O relato de Rui Duque da prova corrida em solo alemão
A maratona é uma das poucas provas em que atletas amadores correm com os melhores do planeta, aqueles que ao invés de correr, quase voam. Isso mesmo, para um ser humano, correr durante 42,195 Km a mais de 20km por hora é algo realmente extraordinário.
De entre todas elas, a maratona de Boston, por ser a segunda mais antiga, realizada desde 1897 sem interrupções e ficando apenas atrás da maratona olímpica disputada pela primeira vez em Atenas em 1896, é a mais famosa e tradicional corrida de longa distância realizada anualmente em todo o mundo.
Tive o privilégio de entrar em 2019 para a sua história, porque fui um dos muitos milhares de atletas amadores que a correu e terminou.
Existe outra maratona, a de Berlin, que por ser uma das mais rápidas e onde o record do mundo já foi batido por 8 vezes, é considerada por muitos a maratona das maratonas.
É uma prova mítica em que todos os anos se espera que o record caia de novo.
Depois de já ter corrido 4 das mais importantes maratonas do mundo (Chicago, NY, Boston e Londres) e de ter tentado correr a de Tokyo (infelizmente cancelada em 2020 por cauda da pandemia), este ano chegou a vez de Berlin!
É difícil descrever a sensação de correr uma maratona e mais difícil ainda a sensação de concluí-la. É difícil explicar porque motivo, em situação de enorme esgotamento físico e mental, é impossível terminar uma maratona sem um enorme sorrido, muitas vezes contido e algumas até não exteriorizado mas ainda assim um enorme sorriso.
Cada maratona é diferente de todas as que já corremos e das que ainda viremos a correr. Desde o longo período de treino, ao estado de espírito no dia da prova, ao ambiente que envolve a partida, a partilha de emoções após a prova, cada maratona tem realmente a sua história. Talvez a única coisa comum a todas elas, é o fato da última noite antes da prova ser invariavelmente uma noite mal dormida!
Berlin é de fato uma experiência única e no dia 26 de Setembro tornei-me mais um "Berlin Legend" ao juntar-me ao grupo dos privilegiados que um dia a correram e terminaram.
Desfrutei, diverti-me imenso, ri-me com muitas das figuras que vi com as mais hilariantes fantasias, surpreendi-me ao ver gente enorme que provavelmente não terminou porque a sua largura era superior à altura, vi um velhinho de 70 anos que no seu ritmo lá ia avançando e estou certo que terminou.
A observação dos que correm ao nosso lado é um outro espetáculo dento do espetáculo, como é também um espetáculo a animação nas ruas com as inúmeras bandas que nos incentivam com música, a generosidade dos alemães que nos oferecem de tudo um pouco, desde cerveja, a vinho, a bolo caseiro, a frutas ou salsichas, os milhares de pessoas nas ruas a saudar-nos enfim, um outro espetáculo dentro do espetáculo.
Ter tido a Lia a dar-me força ao km 19, ainda com as pernas frescas e de novo ao km 39, já com as pernas feitas num oito e com a cabeça a dizer-me permanentemente, deixa-te disso, não sejas palerma, não foste feito para isso, encosta e vai mas é beber cerveja, foi especial e um enorme incentivo para continuar de forma determinada, mas os últimos quatro kms foram difíceis, muito difíceis mesmo!
Diz a Lia que quando passei por ela ao km 39, até ia com bom aspeto, nem parecia muito cansado e ia num bom ritmo. Talvez me tenha animado ao ver a falange de apoio da Endeavor mas a verdade é que estava muito, mesmo muito cansado e as pernas já não davam mais, resultado de uma gestão menos conseguida do esforço, em especial no início da prova (comecei demasiado rápido).
Como sempre, os últimos dois kms foram uma enorme carnificina, muita gente parada agarrada às pernas, alguns a desistir, muitos a caminhar numa última tentativa de chegar ao fim, muitos rostos a demonstrar enorme sofrimento, alguns a desistir mesmo sabendo faltar menos que um km. Os últimos kms são realmente dolorosos, para quem está a tentar chegar ao fim mas também para quem está a assistir.
Finalmente o grande momento, o momento em que fazemos a última curva e avistamos as portas de Bradenburgo, o momento em que sabemos que já nada nos impedirá de terminar a prova, o momento em que do nada e sem que exista uma explicação racional, voltamos a ter força. São mais 500m até ao momento mágico de cruzar as portas de Bradenburgo e mais 300 até à linha de chegada. Só quem teve o privilégio de viver estes momentos sabe o seu significado.
Depois de cruzada a linha de chegada, a surpresa de ouvirmos o nosso nome! Sim em Berlin, quando terminamos o nosso nome é anunciado no sistema de som, eu não fui exceção e lá ouvi o meu nome "Rui you did it, congratulalions!
E pronto, mais uma maratona para o meu porfolio, e que grande maratona, a minha segunda melhor de sempre, a apenas 4 minutos do meu record pessoal.
Os treinos para a próxima já começaram!
Autor: Rui Duque
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