Em Aceh existe uma luz que nunca vai embora

Em Aceh existe uma luz que nunca vai embora
• Foto: PAULO CALADO

Parecia estranho, o Apung 1, local de culto para turistas, mas, sobretudo, nativos. Em linhas gerais, trata-se de um barco gerador elétrico de 2.600 toneladas atracado no coração de Banda Aceh, trazido pelo mar que tudo roubou. Até aqui, nada de especial, não é? Pois, a explicação para este local capaz de arrepiar o mais impassível dos homens é simples, mas profunda: no meio dos destroços de algumas casas que ainda ali estão, aquele barco preso no entulho tinha com ele energia elétrica, um bem essencial no meio da escuridão das noites de há dez anos.

“Naquela altura não era 2004. Era sim um ou dois séculos atrás. De repente, tínhamos tudo destruído, não havia comida, nem sequer luz”, começa por contar Fidos, aqui despindo a farda de motorista e sendo mais uma espécie de guia pela memória. À entrada, um relógio que marca a hora: 8:58:53 do dia 26 de dezembro, foi quando tudo começou e mudou para sempre. A visita é simples e baseia-se num passeio à volta e por cima do barco. Martunis percebeu logo do que se tratava.Também ele tinha estado por lá naquela altura tão especial. O Apung 1 é hoje tratado como uma espécie de monumento à resistência dos habitantes da Sumatra, a zona onde morreram perto de metade das mais de 200 mil vítimas do tsunami. Não é caso para menos. O local arrepia.Significa muito.

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“Toda a gente acampou aqui nos primeiros tempos.Era a nossa única fonte de energia! Não me lembro ao certo, porque a noção do tempo naquela altura era bem diferente da que a maioria das pessoas tem, mas, salvo erro, foram oito meses em que dependemos diretamente do Apung 1. Não foi só claridade na noite aquilo que aqui tínhamos. Era a esperança que habitava neste lugar”, desabafa Fidos.Martunis não disse uma palavra neste local.Deixámos estar. Ele precisa do seu tempo sempre.

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