Octávio, o «Palmelão»

PALMELA aprovou o regresso de Octávio ao futebol. A vila alcandorada na Arrábida enche-se de orgulho por o seu filho devolver-lhe peso mediático. A gente da terra, por onde passaram celtas e romanos, uma terra umbilicalmente ligada à Ordem de Sant’Iago e disputada por árabes e cristãos no período da Idade Média, reconquistada, a título definitivo, aos árabes, nos idos de 1165, divide-se em sportinguistas e benfiquistas. Os portistas não contam para as estatísticas. No entanto, os palmelenses estão de corpo e alma com a mais recente opção do contumaz Octávio.

O sucesso do “Baixinho”, como muitos o tratam, no FC Porto será, em certa medida, o sucesso dos conterrâneos. Muitos detestam-no. Mas a maioria elogia-o. Alguns preferiam vê-lo, de novo, em Alvalade ou, então, na Luz. Mas o “rato atómico” escolheu as Antas como destino. E não se importam. Querem é que tenha sorte, que se fale de Palmela. Estão felizes, vão torcer por Octávio, mesmo que o considerem teimoso que nem uma porta, polémico, controverso, mesmo que sintam que dispara sem eira nem beira, mesmo que aponte para vários alvos, às vezes sem munições. Eles sabem que, agora, Palmela entra na rota das notícias, de forma constante. Por isso, dizem que “o nome de Octávio é a melhor e mais barata promoção do concelho”.

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Omnipresente

O neto e filho de bombeiro, um bombeiro que foi comandante, é um homem que não se cansa. Ele não pára. Ele tem sempre corda. Por isso, trabalha, trabalha, trabalha. Por isso, entrega-se às causas com uma dedicação sem limites, difícil de imitar. Ele é omnipresente. Está em toda a parte, cuidando daquilo em que se envolve. Waseige, de quem foi adjunto no Sporting, de forma paradigmática, um dia, explicou isso mesmo. O belga abria uma gaveta e quem é que via? Octávio, pois claro.

Octávio trabalha muito, porque explora bem o dia. Às seis da manhã já está na estrada, para “pegar” os assalariados da Quinta do Mocho e das outras propriedades, entre Palmela e Setúbal. Tem tempo para colóquios, para ler os jornais, para fazer comentários na Imprensa, escrita ou falada, para dirigir a mesa da Assembleia Geral da Adega Cooperativa de Palmela, para presidir aos bombeiros da terra. Tem tempo para marcar o ponto, diariamente, na corporação ou para ir aos incêndios e aos acidentes, seja a que hora for. O dia para ele não tem horas. As horas para ele são o acumular de minutos gastos na entrega às mais variadas causas. E nem a mudança para a Invicta produzirá alterações. Ele continuará a presidir à Direcção dos bombeiros e à Assembleia Geral da cooperativa. Aliás, no tempo da passagem pelo Sporting ele não deixou de liderar a corporação. Também não abdicou da presidência da Sociedade Filarmónica Humanitária quando estava no Porto. Arranja, sempre, tempo para tudo. É preciso é vontade. E essa até lhe sobra.

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Político laranja

Só na política é que Octávio cedeu. O social-democrata já não se envolve em campanhas desde que entrou para os bombeiros. Mas, mesmo assim, sem vestir a camisola laranja, assume, de quando em vez, o papel de político, na legítima defesa da terra. O presidente da autarquia, o comunista Carlos Sousa, que se prepara para fazer frente, em Setúbal, a Mata Cáceres, está aí que não nos deixa mentir. Os bombeiros não morriam de amores pelo autarca. A Câmara atribuía à corporação 600 contos por ano. Octávio, pragmático, atalhou caminho. Retaliou. Contornou o protocolo numa cerimónia dos bombeiros. Deu-se a aproximação e disse o que lhe ia na alma. Hoje, as três corporações do concelho – Palmela, Águas de Moura e Pinhal Novo – recebem da autarquia 100 mil contos por ano.

