No dia 13 de feveiro de 1980 nasce em Lisboa aquele que, três décadas mais tarde, seria o exemplo com mais sucesso de humor negro em Portugal.
No dia 13 de feveiro de 1980 nasce em Lisboa aquele que, três décadas mais tarde, seria o exemplo com mais sucesso de humor negro em Portugal. Tal como se apresenta na sua biografia, Rui Sinel de Cordes vem de uma família tradicional – os pais são divorciados – e o clichê do casamento apenas acontecerá mediante uma boa quantia económica.
Nesta ‘Conversa de Faca e Garfo’, em vésperas de estrear o seu novo espetáculo ‘Je Suis Cordes’, no Coliseu, em Lisboa (dia 16), e no Sá da Bandeira, no Porto (6 de novembro), Rui misturou o gosto pelo sushi com os sabores portugueses, o registo sério com o mais sombrio, mas reiterou que evita quase sempre cruzar o humor com o futebol. Fã incondicional do Barcelona desde os tempos de Johan Cruyff, trouxe o ritmo do ‘tiki-taka’ à conversa para idolatrar Lionel Messi e reduzir Ronaldo... aos números.
"Sou completamente fanático pelo Messi. É evidente que acho que o Ronaldo é o melhor jogador do Mundo há muitos anos mas o Messi é um ‘alien’… Ronaldo tem o azar de estar a disputar troféus com um extraterrestre. É golos e pouco mais. Antigamente quem ganhava a Bola de Ouro eram os grandes jogadores; hoje em dia se o Zidane jogasse ganhava o Ronaldo… é ridículo. É um jogador que na final da Champions, em Lisboa, viu a equipa marcar um golo no último minto e não festejou porque não foi ele a marcar. Mesmo na Seleção cria péssimo ambiente. Não o suporto ver na Seleção e é por isso que não festejo golos da Seleção", começou por dizer, enquanto Luís Barradas, chef do ‘Sea Me’, em Lisboa, nos apresentava os bons sabores orientais misturados com o cheirinho do mar ocidental.
Sabores que serviram para nos adoçar a boca, mas nunca para tirar a dinâmica às frases que, sempre num registo ligeiro, iam colorindo a rubrica da Revista Record. Se calhar é por isso mesmo que o humorista voltou à carga. Aos pratos e ao contraste entre Messi e Ronaldo...
"Por exemplo: a lesão do Messi vai fazer com que deixe de ver futebol durante dois meses. Não consigo imaginar o que vai ser do futebol quando o Messi deixar de jogar. É injusto para ele ser comparado ao Ronaldo. Para verem a minha loucura com ele e com o Barcelona, em muitos jogos que vejo em casa até os móveis ganham vida. Basta que marquem um golo importante."
Nem para o culto do ânimo
Já tínhamos degustado – devorado, perdão, a quem estamos a tentar enganar? – as entradas, quando Sinel de Cordes nos explicou que apesar da paixão que nutre pelo futebol raramente o utiliza nos seus espetáculos. "É o pior tema para se tocar", prossegue o humorista.
"Em palco nunca falo de futebol, jamais. Nas redes sociais, sim. Já escrevi para o ‘Record’, já participei no ‘Contragolpe’, da TVI, e gosto mais de fazer isso quando estou a ver jogos, com o Twitter por exemplo. Mas é uma guerra. É o tema com que as pessoas pior lidam. Se fizer uma piada de violação, tenho três miúdas que vão lá comentar; se fizer uma piada de futebol tenho para aí 30 pessoas a dizer que devia morrer", assegurou Rui, que para o novo show que tanta curiosidade está a suscitar na opinião pública, prepara um guião "maioritariamente composto com situações do seu dia a dia em 2015". E, claro, sem futebol. "Meti-me nesta loucura de fazer o Coliseu dos Recreios. Está quase cheio. É o meu quarto solo. Falo de coisas que recolhi no ano de 2015. É stand-up clássico, com muita javardeira. É um tipo de humor que está cada vez mais na moda. É tipo sushi."
Provavelmente está intrigado com o nome ‘Je Suis Cordes’, não? Não esteja. Caso não se recorde, a 7 de janeiro a redação do jornal humorístico francês Charlie Hebdo foi alvo de um atentado terrorista na sequência de uma edição onde satirizava o mundo islâmico. Criou-se, pelo Mundo inteiro, uma corrente de solidariedade – ‘Je Suis Charlie’ – que veiculava a liberdade de expressão como principal foco.
