Uma maratona com as adidas Adizero Adios Pro Evo 1: é preciso ter mãos para conduzir um Ferrari

Tivemos a chance de testar as super-sapatilhas da marca alemã e confirmámos o que esperávamos

"É preciso ter mãos para conduzir um Ferrari". O título desta análise é mesmo a analogia perfeita àquilo que é correr com estas adidas Adizero Adios Pro Evo 1. Porque estas sapatilhas não são, definitivamente, para qualquer um. Sinceramente, nem para quem escreve este artigo. Por muito que custe dizê-lo e acabe por 'magoar' um bocadinho o ego. São sapatilhas de elite. Sapatilhas que rendem no seu esplendor a ritmos rápidos. Muito rápidos. Ritmos como aqueles que, no ano passado, levaram Tigst Assefa ao então recorde do mundo da maratona (2:11:53). Depois de utilizá-las, bem percebi o porquê do registo da etíope e também de todas as vitórias que este modelo conquistou. E também, já agora, dei ainda mais valor à surreal marca de Ruth Chepng'etich um ano depois.

Um dos pontos que faz toda a diferença nestas Pro Evo 1 (vou começar a tratá-las assim) é o peso. Com somente 140 gramas, são claramente as sapatilhas mais leves que tive a chance de colocar no pé. Olhando apenas a esse aspeto, comparando por exemplo com as Alphafly 3 da Nike (com 215 gramas), são 75 gramas de diferença... em cada sapatilha. Juntando ambas, temos uma poupança de peso de 150 gramas! Uma diferença incrível que, numa prova como a maratona, se fará sentir com um menor atrito. São só 150 gramas, mas ao longo de 42 quilómetros a economia é enorme.

Mas isso não é tudo. Não pode ser tudo. E é, no final de contas, o mais incrível. Porque o corte de peso, maioritariamente feito com a redução ao mínimo nos materiais aplicados (já lá iremos), não compromete a resposta, nem tão pouco a sensação de amortecimento. Essa era provavelmente a nossa maior dúvida. Umas sapatilhas tão leves só podiam ter um amortecimento claramente comprometido, pensava eu. Mas a sensação foi a contrária, especialmente quando a prova em que as usei deu para o torto. Mas já lá vamos também.

Comecemos primeiro por falar da construção. Vou poupar-vos o uso de termos técnicos e falar de uma forma mais simples possível. Todo o upper é num tecido sintético incrivelmente fino. Parece quase uma folha de papel, tal é o toque algo frágil que lhes sentimos. A língua usa mesma fórmula, contando apenas com um pequenino reforço acolchoado na zona central, para impedir qualquer tipo de fricção (aqui com a inscrição ADIZERO a dar brilho ao design). No upper, a zona mais trabalhada é mesmo o calcanhar. O contraforte é simples mas eficaz e o colar do tornozelo conta igualmente com um pequeno reforço de material acolchoado, no ponto certo para impedir qualquer tipo de fricção que causasse bolhas. Olhando a todos estes detalhes, quase parece que este modelo foi construído com uma precisão espacial. Tudo no ponto certo, com um detalhe extremo. De 0 a 100, não é um 99. É um 100.

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O coração da máquina

O upper é o principal responsável pela redução do peso, mas a estrela de tudo está na meia-sola. Com uma mistura dos compostos Lightstrike Pro e Lightstrike Pro, combinado com uma nova configuração dos ENERGYRODS, estas sapatilhas são uma verdadeira fera quando lhes dizemos para correr rápido. As espumas dão o amortecimento e a responsividade, mas aqui o principal responsável por toda sensação de bólide de alta performance é dada pela forma como os ENERGYRODS, agora bem mais agressivos do que nas Adios Pro 3. É difícil falar de uma forma mais técnica, porque a adidas também não divulgou todos os segredos, mas o melhor que podemos dizer é que sim, sentimos tudo isto... e de que maneira!