O “Palmelão” é um agitador. De causas. E não gosta de perder. Nem na sueca. Nem no dominó. Muito menos na caça. Talvez por isso tenha um “plantel” vasto, formado por 22 cães. Os seus meninos e as suas meninas, que são tratados por igual, apesar de todos diferentes. Mas, às vezes, a sua forma de estar na vida traz-lhe dissabores. Ele aceita as críticas, quando são justas, mas não gosta de pagar por aquilo que não faz. Como faz tanta coisa, tem a fama de fazer tudo. É o caso do célebre busto que foi retirado do quartel dos bombeiros, cujas repercussões chegam ao futebol. Isto a fazer fé no presidente do Palmelense. Octávio não gosta, diz quem o conhece, da conversa do seu amigo Francisco Cardoso. “Retiraram o busto do Xavier de Lima e o homem deixou de apoiar o Palmelense. Dava-nos seis mil contos e nunca mais recebemos um tostão”, afirma o líder do clube.

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A história do busto de Xavier de Lima, que chegou a presidir ao V. Setúbal, é conversa obrigatória entre os bombeiros do concelho. Tudo se passou já na gestão de Octávio, atirado para a cabeça do toiro. A decisão não foi dele, mas, sim, da equipa que dirige a corporação palmelense. “O Octávio é um líder, mas, aqui, funcionamos em equipa, como, de resto, ele próprio estimula”, conta um colega de Direcção.

“Xavier de Lima foi deselegante para a corporação. No entanto, o busto foi colocado na nossa casa pela Federação dos Bombeiros do Distrito de Setúbal. Como ele fez bem às corporações, entendemos que não era justo só nós o homenagearmos. Por isso, a seguir a uma assembleia, retirámos o busto, para que os outros pudessem dar o seu tributo a quem tão bem fizera. No Seixal não quiseram o busto, em Cacilhas também não e, claro, entendemos entregá-lo à Federação, para lhe dar o destino mais adequado. Assim, estavam todos em pé de igualdade para prestar a merecida homenagem ao senhor”, conta o vice-presidente António Barrocas e nosso cicerone nesta viagem por Palmela.

”Caceteiro” assumido

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E a viagem terminou com um Benfica-Sporting. Os velhos rivais de Palmela são os “Loureiros” e os “Caceteiros”, sociedades filarmónicas centenárias. Hoje, privilegiam a sã convivência, até porque há palmelenses, e muitos, filiados nas duas, como é o caso de Octávio, que, no entanto, é descaradamente “caceteiro”. Aliás, chegou a presidir à Direcção, num período mais recente, quando a rivalidade já não era extrema. Noutros tempos, sim, diz-se, atenção, as filhas dos “caceteiros” eram proibidas de casar com filhos de “loureiros”. Hoje, não é bem assim. Todavia, Francisco Cardoso, um “loureiro” que presidiu aos “caceteiros”, jamais poderá desempenhar semelhante papel na sua casa-mãe, como advertiu o actual presidente, Rogério Almeida, o único palmelense que não vê com bons olhos a escolha de Pinto da Costa. Diz aquele simpatizante portista que Octávio deveria, sim, ser o nº 2 da estrutura. E é. À sua frente só está o presidente dos dragões.

BOMBEIROS

OCTÁVIO é um bombeiro sem farda. Acorre a incêndios e acidentes. Assim que sabe de uma ocorrência e pode, aí vai ele, disparado, sem sirene. Ele não é mais um suplente, é um reforço. E leva, consigo, uma palavra de estímulo. “Força, campeões” do campeonato da ajuda. Não faz o trabalho de sapa. Move-se na retaguarda. Atenua a fome à sua equipa, sujeita, quantas vezes?, a prolongamentos atrás de prolongamentos. Mata a sede aos seus homens, sedentos de evitarem a resolução pela morte súbita. Estar por dentro do jogo é o golo dourado que o presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Palmela gosta de marcar.

