A carreira e o dinheiro

Sempre tive admiração pelo antigo jogador do Benfica, Sporting e Dortmund e agora técnico da Fiorentina, Paulo Sousa.

A especificidade da profissão de jogador de futebol obriga a tomadas de decisão pensadas e de acordo com um projeto de vida organizado e estruturado. Hoje um jogador necessita de ter na mão o maior número de informação possível, por forma a fazer a gestão da sua carreira em conformidade com as novas realidades desta indústria.

Sempre que existem convites para mudar de clube, será necessário fazer a avaliação de uma série de fatores que irão ser determinantes para que a tomada de decisão seja a ideal. Ter o conhecimento perfeito do projeto do clube é imprescindível para que se possa decidir mais corretamente. O perfil do treinador é sempre de levar em consideração. A qualidade do plantel onde iremos ser inseridos deverá também ser equacionada. A cidade e o local onde iremos viver com a nossa família é pormenor importantíssimo, pois a qualidade de vida influencia o nosso rendimento.

Determinante também é propiciar do ponto de vista técnico e legal o cumprimento das condições contratuais oferecidas e que, quando ‘postas no papel’, confirmem na totalidade o que foi acordado. É disso que estou a falar. Do dinheiro. Dos dólares. Dos euros. Das libras. Por último, confiar no nosso instinto e seguir as nossas convicções.

Sempre tive admiração pelo antigo jogador do Benfica, Sporting e Dortmund e agora técnico da Fiorentina, Paulo Sousa. Pelo seu talento e postura profissional e pela forma inteligente e visão evoluída de como geriu a sua carreira de jogador. Tal como agora gere, habilmente, a carreira de treinador.

Ao contrário do Paulo, eu não tive sempre esse discernimento. Poderia ter ido para a Académica por uma ou duas vezes, para fazer o curso de medicina como sempre ansiei, mas o dinheiro falou mais alto. Optei por outra solução. Poderia ter continuado em Guimarães, disputado então a Taça UEFA e ter mais visibilidade, mas o dinheiro voltou a falar mais alto. A opção foi outra. Poderia ter ido, no fim da minha carreira, jogar para fora, mas por não querer sair da minha zona de conforto, a decisão foi outra.

O tempo não volta para trás e as nossas decisões são irreversíveis. Ainda bem, porque, se fosse possível, teríamos várias vidas de mentira e ilusão onde o significado da nossa existência de nada valia. No entanto, esta consciência da importância das nossas opções de vida, obriga-nos a repensar o que é prioritário e o que é acessório. Exceptuando as situações que relatei, tenho sempre seguido o que o meu pai me confidenciou quando eu ainda era adolescente: "Toninho, filho, segue sempre aquilo em que o teu coração acredita. Junta a isso uma dose de bom senso e assume sempre a responsabilidade das tuas opções, respeitando os valores que eu e a tua mãe te temos transmitido. Nunca esqueças de concretizar os teus sonhos. Abraça-os sempre com força e paixão. O dinheiro nunca deve ser uma prioridade na nossa vida. Não há dinheiro que pague a nossa honra. A liberdade de pensar e dizer o que queremos, não tem preço. Sermos livres para tomarmos as decisões que entendemos serem melhores para nós e para a nossa família, ninguém consegue pagar."

Obrigado pai.

Por António Carraça
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