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Depois de Kelvin fazer história aos 92 minutos, agora foi Josué a mudar o destino aos 95. Ainda não é caso para inaugurar o Espaço J no Museu do clube, mas o médio que tantas vezes se destaca pelas piores razões, desta vez mostrou que também consegue ser decisivo, mantendo os azuis e brancos em prova na Taça da Liga: um êxito com o valor acrescentado de causar um amargo de boca ao leão e permitir antecipar uma receção quente ao Benfica na meia-final da única competição interna que os dragões nunca venceram.
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Nem por acaso, foi do novo herói dos descontos a primeira mensagem conhecida nas redes sociais dirigida ao já ausente Lucho González. Sem El Comandante, que optou pelo Qatar com a temporada a entrar na fase decisiva, o FC Porto perdeu clarividência e passou por uma verdadeira noite de horrores no plano exibicional. Havia que golear para manter o Sporting controlado, mas enquanto os leões tremiam em Penafiel, os portistas decidiram complicar o que parecia fácil e deixaram a vantagem inicial escapar por entre os dedos, vendo-se a perder de forma inesperada.
Não havia rastos da tal equipa demolidora que vinha arrasando os adversários em casa ao ponto de obter um parcial de 19-0, muito menos do Marítimo submisso que acumulava cinco derrotas severas consecutivas na Invicta. Paulo Fonseca até cumpriu o guião aguardado e colocou os pesos-pesados em campo, confirmando a importância estratégica da Taça da Liga, mas o estatuto dos nomes teve escassa correspondência na dinâmica. Pedro Martins nem precisou de apostar na maioria dos seus habituais titulares para colocar grãos de areia numa engrenagem portista com ritmo errático, incapaz de carburar ofensivamente ou, apenas, ligar os sectores.
A proteção dos médios verde-rubros ao espaço interior bloqueava a iniciativas tímidas de Danilo e Alex Sandro. Face à desinspiração de Varela e Quaresma, que não conseguiam comunicar com Jackson, o tento que o colombiano apontou parecia vital para tranquilizar a equipa, dando o tiro de partida para um desempenho mais condizente com o investimento realizado. Só que a primeira reviravolta da noite foi dos visitantes, aproveitando na perfeição dois lapsos defensivos portistas: primeiro na cobertura a Fabiano. Golpes que ficaram impunes, dado que Fernando e Defour voltaram a anular-se e Carlos Eduardo teve de fugir da zona de criação para ter jogo.
Milagre
Era preciso subir uma montanha do tamanho do madeirense Pico do Arieiro para evitar o colapso, dado que o Sporting já tinha começado a reagir no 25 de Abril, mas a revolução que se esperava no regresso do intervalo tardou em ser consumada. O primeiro remate do FC Porto na 2.ª parte aconteceu aos 71’, e não se registou qualquer oportunidade séria até à igualdade conseguida, após canto de Josué, por Carlos Eduardo. Nessa altura, já Paulo Fonseca tinha desistido de recorrer a mecanismos coletivos equilibrados para derrubar o Marítimo: Fernando tinha dado lugar a Josué, por lesão antes do intervalo; a troca de Defour por Ghilas era esperada depois do entendimento do argelino com Jackson na jornada anterior da Taça da Liga; a entrada de Quintero por Maicon configurou um 3x3x4 que acabou por ser demasiado cáustico para os maritimistas que, apesar de duas oportunidades onde podiam ter sentenciado a partida, sucumbiram à pressão. A generosidade de Ghilas arrancou o penálti de Rossi e o milagre dos descontos voltou a produzir-se no Dragão. A fé move montanhas, é certo, mas convém não abusar tanto da paciência da Virgem.
Árbitro: Manuel Mota (nota 2)
A decisão crítica do encontro foi bem tomada por Manuel Mota, dado que Igor Rossi excede-se na disputa física e comete falta sobre Ghilas. Por entre alguns altos e baixos, o árbitro de Braga destacou-se pela bola ao solo que assinalou na área do Marítimo, numa situação onde tinha havido penálti sobre Carlos Eduardo, permitindo uma molhada de jogadores à sua volta mais adequada ao râguebi.
Momento: minuto 90'+5
Após o penálti falhado em Madrid, num momento crucial da Liga dos Campeões, Josué foi novamente confrontado com o trauma dos 11 metros. Desta vez foi mais assertivo e superou Wellington, correndo como um louco para os SuperDragões.
Nota técnica
Paulo Fonseca. Sem soluções estruturadas para mudar o encontro, foi obrigado a meter a carne toda no assador. A falta de Rossi sobre Ghilas alterou a sorte. (3)
Pedro Martins. Só manteve cinco titulares da Luz mas soube montar uma equipa solidária e irreverente que fez sofrer o FC Porto e ameaçou o escândalo. (3)