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O “Palmelão” tem, porém, um excelente Drulovic a fazer-lhe os passes – assistência é terminologia do basquetebol –, o seu amigo António Barrocas, vice-presidente de uma direcção que, há seis anos, vem conquistando campeonatos no concelho – “há três corporações, mas nós fazemos 46 por cento do serviço, ou seja, temos mais serviços que os Sapadores de Setúbal, que são pagos” – e quer ir muito para lá do “hexa”. Combinam muito bem e prometem continuar a dupla, apesar do Octávio se mudar para o rival.

Barrocas é leão de gema e, por isso, teve pena de ver Octávio deixar o seu clube. Está por dentro das histórias, mas não as desvenda. Às vezes, apetece-lhe enviar uns sinais de fumo. O Sporting mexe com o seu coração, mas esta contratação portista não lhe rouba a razão: “Antes de ser sportinguista sou amigo do Octávio. E aos amigos, claro, desejamos os maiores sucessos. Custa um bocadinho, mas custaria mais não ser amigo do Octávio.”

O presidente dos bombeiros “é detestado por muita gente de Palmela. E sabe porquê? Por ser muito frontal e isso, claro, faz confusão a certas pessoas. O Octávio é, acima de tudo, um homem de trabalho. É um trabalhador incansável”, sintetiza Barrocas.

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“Trabalho, trabalho, muito trabalho.” Todos sabemos. Ninguém contesta. Mas, bolas, o homem será um poço de virtudes? Nem um defeitozinho, para contrariar? “É teimoso que nem uma porta”, blindada, acrescentamos, como forma de provocação. Barrocas não define as características da dita e troca-nos as voltas: “Além do mais, é perspicaz e inteligente.”

... E não se cansa. “O ‘Baixinho’ parece um rato atómico [o mesmo já se disse de Rui Barros], anda sempre de um lado para o outro, com uma entrega e alegria notáveis”, explica, ainda, o “vice” de uma corporação com 90 homens e 4000 associados. Por isso e muito mais, a mudança de Octávio da agricultura para o futebol, que é como quem diz de Palmela para o Porto, não provocará mexidas na Direcção dos bombeiros. “Estamos juntos há seis anos. De avião, comboio ou automóvel, ele não deixará de estar envolvido no projecto”, diz Barrocas. O comandante Manuel Simões subscreve e o subchefe Rui Fidalgo assina por baixo. À revelia, em surdina, alguém vai mais longe: “Ele passa mais tempo nos bombeiros do que o comandante.” Quando não tem nada para fazer, o que é difícil, passa duas a três horas por dia junto dos seus homens. “Vem cá todos os dias marcar o ponto. Ainda hoje [quinta-feira] cá esteve, pela fresquinha”, antes de ir para o baptizado da filha do internacional Beto.

Mas, numa “sondagem”, realizada em plena parada, ficámos a saber que a maioria dos bombeiros votaria a ida de Octávio para o Benfica. “Aqui, há só três ou quatro portistas e esses... não contam.” Mas quem decidiu foi o Octávio. Está decidido. Por isso, “presidente, estamos contigo” – será o “slogan” que Barrocas e amigos transportarão, com frequência, para as Antas ou outros campos da bola. Menos Sporting e mais Futebol Clube do... Octávio, portanto.

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PALMELENSE

OCTÁVIO é um sócio desligado, se considerarmos as vezes que viu jogar, na época passada, o Palmelense, que baixou ao Distrital de Setúbal, não obstante as décadas que leva de filiação clubística. Isto a fazer fé no presidente do clube onde o próximo treinador do FC Porto se iniciou.

Francisco Cardoso, benfiquista assumido e um dos muitos dirigentes anónimos e benévolos do luso Desporto, não gasta muito tempo a pensar. Na época que acabou, o Octávio, diz, “viu um ou dois jogos nossos”. Cardoso não esconde alguma mágoa, mas reconhece a existência de uma substantiva razão para o divórcio, extensivo a muitos outros associados, ou seja, o facto de a equipa ter actuado no relvado do Municipal, mais longe e com acessos pouco convidativos.

