A célebre aposta com Maradona contada na primeira pessoa, os motivos para ter abandonado Alvalade sem títulos, a convicção de que está no momento de Rui Patrício sair e o sonho de orientar os verdes e brancos: o antigo guarda-redes não é homem de meias-palavras...
RECORD – Surpreende-o saber que o Sporting comanda a Liga?
TOMISLAV IVKOVIC – É uma surpresa muito grande, porque nas últimas épocas o Sporting não tem estado no topo da tabela. Mas vi um par de jogos e noto que a equipa está muito mais forte. Com tanta disponibilidade para lutar e jogar, os resultados melhoraram. Os sócios gostam que se deixe tudo em campo, porque a garra é um dos símbolos do Sporting.
R – Crê que a liderança pode ser um fator extra de pressão, numa equipa dominada por jovens?
TI – Os jovens têm o dever de dar tudo, mas também têm direito de jogar mal e errar. Era muito mau que agora se pressionasse a equipa. O Sporting está em 1.º, com todo o mérito, mas não é esse o seu lugar. Temos de ser objetivos. Quem anda no futebol sabe que FC Porto e Benfica podem fazer melhor. Ambos tiveram jogos difíceis na Europa, com custos no plano físico e mental. O desgaste deles é muito maior do que o do Sporting, que está só no campeonato. A segunda volta vai ser, com certeza, muito mais difícil. Por isso deixo um aviso aos sócios e adeptos do Sporting, para que não sejam críticos, antes realistas, e apoiem a equipa. Mostrando este nível e acabando nos três primeiros, toda a gente ficará satisfeita. Não pressionem os jovens. Deixem-nos jogar, aprender e melhorar.
R – Esteve no Sporting de 1989 a 1993, com plantéis recheados de bons jogadores, mas saiu sem títulos. Como explica?
TI – O Sporting tinha jogadores fantásticos, como Luisinho, [Carlos] Xavier, Douglas, [Fernando] Gomes, Venâncio, Silas e Oceano. Quando me lembro que não ganhámos nada, até fico maluco! Sousa Cintra, o nosso presidente, não tinha experiência futebolística nem paciência. E as pessoas à volta dele não eram bons conselheiros. Inclusive, apreciavam a sua falta de calma. Exigiam e pensavam que os resultados chegavam num par de dias. Mas isso no futebol não existe. A diferença estava na organização do FC Porto, ao nível dos melhores da Europa. O único que mandava era Pinto da Costa. Sabiam o trabalho que faziam e defendiam-no, mesmo nos momentos menos bons. O que não acontecia no Sporting. Quando ganhávamos éramos os melhores, os mais bonitos, quando havia uma derrota era uma tragédia. Compravam-se jogadores, mudavam-se as equipas, os treinadores. Não tínhamos continuidade e sem ela era impossível ter resultados.
R – Qual a melhor memória que guarda da passagem pelo clube?
TI – As meias-finais da Taça UEFA [em 1990/91]. Perdemos com o Inter. mas fizemos grandes jogos.
R – Na época anterior [1989/90] ficou célebre a sua aposta com Maradona. Quer recordar?
TI – Foi num Nápoles-Sporting, da 1.ª eliminatória da Taça UEFA [decidida nas grandes penalidades]. O Maradona era o último a bater o penálti, e se ele marcasse acabava o jogo. Aproximei-me e disse-lhe: “Não vais marcar! Queres apostar 100 dólares?” O árbitro ficou a olhar, ele hesitou e eu insisti: “Queres ou não?” Ele acabou por aceitar, rematou muito bem, mas tive sorte e defendi. No final, deu-me os 100 dólares e a camisola.
R – No Mundial’90 voltaria a defender um penálti dele [num Argentina-Jugoslávia, dos quartos-de-final].
TI – Sim. Um dia antes do jogo, um jornalista alemão perguntou-me como seria se fôssemos a penáltis e eu respondi-lhe que defenderia outra vez. Ele quis saber se eu apostaria de novo e pedi-lhe que falasse com Maradona. Foi ao treino da Argentina, perguntou-lhe e ele recusou, porque queria concentrar-se no jogo. Nesse penálti, quando ele pegou na bola, chamei-o. Mas ele nem tinha coragem de olhar para a minha cara. Simulei o movimento para o mesmo lado do Nápoles-Sporting, lancei-me para o contrário e defendi. Enganei-o, praticamente deu-me a bola.
R – Por falar em Mundial, Croácia e Portugal vão estar no próximo. O que espera das duas seleções?
TI – Com um pouco de sorte, podem passar à segunda fase, o que já seria bom. Mas as equipas são muito equilibradas. Nem a Espanha pode dizer que vai ser campeã ou que vai passar. Desejo-lhes sorte. Estarei a apoiar.