Mourinho: «Este foi o meu melhor ano de sempre»

Mourinho: «Este foi o meu melhor ano de sempre»

RECORD – O que significa para si este prémio do Record, ainda por cima entregue pelo próprio Artur Agostinho?

JOSÉ MOURINHO – Qualquer prémio vindo do meu país tem sempre significado, principalmente desde que saí de Portugal. É sinal de que as pessoas continuam sensíveis e a dar significado às coisas que vou fazendo fora. Aliado a isso, e espero que o senhor Artur Agostinho o interprete com a sinceridade que sempre deposito nas coisas, é uma honra receber este troféu das mãos de alguém com o nome, a carreira e o prestígio dele. O trajeto e o significado que tem para muitas gerações, principalmente para a minha, que cresceu a vê-lo como figura proeminente e representativa dos doidinhos do futebol, como eu era e continuo a ser, dá-me satisfação suplementar e vontade de guardá-lo em minha casa, com todo o carinho, até porque, para lá de tudo o resto, é uma peça muito bonita.

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R – Considera o ano 2010 como o seu melhor de sempre?

JM – Foi um ano fantástico da minha carreira profissional, pelo que entendo a distinção do Record como um sublinhar desse feito. Se foi o melhor? Talvez... Graças a Deus tenho vivido anos muito bons, embora este seja o do verdadeiro triplete, isto é, aquele em que venci Champions, campeonato e taça. No FC Porto já tinha feito Taça UEFA, campeonato e taça (2002/03), mais Champions, campeonato e supertaça (2003/04); no Chelsea, conseguimos campeonato, Taça da Liga e supertaça (2005/06) e depois as duas taças mais a supertaça (2006/07)...

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R – A conquista europeia no Inter tem ainda o fator acrescido da surpresa...

JM – Claro. Foi um feito totalmente inesperado, porque não passava pela cabeça de ninguém que o Inter ganhasse a Champions numa época em que Barcelona e Chelsea eram favoritos. Aconteceu que fomos campeões europeus eliminando precisamente essas duas equipas. Por vezes consegue-se progredir nas competições a eliminar com a estrelinha que o sorteio nos vai proporcionando mas, desta vez, não fomos bafejados pela fortuna. Apanhámos o Barça na fase de grupos, o Chelsea nos oitavos-de-final, outra vez o Barça nas meias-finais e o Bayern Munique no jogo decisivo.

R – Foi uma conquista especial?

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JM – Esta Champions teve um significado incrível, pelo grau de dificuldade, pelos adversários e também pelo que representou na história de um clube que a perseguia há quase 50 anos. Em termos pessoais acho que sim, foi o meu melhor e mais conseguido ano de sempre, ao qual devo agregar ainda a transferência para o Real Madrid.

R – Foi uma opção de risco?

JM – Admito que sim. Era mais confortável ficar tranquilamente no Inter, a viver do estatuto e dos louros conseguidos, na perspetiva de ganhar aquelas competições internacionais mais fáceis como a Supertaça Europeia e o Mundial de clubes. Mas tomei a decisão de sair para um clube que não ganha há muito tempo e que, contrariamente ao que julga, não está totalmente preparado para vencer. Mas também isso veio apimentar o meu 2010, que foi perfeito enquanto estive no Inter e que é perfeito no Real Madrid como desafio.

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R – Acredita que a excelência do que conseguiu em 2010 vai traduzir-se em prémios individuais no fim do ano, nomeadamente a Bola de Ouro?

JM – Continuo a dizer, e digo-o com toda a sinceridade, como alguns de vocês sabem, porque nos conhecemos há muitos anos e têm estado perto de mim de uma forma ou outra, prefiro ganhar o próximo jogo a receber qualquer troféu individual por mais importante que seja. Entre três pontos que me podem ajudar a vencer outras coisas e uma distinção pelo que fiz numa temporada que já fechou, não há escolha possível. Os meus desafios são outros: quero é ganhar já a seguir e conquistar mais títulos.

R – Mas era justo ser eleito melhor do Mundo neste ano?

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JM – Não nego que a derrota me deixará um pouco tristinho, principalmente quando tenho a noção de que os prémios deviam ser a consequência lógica daquilo que fiz no lapso temporal em apreciação – e não quero ser mais agressivo do que isso. Por outro lado, perder também me deixa orgulhosozinho, porque a derrota reflete algumas coisas com as quais tive de aprender a viver ao longo destes anos. O que me aconteceu em Itália é elucidativo, tendo em conta prémios relativos não à época passada mas à anterior. Dois troféus paralelos para o melhor treinador, o Oscar del Calcio, votado por todos os jogadores da Série A, e a Panchina d’Oro, votado pelos treinadores, tiveram resultados opostos: no primeiro ganhei com 88% e no segundo tive dois votos.

R – Tem explicação para isso?

JM – Fica demonstrado que nos prémios individuais tudo é possível. Depende das sensibilidades, das amizades, dos lóbis, da política, enfim, de muita coisa... Se gostava de ganhar? Claro que sim. Mas atenção, gostava de ganhar todos, os do Record, os de Itália, Espanha, Inglaterra. Agora continuo a afirmar que vencer o jogo a seguir a esta entrevista é o que mais me interessa. Preocupo-me muito mais com o que posso vir ainda a ganhar do que com aquilo que já ganhei.

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