Madeira Rodrigues e as palavras de Bruno de Carvalho: «Arrependimento com lágrimas de crocodilo»

Madeira Rodrigues
• Foto: Lusa

"Caros sportinguistas, tentei evitar mas, tal como muitos de vocês, não resisti a ler o discurso que Bruno de Carvalho não teve coragem de proferir na Assembleia Geral. Desta vez o ‘canto da sereia’, cheio de mentiras, exageros, vitimizações e um arrependimento com ‘lágrimas de crocodilo’ já não resultou e transformou-se ontem, acredito, no seu 'canto do cisne'.

Olhando para trás, fico a pensar como é que foi possível tantos e tantos sportinguistas terem embarcado nesta lamentável deriva totalitária e populista que Bruno de Carvalho preconizou, ao arrepio daquilo que o Sporting sempre foi. Choca-me, acima de tudo, a cumplicidade de muitos ‘notáveis’ e comentadores que, na esmagadora maioria dos casos, ainda não reconheceram publicamente o erro que fizeram.

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Em 2011 tive o azar de conhecer Bruno de Carvalho, que já era na altura o mesmo mentiroso compulsivo que é hoje. Frio, calculista e manipulador gizou uma estratégia inteligente para se tornar dono e senhor do Sporting por muitos anos, acima de tudo, como foi ficando óbvio, para lhe garantir e às suas famílias, uma forma de subsistência como nunca tinha tido na vida.

Em 2013 herdou um clube, de facto, numa situação complicada mas com vontade de se pacificar (os pouco ‘arruaceiros’ estavam agora do lado de dentro), com uma ‘fornada’ da formação e de miúdos (que foram saindo) como há muito não me lembro: Rui Patrício, Cédric, Arias, Rúben Semedo, Eric Dier, Ilori, Bruma, Adrien, João Mário, William Carvalho e Carrillo, só para nomear alguns, eram garantia de um futuro risonho. Infelizmente todos saíram sem ser campeões.

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Tínhamos ainda uma reestruturação financeira organizada e até negociada. Havia ainda uma massa adepta que não se revia num afastamento que foi havendo entre dirigentes e sócios e que estava disposta a dar o benefício da dúvida a quem trouxesse um estilo diferente.

Bruno de Carvalho não conseguiu aproveitar este enorme capital e, em cinco anos, o que conseguiu foi transformar o Sporting, de um chamado clube ‘diferente’ do qual todos nos orgulhávamos, ganhando ou não títulos, para um que, continuando a não ganhar no que mais interessa (nisso ajudou a sistemática má relação entre presidente e bons treinadores que fomos tendo, mérito aqui lhe seja dado), passou para fora uma imagem de um clube de gente mal formada e com uma obsessão mal resolvida com o rival de Lisboa que aproveitou para ir ganhando títulos.

Em 2018 Bruno de Carvalho deixou o clube muito dividido (talvez seja esta a pior herança que deixou), tendo lançado sportinguistas contra sportinguistas e pondo epítetos, nomeadamente o célebre ‘sportingados’, a quem ousava criticá-lo.

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Em termos financeiros não soubemos capitalizar a tempestade favorável perfeita da conjugação da reestruturação financeira, aumento generalizado dos direitos televisivos e explosão dos valores de passes de jogadores com particular apetência para jovens, como os que nós tínhamos. A actual direção quase que teve agora de transformar um empréstimo obrigacionista numa espécie de ‘Operação Coração’ e lá responderam os sportinguistas (por favor acabem com a conversa dos verdadeiros e não verdadeiros) que voltaram a salvar o clube de uma situação muito complicada.

Até o Pavilhão João Rocha, no qual teve inegável mérito na construção (sempre com o tal fito da perpetuação no poder), partilhado com os seus três antecessores no cargo, fica ‘sujo’ pela forma como foi pago (e aparentemente ainda não na totalidade, já para não falar nas notícias de desfalques que saíram esta semana). A frase própria na estátua do leão é o símbolo máximo de quem se julgou dono do Sporting e só espero que haja um dia decência para a retirar.

Contratámos jogadores como nunca, a uma média superior a 30 por ano, apoiado por uma fraca equipa de ‘scouting’ que foi sendo destruída aos poucos. Foram erros atrás de erros que nos custaram muito caro, com exceções que confirmaram a regra. Ainda todos aguardamos pelo final da auditoria forense (que felizmente não tive que pagar do meu bolso) para conhecermos melhor os contornos de algumas das transferências/pagamentos de comissões que levantam mais suspeitas.

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A nossa formação foi completamente maltratada e os melhores profissionais acabaram por ir saindo. Não vai ser fácil recuperar aqui o tempo perdido para os nossos rivais.

Quanto à imagem do clube, a nível nacional perdemos o respeito dos outros clubes e da generalidade dos adeptos adversários e isolámo-nos. A nível internacional a principal imagem deixada foi a vergonha do que se passou em Alcochete.

As nossas modalidades continuaram a ganhar (lembro que não começaram nos últimos 5 anos) em direta relação com os investimentos feitos, embora tenhamos tido orçamentos para até ganhar a nível europeu numa modalidade coletiva.

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O nosso marketing não se soube profissionalizar e aproveitar nomeadamente o aumento generalizado pelo interesse no futebol.

Enfim, Bruno de Carvalho e os seus cúmplices acham que repetindo uma mentira ela acaba por se tornar verdade e, infelizmente, muita da mentira que foi sendo dita nos últimos anos, ainda hoje é generalizadamente acolhida. Na única altura em que houve um confronto de ideias sobre estes temas, Bruno de Carvalho perdeu em toda a linha (mas a máquina de propaganda que tinha bem montada e oleada imediatamente o resgatou da vergonha que passou).

Foi ontem feita justiça a quem tanto mal fez ao nosso clube. Que saibamos agora estar bem mais atentos no futuro para nunca mais cairmos numa situação destas porque a verdade é que o chamado ‘neo-brunismo’ anda por aí a pairar, embora numa roupagem bem mais simpática. Ao contrário de quem ontem ao fim do dia se dizia triste, acabei ontem o dia muito alegre por mais uma vez termos mostrado quem somos, numa corajosa e incondicional defesa do nosso Sporting.

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Para mim pessoalmente ontem representou ainda o fim de uma caminhada, onde sofri enormes prejuízos pessoais, mas ao mesmo tempo na qual cresci e aprendi muito e tive o privilégio de me cruzar com gente fantástica. Com a sensação de missão cumprida só quero agora voltar a ser um sócio normal. Como dizia uma grande referência do Sporting: valeu a pena!

Viva o Sporting

Santo Natal e Ótimo Ano Novo

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Pedro Madeira Rodrigues"

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