Penálti marreco...

Na minha carreira, apenas por uma vez me deram a responsabilidade de cobrar um penálti. Tinha 17 anos e jogava no vilafranquense. a recordação não é a melhor

Escrevo ainda sem saber o desfecho do último jogo de Portugal na fase de grupos, mas tudo aquilo que se tem escrito e comentado sobre Cristiano Ronaldo mantém-se atual. A nossa ’estrela cintilante’ chegou ao Euro ‘presa por arames’. E não é de admirar. Aconteceu quase sempre nas outras fases finais dos mundiais e dos europeus. E porque é normal, pois nem mesmo CR7 é de ferro nem tem super poderes. Tem toneladas de talento, capacidade de trabalho até mais não, força mental de um extraterrestre, magia capaz de iluminar um país inteiro, mas é igual a cada um de nós. É humano. Tem limites. Mais longos e extremados, é certo, mas também tem. E tem um corpo com órgãos, músculos, pele, ossos e um sem número de outras ‘peças’, que se podem quebrar, rasgar, cansar, desarticular e parar...

E porquê? Porque são épocas seguidas, umas atrás das outras, sempre em alta rotação, sempre em exigência máxima, sempre a ter de deixar tudo em campo, sem o tempo de recuperação adequado. São jogos das ligas nacionais, da Liga dos Campeões, da Selecção. Jogos para taças e taçinhas. São jogos e mais jogos durante quase um ano. Viagens e mais viagens. Profissionais e particulares. É muita coisa para um homem só!

Por tudo isto, é perfeitamente normal que nesta fase da época o nosso Ronaldo esteja de rastos e a pedir descanso, descanso e mais descanso...

Eu sou apologista e defensor, que as fases finais se realizem em dezembro ou janeiro (brincadeira...). Assim, teríamos o nosso CR7 fresquinho que nem uma alface, a jogar e a fazer jogar, marcando golos e mais golos, e transportando a nossa seleção e o nosso país, para conquistas planetárias.

Ainda assim, não escaparíamos a percalços. Como aconteceu a CR7 ao falhar a grande penalidade contra a Áustria. Já antes, Platini, Maradona, Eusébio, Pelé, Messi e outros deuses da bola também falharam.

Eu falhei um pénalti na minha carreira. Foi o primeiro e o último. Tinha 17 anos e jogava no ‘meu’ Vilafranquense da 3.ª divisão nacional. Num jogo contra o Sporting de Pombal levei uma ‘porrada’ já dentro da área e o árbitro foi lesto a marcar a grande penalidade. O meu treinador, ordenou: "Carraçinha, marcas tu!" Era assim que o senhor Luís Cordeiro, o mister, me tratava!

Agarrei a bola e pu-la na marca. Recuei e olhei para o guarda redes, tentando ler o seu pensamento. Os nossos olhares cruzaram-se e vi um sorriso de troça na sua face. Parti para a bola, levantei a cabeça e vi o guarda redes piscar-me o olho. Confundiu-me completamente...

Rematei à figura, entregando-lhe a bola, ‘de borla’, de forma lenta e descarada. Não queria acreditar. Tinha falhado o meu primeiro penálti. Ainda mais, que vergonha, o "inimigo" tinha uma bossa ligeiramente desenvolvida nas costas. Era marreco! Depois de despachar a bola para o seu ataque, chegou ao pé de mim e disse-me:

– Miúdo, não chores, acontece aos melhores!

É isso Ronaldo, também acontece aos melhores falharem essas oportunidades únicas de golo. E não vale a pena chorar, pois não vislumbrei qualquer bossa nas costas do austríaco...

Por António Carraça
Deixe o seu comentário

Últimas Notícias

Notícias
Newsletters RecordReceba gratuitamente no seu email a Newsletter Geral ver exemplo

Ultimas de A crónica de António Carraça

Três notas vermelhas

Jogadores, Vieira e Rui Costa vão tomar as decisões certas para superar a tormenta

Viagem curta

E, mais uma vez, saíram para a Europa dezenas de jovens colombianos cheios de esperança

Futebol envenenado

Quando o Atlético Nacional ganhou a Libertadores, em 1989, o árbitro argentino Juan Bava sofreu ameaças tenebrosas de Escobar e foi ameaçado com armas de fogo

Notícias
Notícias Mais Vistas