Foi um caso que chocou o Brasil e continua a causar sensação na opinião pública do país. O guarda-redes Bruno Fernandes de Souza, então jogador do Flamengo, acusado de matar a modelo Eliza Samudio, voltou a clamar a sua inocência e, numa entrevista ao canal SBT, garante que dorme "de consciência tranquila.
Condenado a 22 anos de prisão em 2010 pelos crimes de homicídio qualificado e sequestro, Bruno saiu em liberdade condicional e até regressou ao futebol. Assinou contrato com o Rio Branco, clube que disputa a Série D do Campeonato Brasileiro, mas por decisão judicial vai ter de usar pulseira eletrónica durante o resto da pena, que cumpre em regime semiaberto.
Numa entrevista para a qual contava falar mais do futuro do que do passado, Bruno garante que não é "um bandido". "Não fui um anjo mas também não sou o demónio que criaram a meu respeito", explicou, dizendo que não quer falar sobre o homicídio de Eliza.
"Sinto-me como um jovem, estou ansioso. Estou num momento mágico, de recomeço", acrescentou. "Tenho três filhas, que estão a crescer. É um assunto sobre o qual não me cabe continuar a falar."
Será Bruno um criminoso? "Se a justiça me condenou por um crime isso faz de mim um crimonoso. Será justo? É lógico que não."
Bruno e Eliza tiveram um filho, que o guarda-redes não reconhece. "Não posso dizer que ele é meu filho se não há um exame de ADN", assegura.
O jogador diz que está a reunir fundos para realizar um documentário, onde promete contar tudo o que aconteceu. "Tentei sempre contar o meu lado da história mas nunca me deram voz. Fica para um futuro documentário. Não sou o mandante, foi por isso que fui condenado. Foram várias as situações que aconteceram e sobre as quais não posso falar neste momento."
O guarda-redes afiança, por isso, que não se sente responsável pelo que aconteceu e deixou uma garantia: "Para a prisão não volto, nunca mais! Tenho de trabalhar. As pessoas não dizem que quem cumpre pena tem de voltar à sociedade? A minha situação não é diferente."
O jornalista insiste sobre o tema da morte da modelo. "A quem eu tive de pedir perdão já pedi. E já me perdoaram. Durmo com a minha consciência tranquila. E se perguntar algo mais sobre isso vou-me embora. Esta entrevista era sobre o meu recomeço e você mudou a conversa. Acho melhor acabar por aqui."
Bruno acabou por se levantar e abandonar abruptamente a entrevista.
O caso
Foi em 2010 que o mundo do futebol ficou em choque com o macabro crime envolvendo o guarda-redes Bruno, então ao serviço do Flamengo. Foi ele o autor do homicídio que vitimou a atriz e modelo Eliza Samudio, em Minas Gerais, num caso que apaixonou a opinião pública internacional.
Eliza Silva Samudio esteve desaparecida, tendo-se posteriormente descoberto que tinha sido vítima de Bruno, que com outros dois cúmplices tirou a vida à mulher, que havia conhecido em 2008, alegadamente numa orgia com outros jogadores de futebol. De acordo com testemunhos, Bruno e Eliza praticaram sexo, o preservativo rompeu e a mulher engravidou. Combinaram ficar juntos, apesar de Bruno ser casado, idealizando uma futura vida a dois, logo que o guarda-redes se divorciasse.
A verdade é que se tratava apenas de uma forma de Bruno ganhar tempo. A verdadeira vontade de Bruno era manter o casamento de pé e levar Eliza a abortar. Como esta não quis, chegou a ser mantida contra a sua vontade numa das casas do jogador. Aí, foi alegadamente obrigada a tomar substâncias abortivas, tendo ainda destacado na queixa que fez às autoridades que Bruno lhe apontou uma arma à cabeça, ordenando que aceitasse interromper a gravidez. Uma queixa feita na Polícia a 13 de outubro de 2009.
Eliza deu à luz o pequeno Bruninho a 10 de fevereiro de 2010. Quando em julho de 2010 se deu o alerta de desaparecimento de Eliza, foram os elementos das autoridades a relacionar os dois casos, tratando o assunto como homicídio.
Eliza havia entregado na Justiça uma ação judicial de reconhecimento de paternidade, numa altura em que vivia com o filho no Rio de Janeiro, em hotéis pagos por Bruno. Passou a exigir pensão para o filho e denunciou Bruno por agressão, o que trouxe complicações para a carreira do jogador. Enfurecido com a ex-amante, prometeu vingança.
Um caso que começou a apaixonar o Brasil, principalmente a partir da altura em que se descobriu tudo o que tinha acontecido. Uma das testemunhas relatou aos investigadores do caso que a mulher foi morta por estrangulamento. Em seguida, o cadáver foi esquartejado e enterrado sob uma camada de cimento. Como o corpo nunca foi recuperado, numa das versões avançadas acredita-se que o corpo foi dado a cães de raça rottweiler para ser destruído.
O julgamento arrancou em 2012 e arrastou-se até ao ano seguinte, acabando por determinar para Bruno uma condenação de 17 anos e 6 meses e prisão em regime fechado por homicídio qualificado, outros 3 anos e 3 meses em regime aberto por sequestro e cárcere privado e ainda a mais 1 ano e 6 meses por ocultação de cadáver. Um total de 22 anos e 3 meses.
Ao lado de Bruno, agora com 35 anos, foram condenadas outras 6 pessoas, que o ajudaram a perpetrar o macabro crime.
Em agosto de 2019, já depois de uma guerra jurídica com muitos avanços e recuos, Bruno conseguiu passar para regime semiaberto e até tentou regressar ao futebol em clubes de menor dimensão, algo que inicialmente foi proibido pelo tribunal.
Por Record