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Na próxima temporada, os palmelenses voltarão, contudo, ao velhinho Cornélio Palma, que se vislumbra muito bem da casa de Octávio, a quem o presidente reclama ajuda: “Ele vai ter de nos arranjar um patrocínio.” Enquanto o pedido não chega ao destinatário, Cardoso trata de angariar um anunciante, na presença de Record, inicialmente por 60 contos/ano e, depois, com um pouco mais de conversa, própria de vendedor de rodapés ou oitavos de página, por uma centena de milhar de escudos.

Concluído o negócio com o cicerone do nosso jornal, Francisco Cardoso, aceita o repto: “Como encaro a ida do Octávio para o Porto? Com naturalidade. Da mesma forma que o vi ir para o Sporting ou da primeira vez que foi para as Antas. Tenho, evidentemente, de ficar satisfeito, porque se vai falar mais da nossa terra e por se tratar de mais um produto do Palmelense.”

Mas será que o amigo Cardoso não preferiria ver o “Palmelão” a treinar o Benfica? A resposta ficou adiada, até uma próxima oportunidade. O presidente do clube onde jogou Camolas, Jaime Graça, Henrique Jones, agora médico das selecções – “estudava Medicina enquanto representava o Palmelense” –, e Ernesto, guarda-redes da equipa nacional de sub-21, é diplomático. Sabe que o “seu” Benfica não procurava técnico (principal, esclareça-se) e, por isso, “corta” a linha de passe. “O Octávio defende, sempre, com todas as forças, o clube que representa.” Estamos esclarecidos.

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«CACETEIROS»

OCTÁVIO foi presidente da Direcção da Sociedade Filarmónica Humanitária, vulgo “Caceteiros”. Durante dois anos liderou os destinos da sociedade de “baixo”, depois de vencer as primeiras eleições com duas listas concorrentes. Trabalhava, então, no FC Porto. E tudo correu sobre esferas, como recorda o vice-presidente Ulisses Machado, um veterano das actividades culturais, curiosamente, sócio, há 61 anos, da sociedade rival, “Loureiros”.

O apelido dava para desconfiar. Mas foi o dirigente “caceteiro” que mais rapidamente apareceu no imenso imóvel adornado com a sedutora pedra da Arrábida. E a suspeita tinha razão de ser. O sr. Machado é tio e padrinho de casamento de Octávio. Conhece-o melhor que ninguém: “Pudera, foi criado comigo.”

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Homero, com este Ulisses, estava tramado. Não poderia contar as aventuras do tio de Octávio. A vida ensinou-o a ser experiente. O sr. é portista, sportinguista ou benfiquista? – questionámos. Reparem na resposta: “Sou... Octávio.” Fez um hiato, encheu o peito de ar, como que a preparar-se para erguer o halter. Depois, o complemento da resposta: “Foi ídolo do Palmelense, do Vitória, do FC Porto, do Salgueiros, novamente do FC Porto e, finalmente, do Sporting. Onde estiver, o Octávio estará bem. Ele sabe o que quer, é um homem de ideias fixas. Com ele, estamos, sempre, à vontade. Tem uma força interior enorme. Não sabe parar. Estou satisfeito por ele voltar ao futebol e, logo, a um grande clube, que conhece muito bem e no qual teve uma carreira brilhante. Vai fazer o que gosta e só isso me deixa feliz.”

Os elogios são óbvios, mas incontornáveis. Diz o sr. Machado que o sobrinho é um homem especial, porque a capacidade de trabalho é vastíssima, do Desporto à agricultura, passando pelos bombeiros e sociedade. Mas, claro, sabe que ninguém é perfeito, nem o afilhado, “um homem muito teimoso. Pensa pela cabeça dele, não dá importância ao que dizem os outros, embora saiba escutar as opiniões.”

