenho da Pedra da Gávea e do Morro Dois Irmãos. Já o Desafio Cidade Maravilhosa tem duas camisolas diferentes para cada uma das corridas: a Meia Maratona em rosa e a Maratona em laranja, ambas também com o desenho da Pedra da Gávea e do Morro Dois Irmãos.

As medalhas são imponentes e contam com um desenho bem conseguido e, para mais, encaixam todas para formar um enorme puzzle. Quem concluísse as quatro provas (houve mesmo que o tivesse feito!) ficava com ele completo. No nosso caso, como concluímos o Desafio, recebemos três medalhas: dos 21k, 42k e uma especial referente às duas provas.

Preço:

Entre 220 e 430 reais (42€ e 82€)

Desafio Cidade Maravilhosa entre 450 e 880 reais (86€ e 170€)

Como chegar

Tanto a partir de Lisboa como do Porto temos voos diretos para o Rio de Janeiro com a TAP. É possível também viajar fazendo escala noutras cidades brasileiras, como no nosso caso, que voltámos via Brasília. Viajando diretamente de Portugal, aterramos no Aeroporto Internacional Tom Jobim, vulgo Galeão, que está a uns 40 minutos de distância do centro da cidade. A opção mais prática para lá chegar será em táxi ou Uber. Até há pouco tempo havia um autocarro que ligava o Galeão a Copacabana, mas foi desativado recentemente. É pena...

Onde ficar

Tendo em conta o local de partida da maratona, o ideal é tentar encontrar um hotel perto da Marina da Glória. Isso facilita bastante a chegada a esse ponto e impede problemas de última hora. E, tendo em conta o facto do metro estar aberto desde as 5 da manhã no sábado, facilmente conseguimos chegar ao Leblon estando perto da Marina da Glória caso quisermos correr a Meia Maratona. Ainda assim, não será problemático ficar na zona das praias, desde Leblon, Copacabana ou Ipanema.

Onde e o que comer

Açaí, água de coco, pastel, feijoada, caipirinha, churrasco... A lista de iguarias que temos (ou devemos) provar quando viajamos até ao Brasil e longa e obriga a pelo menos uma semana para ter tempo (e espaço no estômago) para conseguir provar todas. Para facilitar o trabalho dos visitantes da cidade, a própria organização preparou um guia com sugestões e até descontos para os corredores. Uma ideia que fica para ser 'copiada' por cá...

Site oficial

Por Fábio Lima
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