Por fim, a zona da sola. Que é também um outro ponto responsável pela redução do peso global. O composto de sola é provavelmente quase tão fino como a malha do upper. Tudo numa ótica de redução de peso. Uma camada finíssima em preto na parte do antepé e duas tiras mais curtas em cada um dos lados na parte traseira. O resto tem a espuma da meia sola exposta. Para quem corre rápido como este modelo deve correr, essas zonas praticamente nem tocam o solo, por isso não fazia sentido colocar ali o que quer que fosse. Contudo, aqui reside também o único ponto que podemos apontar como grande defeito destas sapatilhas: se em asfalto agarram de forma surreal, assim que apanham a mínima água... parecem quase umas 'bailarinas'. Um perigo à solta!

E a maratona, como foi?

Aqui chegados, já perceberam que estamos perante umas sapatilhas incríveis. As melhores que alguma vez usei. Mas de longe! Nada a ver com o que já me passou pelos pés. Talvez por isso sejam tão exclusivas. E sabem o melhor de tudo? É que para mal dos meus pecados a maratona em causa não me correu como queria e, curiosamente, acho que as Pro Evo 1 tiveram uma parte da culpa. Porque, tal como digo no título, é preciso mãos para conduzir o Ferrari. E eu não as tive. Nem mãos (no caso pernas), nem cabeça...

Usei-as na Maratona de Abu Dhabi, da qual podem ler o , mas aqui vou apenas dizer-vos aquilo que senti. Como disse nesse longo texto, a minha ideia era correr a 4'10/km, para depois no final apertar um bocadinho e ir buscar as 2:54:59. Só que as Pro Evo 1 são tão, mas tão rápidas, que os primeiros quilómetros sentiram-se como se fosse somente a trotar. E ia a 4'05/km. 20:20 aos 5 quilómetros, 40:48 aos 10. As sapatilhas têm culpa pela forma fácil como me fizeram correr, mas tenho perfeita noção de que me deixei levar pelo entusiasmo. A determinado momento pensei "eu tenho forma para 2:54, as sapatilhas devem dar-me um minutinho no tempo final, por isso está tudo bem". Claramente não estava. E depois acabei por pagá-lo, quando após os 25 entrei em queda livre. Passei à meia maratona em 1:26:16 e acabei com 3:14:11. Sim, conseguem perceber a pancada que foi...

Mas até aí deu para perceber que estas Pro Evo 1 são outra coisa. Ao contrário de outras sapatilhas, como por exemplo o que senti com as ASICS MetaSpeed Sky+ em Sevilha, mesmo com as pernas KO, mesmo sem correr tão rápido quanto devia, com as Pro Evo 1 sempre me senti muitíssimo amortecido e protegido. Não estou a dizer que são para correr a esses ritmos (fiz a segunda meia acima de 5'00/km!), mas o que quero dizer é que, normalmente, a esses ritmos, para quem já vem destruído, as sapatilhas conseguem destruir-nos ainda mais. E neste caso... foi o oposto.

Claro que fica aquela sensação de pena. Se tivesse sido mais inteligente, mais metódico, mais ponderado, talvez tivesse tirado o real partido destas verdadeiras máquinas. Mas sabem o melhor de tudo? É que aquela história de só durarem uma maratona é totalmente exagerada. 42 quilómetros depois, olhando para elas não têm praticamente qualquer tipo de desgaste na sola - provavelmente na eficácia da espuma e dos ENERGYRODS a história será outra, mas isso nunca saberei...

E em breve vão outra vez ser colocadas à prova para bater finalmente a tal barreira das 2:55. Não é esse o ritmo para o qual foram desenhadas, sei bem disso, mas é para esse ritmo que eu corro e, sinceramente, considero que para Sub-3 ainda são umas sapatilhas capazes de render como deve ser. Agora... pelo custo que têm (500€) diria que não justificam o investimento. Mas, como se costuma dizer... "só vivemos uma vez", não é?

Por Fábio Lima
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