A letra é o número

"Viajar é sentir o tempo passar com outras cores, com outros cheiros e percorrendo outros caminhos. Desde o tempo em que o fazia com os meus avós, aos dias de hoje, cruzando o Mundo"

Viajar é sonhar acordado. Nem que seja ir à Mealhada almoçar o melhor leitão do Mundo e voltar a Lisboa a tempo de ver um Benfica-Sporting repleto de público vibrante e feliz. E o futebol terá de ser isso mesmo. Alegria, paixão pelo jogo, sentimentos e emoções boas e positivas à flor da pele. Umas ‘bejecas’ (para mim umas coca-colas) e umas bifanas nas rulotes de rua, apinhadas de gente sedosa de efervescência e jogadas de génio. E de reencontros. Com parceiros e amigos que só se veem de 15 em 15 dias. E, no fim, que ganhe o melhor e que o melhor seja a nossa equipa. Até porque na segunda-feira, no trabalho, os primeiros 30 minutos vão ser a discutir a jogatana.

Viajar é sentir o tempo passar, com outras cores, com outros cheiros e percorrendo outros caminhos. Voar na direção do arco-íris e voltar com o pote repleto de moedas de ouro, como dita a história. A mim já me basta ir e voltar. Como sempre aconteceu nas minhas viagens de trabalho e de lazer.

E quando falo em viagens, não posso deixar de me lembrar, com saudade e carinho, dos passeios de camioneta, que fazia em criança, com 7 e 8 anos, com a minha avó Ermezinda e o meu avô Caravela. A locais repletos de emoção, misticismo e tradição lusitana. Como, por exemplo, Santa Maria Adelaide, Fátima, Viana do Castelo, Tomar, Nazaré e outras terras mágicas do nosso Portugal. E quanto adorava fazer estes passeios com os meus avós e os seus ‘jovens’ amigos que me enchiam de guloseimas e atenção e me faziam todas as vontades com um sorriso nos lábios e um abraço...

Ao contrário, e lembrei agora, de uma viagem aos Estados Unidos, em 2015, onde me senti um autêntico ‘fora-da-lei’. Com o visto devidamente tratado na internet e toda a logística de hotel e transportes acertada, lá parti para Miami. Tinha aí duas reuniões de trabalho com responsáveis da MLS. E mais duas em Nova Iorque depois.

No controlo de passaportes, ao contrário das vezes anteriores em que viajei para a América, perguntas e mais perguntas. E muito tempo. No controlo de bagagem fui posto de parte e encaminhado para uma sala com alguns senhores ‘guardas’ de 120 quilos. Malas abertas e bem revistadas. Malas de novo fechadas, pois não havia nada de proibido. Mandado sentar e esperar. Esperei e esperei. E os senhores ‘guardas’ só olhavam para mim (com olhar enigmático e incriminatório), para o visto, para o passaporte que tinham nas mãos e para o computador à frente deles.

Passou uma hora e nada. Passaram duas horas e nada. Farto, levantei-me e tentei saber o problema:

– O seu passaporte é falso. Não existe este número de passaporte no sistema. Dá erro. Terá de aguardar. Sente-se!

Repliquei:

– Falso? Esse passaporte foi emitido pelas autoridades portuguesas. E como podem ver já viajou para mais de 50 países...

– É falso! Não existem passaportes portugueses começados por zero.

– Pois não existem. Isso não é um zero é um ‘ó’. É uma letra!!!

Milagre! Estava resolvida a equação. Por estas e por outras, não admira que o ‘furacão’ Trump seja o presidente do país mais poderoso do Mundo...

Por António Carraça
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