«Ele não estava em condições de ser o Gonçalo Ramos, ele próprio admitia isso»
É uma ideia romântica?
É uma ideia romântica achar que um jogador que tem um contrato para fazer aos valores que, calculo e imaginamos todos, ele teria para fazer no PSG que na cabeça dele tivesse a disponibilidade total para estar aqui mais uma semana ou 10 dias para afrontar uma final com todos os receios possíveis e imaginários. Desde o principio que se partiu para esta negociação, e ela até se arrastou durante algum tempo porque não conseguimos chegar, ou por outra, queríamos defender a todo o custo aquilo que eram os valores que queríamos encaixar na venda do Gonçalo, ela arrastou-se até bastante mais do que era inicialmente previsível. Mas posso garantir que na cabeça do Gonçalo já não estava o jogo da Supertaça, que foi preparado antecipadamente sem a presença do Gonçalo. É legítimo e normalíssimo que o jogador já não esteja cá com a cabeça e que não queira arriscar sobretudo nada. Acho que usou a expressão justa: é mais uma ideia romântica do que uma ideia real. E nós aqui temos que ser muito objetivos. Tínhamos uma final para jogar e tínhamos que ter em campo os jogadores que estariam completamente disponíveis mentalmente para jogar essa final. E não poderia pedir isso ao Gonçalo sabendo, ele próprio, os riscos que corria para jogar um jogo daquela dimensão. Aquilo que depois se altera aqui é a confiança que temos de ter ou não ter nos jogadores que temos em casa. E é aqui que toco na nossa vertente clube. Fazemos muitas vezes drama onde ele não existe. Lembro-me perfeitamente de no ano passado ter pedido publicamente para que não houvesse grandes euforias quando estávamos com 10 pontos de avanço. Assumo isto como benfiquista, não só como presidente, que este é um dos males do nosso clube. Somos muito positivos assim que alguma coisa está mal, mas também somos muito negativos assim que alguma coisa não nos corre como nós desejamos. Aquilo que apelo, quer como benfiquista quer como presidente, é que consigamos ter este meio termo, este equilíbrio, esta energia positiva. Parece que é sempre um drama quando acontece alguma coisa e parece que são coisas que só acontecem ao Benfica. Já temos muita gente a querer falar de nós, já temos muita gente a querer condenar-nos por tudo e por nada, que sejamos nós a proteger-nos a nós próprios. A situação do Gonçalo Ramos foi muito clara desde o primeiro minuto, quer para o clube, para quem o dirige, quer para o treinador, quer para o Gonçalo Ramos, Não se passou rigorosamente nada que nos afastasse ou tirasse o foco daquilo que era o jogo da Supertaça. Felizmente, ganhámos o jogo mas trabalhámos para esse felizmente e, já naquela altura, sem o Gonçalo Ramos porque ele não estaria em condições de o fazer. Não estaria em condições de dar o melhor contributo, o contributo que nós sabemos que ele sempre deu ao Benfica. Ainda para mais quando estamos a falar de um jogador tão generoso como o Gonçalo, sempre foi uma das suas principais características. Ele não estava em condições de ser o Gonçalo Ramos, ele próprio admitia isso. Portanto, não houve da nossa parte nenhum medo em enfrentar aquele jogo sem o Gonçalo Ramos, nem nenhuma forma de não aceitar que o negócio se desenrolasse por ele próprio. Ainda bem que tudo acabou bem, mas mesmo que assim não fosse é importante esta nota para todos nós benfiquistas, este equilíbrio que temos de criar. Repare-se: veio o Di María e o Kökçü íamos ser campeões europeus; depois perdemos o Gonçalo afinal a coisa já não vai correr bem; depois perdemos o jogo no Bessa, da maneira como foi e que toda a gente assistiu. Portanto, foi um jogo que aconteceu… não que a nossa equipa não tivesse lutado para isso. Aliás, acabámos por perdê-lo porque estando empatado 2-2 a jogar com 10 quisemos ir à procura do terceiro golo e acabámos por sofrer. Fizemos de tudo para sair dali com os 3 pontos, mas dramatizamos muito assim que há um momento menos positivo. Percebo perfeitamente, sou benfiquista, conheço perfeitamente o clube, mas é essencial para o nosso clube criar este equilíbrio. Não estarmos demasiado optimistas porque fizemos um bom jogo, ter os pés bem assentes no chão, mas ao mesmo tempo não dramatizar assim que alguma coisa não corre bem. Puxei aqui o caso do Gonçalo porque foi onde senti muito este balanço, que na minha ótica, na minha forma de estar no futebol e na minha experiência futebolística não justificava tudo isto.