«LOUREIROS»

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OCTÁVIO é, assumidamente, “caceteiro”. No entanto, está filiado na Sociedade Filarmónica Palmelense-“Loureiros”, a rival, a de “cima”, também ela centenária, também ela com obra no campo cultural. O “Palmelão”, às vezes, petisca, com os amigos, naquela sociedade, mas o seu amor está virado para o fundo da rua, para perto de casa.

É, contudo, nos “Loureiros” que alguém e alguém de “peso”, não físico, esclareça-se, se assume, clubisticamente. Falamos do presidente, Rogério Almeida, um portista simpatizante. “Ainda o Octávio não sonhava ir para as Antas já eu era simpatizante do FC Porto”, esclarece, altaneiro.

Mas, sem sofisma, Rogério Almeida afirma que Pinto da Costa não fez a aposta certa. Para o presidente dos “Loureiros”, “Octávio não é uma boa escolha” para o “seu” FC Porto. “Acho que dava um bom segundo. Isso, sim. Sinceramente, esta opção constituiu uma surpresa para mim. Mas, de qualquer forma, fico satisfeito. E, se as coisas correrem mal, temos a vantagem de lhe dizermos as coisas aqui, olhos nos olhos.”

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QUINTA DO MOCHO

OCTÁVIO tem uma vinha imponente na Quinta do Mocho, onde não faltam pêssegos (carecas) e onde as nespereiras ganham corpo. Os cães abundam, são quase às dúzias, “trabalhando” em regime de exclusividade. Na quinta passam a maior parte do tempo, mas, de quando em vez, fazem horas extraordinárias, na caça, outra das paixões do dono.

Hermínia Marques, mulher de meia idade, sportinguista de Pontes, é a guardiã do canil, mas também ela teve de se adaptar às novas realidades, sendo, por isso, ecléctica, o que não é de estranhar, se considerarmos o à-vontade com que enfrenta os jornalistas enquanto a sua mão “mede” o pêssego, de calibre, pareceu-nos, 28.

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O Octávio é bom ou mau patrão? – foi a primeira pergunta colocada à funcionária mais antiga da Quinta. “É bom patrão, mas muito exigente. Quer tudo direitinho, tudo perfeito”, replica Hermínia Marques.

Sem se acanhar, a leoa diz que o patrão, que nunca lhe arranjou um bilhete para ir ver o Sporting – “pode ser que arranje forma de me convidar para assistir a um joguinho do FC Porto” –, percebe de agricultura. Sabe mesmo ou dá-lhe um jeito? “Sabe, sabe. Ele percebe de tudo. É o homem dos sete ofícios”, argumenta.

Irá, agora, Hermínia afagar menos pêssegos? Diz que não. “O patrão vai para fora, mas não haverá dia santo na loja. Aqui, há muito trabalho para fazer e eu não gosto de estar parada. A apanha da D. Maria [uma qualidade de uva] vem aí”, retorquiu, confessando, entretanto, que, por um lado, está contente por Octávio ir para o Porto, “porque vai ganhar mais dinheiro, o que é bom para o seu futuro, até porque a agricultura está mal. Mas, por outro, sinto-me triste por o ver partir. Ele é bom rapaz.”

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O AMIGO VENÂNCIO

OCTÁVIO sabe – se não sabe, fica a saber – que tem em Pedro Venâncio, simplesmente Venâncio para os amantes do pontapé na bola, um amigo. O antigo “central” e capitão do Sporting, proprietário, de parceria com António Barrocas, seu primo, da Corelli, sem favor uma das melhores lojas de pronto-a-vestir de Setúbal e, já agora, de quando em vez, uma espécie de delegação dos Bombeiros de Palmela – ali se alinhavam estratégias, ali se enviam faxes da luta dos soldados da paz –, não é pobre nem mal agradecido. Por outras palavras, não esquece que o “Palmelão” o fez retornar a Alvalade, treinando jovens e, posteriormente, acolitando Augusto Inácio.

