Vicente: «Era o próprio Pelé a dar-me os parabéns»

Vicente: «Era o próprio Pelé a dar-me os parabéns»
• Foto: fernando ferreira

Nascido em Lourenço Marques, hoje Maputo, a 24 de setembro de 1935, Vicente Lucas foi um dos mais extraordinários futebolistas portugueses de sempre. Homem de paixão única, o Belenenses, foi no Mundial’66 que atingiu o ponto mais alto de uma carreira com 20 internacionalizações e um total de 284 jogos para o campeonato, com 12 golos com a cruz de Cristo ao peito. A par de Matateu, Coluna, Hilário e Eusébio, Vicente pertence ao lote de jogadores excecionais que o bairro do Alto do Mahé, na capital moçambicana, deu ao futebol nacional...

RECORD – Que lugar ocupa o Mundial’66 nas suas memórias?

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VICENTE LUCAS – É um dos momentos mais altos da minha carreira, como resultado de uma campanha inesquecível. Chegámos a Inglaterra com ambições moderadas mas sempre confiantes. Como se diz agora, pensámos jogo a jogo. E quando demos por nós estávamos na fase decisiva do Mundial, sentindo que tínhamos toda a gente de olhos postos em nós como Seleção a ter em conta.

R – Acabou por falhar os dois últimos jogos. O que se passou?

VL – No jogo com a Coreia do Norte levei uma pancada da mão. Doeu-me um bocado mas continuei a jogar e aguentei sem grandes problemas até ao fim. Pensei que era uma coisa sem importância. No entanto, e porque a dor não passava, pedi ao doutor Silva Rocha, que era médico do Belenenses também, para me observar. Tínhamos feito a viagem de Liverpool para Londres e sempre achei que estaria em condições de defrontar a Inglaterra. No último instante fui dado como inapto. Tinha um dos ossos da mão direita partido.

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R – Antes defrontou o Brasil, de Pelé, mas dessa vez nem precisou de se empenhar muito para o anular...

VL – As coisas correram-nos muito bem e, como o próprio Pelé disse depois, ele estava inferiorizado fisicamente. De facto, não foi o duelo mais exigente que tivemos. Noutras alturas foi muito complicado, porque ele era um jogador extraordinário, para mim, o maior de sempre – tive a felicidade de defrontá-lo na primeira vez que ele jogou no Maracanã. Esses duelos nasceram quando um treinador me pediu para o marcar. Foi o que fiz. A coisa correu bem, fui atrás dele para todo o lado e não o deixei jogar. Não fiz uma falta, mais do que isso, quase não lhe toquei. Houve jornalistas brasileiros que me criticaram mas foi o próprio Pelé quem me defendeu dizendo que eu leal na luta.

R – Como se sente na pele do homem que anulou o Rei do Futebol?

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VL – É uma boa sensação. Todos sabem que cometi essa proeza, mesmo quem nunca me viu jogar. O que mais me satisfaz é lembrar que, quando o travava e lhe roubava a bola, era ele quem me dava uma palmada nas costas e dizia ‘Bem, Vicente, muito bem’. Quero dizer, era o próprio Pelé a dar-me os parabéns. Acho que, a partir de certa altura, ele já tinha complexos quando se cruzava comigo.

«Honrar Eusébio e Coluna»

Vicente acredita que Portugal vai fazer um bom Mundial mas não se deixa levar por euforias. “Temos uma boa Seleção e, com um grande Cristiano Ronaldo, podemos estar entre os melhores”, afirma como expressão da confiança na equipa das quinas. Para o símbolo belenense, todos devemos assumir uma responsabilidade em 2014: “Foi neste ano que Portugal e o futebol viram partir dois dos maiores de sempre, Eusébio e Coluna, tendo eu perdido dois amigos do peito.” Mas Vicente estabelece uma diferença: “Sempre tive uma boa relação com o Eusébio, custou-me imenso que nos tivesse deixado, mas ele era mais novo. Já o Coluna era como se fosse meu irmão. Nascemos no mesmo ano, no mesmo bairro da cidade [Maputo] e viemos ao mesmo tempo para Lisboa.” Vicente lembra ainda que, quando chegou, foi “utilizado como avançado, talvez por influência de ser irmão do Matateu, um goleador extraordinário”. Fernando Riera, “o melhor treinador” que diz ter tido na vida”, fê-lo recuar no terreno e no Mundial’66 “jogava ainda mais atrás”.

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