Uma meia maratona à volta de um campo de futsal

Corredor de Lisboa lançou-se ao desafio e completou-o esta semana

Corredor há vários anos - e maratonista há cerca de seis meses -, João Gonçalves foi um dos muitos portugueses que nesta altura de estado de emergência viu os seus treinos habituais limitados por causa da situação atual em torno do coronavírus. Ainda assim, nem por isso se manteve parado ou deixou de fazer os seus (muitos quilómetros), tendo procurado no meio da incerteza encontrar uma forma de continuar ativo com a segurança necessária que a situação atual obriga.

Sem grandes possibilidades de o fazer no interior da sua casa, pelo menos no que a correr diz respeito, este professor de 36 anos residente em Santa Iria de Azóia (Loures) viu num campo de futsal em frente à sua casa ("logo do outro lado da rua, a uns 20 metros") a solução para o seu 'problema'. A primeira corrida por ali foi há pouco mais de um mês, a 14 de março, um dia depois de ter sido decretado o encerramento das escolas em todo o país. Confinado à sua casa, num regime de teletrabalho, João assume que a princípio tudo não passou de uma brincadeira, mas que a mentalidade competitiva o fez desafiar-se a tentar mais e mais... até à meia maratona.

"Só ao segundo ou terceiro treino às voltas do campo é que comecei a tentar perceber quantas voltas seriam necessárias para chegar ao quilómetro. E para isso são necessárias cerca de sete voltas completas. Fui começando a fazer lá os meus treinos quase diários, no intervalo dos períodos de aulas que tenho ou entre a atenção que tenho que dar aos meus filhos [de 5 e 2 anos]. Em média os treinos são entre os 8 e os 12 quilómetros, mas há dias em que também fico mesmo em casa a fazer alguns exercícios de fortalecimento muscular", explica.

Já a ideia da meia maratona surgiu com o passar dos dias, mas também pelo desafio de alguns amigos. "Começou a surgir na minha cabeça essa ideia, principalmente num dia em que fiz um treino de 15 quilómetros e tive muitos amigos a brincar comigo por andar tanto tempo às voltas. Nesse dia decidi que os ia tentar surpreender e criei em mim esse desafio. Estava a apontar fazê-lo mais para o final do mês, pois esta fase de aulas online e de confinamento, aliada a um tipo de treino muito diferente do que estava habitiado, tem-me deixado bastante cansado e desgastado, mas nesse dia saí para o campo decidido a fazer a tal meia maratona".

Chuva que deu força

E assim foi. Com um tempo chuvoso de quinta-feira (dia 16) a acompanhar a jornada, assume que a principal dificuldade foram "as constantes de direção", já que rapidamente chegava "ao final de uma das partes do campo" e tem de tomar outra direção. Ora, para de certa forma aliviar o impacto dessa situação, optou por dividir o desafio em dois, fazendo a primeira metade da 'prova' numa direção e a outra na inversa, de forma a "não criar uma carga excessiva apenas num dos joelhos e tornozelo".

Para lá do aspeto físico, admite ainda que o factor mental também pesou, especialmente por se tratar de um espaço muito curto, o que obrigou a dar cerca de 170 (!) voltas para completar os tais 21 quilómetros. Um aspeto mental que acabou também por se notar quando São Pedro decidiu fazer a sua aparição, mas neste caso até funcionou como motivação. "Aos 11 quilómetros começou a chover copiosamente e isso parece ter-me dado ainda mais força, pois arranquei para melhores registos em termos de tempo nos quilómetros seguintes. No final terminei cansado mas bem. A única coisa que sinto face a um treino normal são as dores nos tornozelos devido às constantes mudanças de direção", explicou.

Segue-se a maratona?

E já duas maratonas no currículo - Lyon e Sevilha, com um recorde pessoal de 3:18 horas -, João Gonçalves assume que o seu próximo foco é precisamente completar os míticos 42,195 quilómetros às voltas do tal campo de futsal. E se para a 'meia' foram necessárias 170 voltas, para chegar à mítica distância terá naturalmente de o dobrar, mas nem isso parece abalar a sua confiança. "O limite são as 4 horas. Nem que tenha que caminhar um pouco nalguma fase. Vamos ver se até o confinamento terminar completo esse objetivo" atirou.

Por Fábio Lima
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