Venâncio fez parte do grupo que devolveu a glória aos leões. Mas, pelo que conta, com mágoa, foi ignorado. Como ficou sentido, moveu uma acção ao clube. “Fiz parte da equipa que foi campeã e, como tal, tinha direito ao respectivo prémio. Às vezes, diz-se que a palavra vale mais que um papel. A palavra não foi cumprida. Roeram a corda”, alega.

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O antigo capitão dos sportinguistas ficou feliz pelo regresso do agricultor Octávio ao futebol e, ainda por cima, ao clube onde “ganhou muita coisa”. A felicidade do setubalense Venâncio é redobrada: “Admiro muito o Octávio, como aprecio imenso o prof. Rui Oliveira.” Mas, claro, não esconde: “Preferia vê-los a trabalhar em Alvalade. Assim, vai seguir com alguma atenção a carreira dos portistas, que escolheram um técnico “rigoroso e disciplinador”. O FC Porto, sublinha, fez a aposta certa, “escolheu um técnico que privilegia o trabalho, condição base para se chegar ao sucesso”.

Transferência recorde vale 60 contos

Octávio foi o jogador que mais rendeu na história do Palmelense. A transferência do médio de Palmela para o Vitória de Setúbal rendeu aos cofres do clube seis dezenas de contos, o que, nos dias de hoje, parece um montante ridículo, equivalendo praticamente ao salário mínimo nacional. Mas, na época, convenhamos, era uma maquia considerável.

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A mágoa de não ter jogado no Benfica

Depois de representar o V. Setúbal, Octávio mudou-se para o FC Porto, onde conheceu os momentos mais altos da carreira. Mas, segundo o presidente do Palmelense, Francisco Cardoso, o “Palmelão”, na altura, esteve para se transferir para a Luz. “Ele nunca contou isso, mas é verdade. A sua grande mágoa foi não ter jogado no Benfica. Os familiares dele, são, aliás, benfiquistas”, diz Francisco Cardoso.

O jantar incompleto com Luís Duque

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Na época finda, Octávio voltou a ser convidado para treinar o Sporting, mas não aceitou o repto. Teve, isso sim, o prazer de receber, em sua casa, para jantar, Luís Duque. Mais tarde, o então presidente da SAD sportinguista escreveu-lhe, para agradecer a maneira como fora recebido naquele que apelidaria de “jantar incompleto”, como um bisbilhoteiro, um dia, viu.

O jipe particular ao serviço do comando

O parque automóvel de Octávio é reduzido e está um pouco estafado. Octávio não gosta de exibir sinais de riqueza. Há, aliás, quem o considere forreta. No entanto, reconhecem que é um mãos-rotas a colaborar, não financeiramente, mas com dedicação. Os bombeiros, por exemplo, ainda hoje falam do seu jipe, que funcionou como autocomando enquanto a corporação não possuía viatura para o efeito.

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A sesta na marquesa do Estádio de Alvalade

Octávio é um homem modesto, sem peneiras e com uma grande facilidade de adaptação, razão pela qual, conta um dos seus melhores amigos, recusou, por exemplo, uma cama de hotel para dormir as sestas antes das sessões vespertinas do Sporting: “Havia um treinador que o fazia, mas o Octávio disse que não queria. Para descansar, uma marquesa, algures numa cabina de Alvalade, chegava-lhe.”

Produtor de vinho prefere a água

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O presidente da Assembleia Geral da Adega Cooperativa de Palmela é um médio produtor de vinho. Octávio sabe da poda, transmitiu o vício ao filho, igualmente Octávio, que está a cursar Engenharia da Qualidade – a filha, Márcia, concluiu Medicina Dentária –, gosta de discutir sobre a bebida dos deuses, mas pouco ou nada bebe e quando o faz é à refeição. A água é o seu néctar preferido.

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