Rui Sinel de Cordes utilizou, um dia depois, a sua página do Facebook para questionar se quem se dizia ‘Charlie’, principalmente no mundo do espetáculo, o seria mesmo. Estamos, aqui, a falar de um ponto de partida para aquilo que promete ser um dos shows do ano. Sinel de Cordes não aborda muito esta base e prefere centrar as atenções na oportunidade que dá às pessoas de olhar para a sua vida pessoal com curiosidade. Mesmo que não acreditem que possa ser verdade...
"Neste espetáculo falo muito de mim. É quase tudo verdade. Histórias com a minha namorada... Muita coisa! Há uma dicotomia entre ser Charlie e as pessoas que não sabem o que isso é mas dizem que são… Há muitos humoristas a aparecer e a fazer humor negro mas tal como o sushi mau há humor negro mau. Há humor negro de topo e humor negro buffet. Mas eu também faço, de vez em quando, algumas piadas mais do lado do buffet", sustenta.
Para algo totalmente diferente
Passamos do palco, do solo, para o show que é o futebol português. É impossível dissociar Rui do humor e o humor de Rui. Vamos lá, então, falar das escolhas do nosso convidado para o sucesso interno. Benfica? FC Porto? Sporting? Surpreenda-se. O humorista tira a águia no voo pelo título...
"Acho que o FC Porto não tem treinador. Com o Jesus ganhava com 20 pontos de avanço e quem sabe a Champions. Não tenho dúvidas disso. O Rui Vitória ainda não percebi se é um merceeiro se é um treinador, o Jesus é um merceeiro que é treinador. Aponto o Sporting e o FC Porto como os principais favoritos. Pelo plantel o FC Porto, pelo treinador o Sporting. Admirava-me muito que o Benfica fosse campeão. Não sei se tem plantel, nem se tem o treinador. A vitória sobre o Atlético Madrid foi importante mas também estamos a falar do pior Atlético dos últimos anos", defendeu.
Acabámos de dizer que é impossível dissociar Rui Sinel de Cordes do humor, aliás, depois de várias experiências profissionais como "dar aulas a crianças – é verdade, acreditem –, como trabalhar para o jornal oficial do Sporting", Cordes chegou à praia, estendeu a toalha e estava o sol suficiente para lá ficar. Ficou no humor e quer continuar "até ser velhinho, até não dar mais".
Bem, já estávamos a ficar cheios nesta altura, mas ainda havia espaço para mais. Com ‘mais’ queremos dizer uma análise humorística às figuras do futebol português. Rui já nos deu uma pista quando abordou as possibilidades dos três grandes no campeonato. Mas somos pretensiosos. E não é todos os dias que temos esta oportunidade.
"O Jesus está muito batido, o Rui Vitória não dá sumo, é um merceeiro e só lhe falta o avental, daqueles que cortam fiambre. Ainda não nos deu muito. Já no V. Guimarães não deu muito – em termos humorísticos, claro. E o Lopetegui é zero. Com o Bruno de Carvalho não consegues fazer muitas piadas em cima daquilo. É complicado porque está sempre a disparar e não sabes quando o deves usar." Conclusões, Rui? "Há muita gente a fazer piadas com futebol. É complicado ser original com esse tema", concluiu o humorista.
Adeus tristeza, até depois
No final desta conversa... somos pessoas muito mais felizes. Rimos, sorrimos e comemos bem. Não acha Rui? "Sem dúvida. Estou cheio. Tudo o que nos trouxeste, Luís [referindo-se ao chef que gentilmente nos acompanhou durante toda a refeição], estava delicioso. Tenho de cá voltar." Saltámos a sobremesa e fomos ao café. Mais adrenalina? Claro. Conseguimos acompanhar o ‘tiki-taka’ da conversa do fanático pelo Barça sem problemas. Mas estamos avisados: é preciso estômago para ouvir o que Rui Sinel de Cordes tem para nos dizer. Se quiser ouvir, dia 16 no Coliseu; dia 6 de novembro no Sá da Bandeira. Mas jante bem.
Cerveja, what else?
Acompanhámos toda a refeição com o sabor da bebida feita a partir da fermentação dos cereais. Atenção, ainda estava um calor considerável quando nos sentámos à mesa com Rui Sinel de Cordes. O humorista preferiu degustar os sabores orientais e portugueses com ora uma imperial, ora uma tulipa. Foi assim até ao final da refeição. Fomos na conversa dele – a dinâmica da mesma tem destas coisas – e não nos queixámos. A verdade é que o requinte e a explosão que foram os petiscos que nos apresentaram só poderiam andar de braço dado com... cerveja, what else?
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