O Clube de Ciclismo de Tavira, com o nome atual de Banco BIC-Carmim na versão profissional, tem um lugar na história internacional. É a equipa profissional em atividade mais antiga, desde 1980, um ano depois da sua fundação. Mas não se pense que a sua vida tem sido um mar de rosas. Nos últimos anos, e pese embora as vitórias na Volta a Portugal – 2008 a 2011 –, a incerteza em manter-se na estrada tem marcado o defeso das temporadas. Mas, por força da vontade dos seus dirigentes, ajudados por este ou aquele patrocinador, vai aguentando-se.
O cenário não é muito diferente em relação às restantes equipas, ainda que a situação esteja estabilizada. A Efapel-Glassdrive e a OFM-Quinta da Lixa venceram as duas últimas edições da Volta a Portugal – a primeira em 2012, com David Blanco, a segunda em 2013, através do também espanhol Alejandro Marque, estando ainda este triunfo por homologar devido a um alegado controlo antidoping positivo. O Boavista (Rádio Popular-Onda) é, por sua vez, a segunda mais antiga em Portugal, graças ao esforço de José Santos, que é, por sua vez, o diretor-desportivo há mais tempo no cargo. LA Alumínios-Antarte tem igualmente um passado longínquo, sendo que o Louletano, após interrupção de vários anos, voltou aos profissionalismo em 2013.
O efeito do doping
O número de equipas profissionais portuguesas tem sofrido altos e baixos na última década, não passando despercebidos os efeitos do doping. Em 2006, foi desencadeada, em Espanha, a Operação Puerto, um escândalo sem precedentes, que atingiu mais o ciclismo, apesar de outras modalidades associadas.
Em Portugal, também fez as suas vítimas, com o generalizado doping na LA-MSS, em 2008, ou no ano seguinte, com o triplo positivo na Liberty, antes da Volta, sendo que um deles foi Nuno Ribeiro, o vencedor. O número passou então de dez equipas em 2004 para quatro em 2012.
Só por curiosidade, anote-se o seguinte dado: Portugal tem mais equipas (6) do que Espanha (4). As formações nacionais são todas do escalão mais baixo da UCI, o Continental, com o país vizinho a ter duas.
Volta e Algarve dominam atenções
O quadro competitivo do ciclismo em Portugal no que respeita à vertente de estrada desenrola-se entre fevereiro e outubro, distribuindo-se as provas por vários escalões, sendo que em muitas ocasiões há necessidade, quer para se ter um pelotão mais numeroso quer para poupar despesas, de juntar na mesma corrida as equipas profissionais e as sub-23.
A prova rainha é naturalmente a Volta a Portugal, que tem neste momento dez etapas, mais o prólogo, mas que já chegou a ter 30 tiradas (1939). A Volta é ainda uma das cinco provas do calendário português que são internacionais, ou seja, que integram o calendário do circuito europeu. E é neste enquadramento que a Volta ao Algarve ganha destaque, com a presença, há vários anos, das grandes equipas e corredores do pelotão mundial.
Volta ao Alentejo (esta semana), Grande Prémio de Torres Vedras (julho) e Volta a Portugal do Futuro (julho) são as restante corridas que integram o calendário europeu, mas num passado não muito longínquo eram mais as provas internacionais.
TRÊS PERGUNTAS A...
Vidal Fitas*: «Vive-se em sobressalto»
RECORD – A que se deve a longevidade do Clube de Ciclismo de Tavira?
VIDAL FITAS – Há um facto incontornável, que foi o papel de Brito da Mana. Esteve à frente do clube até 2008, ano em que faleceu. Só a teimosia dele é que permitiu ao clube chegar a esta fase de vida.
R – Há seis equipas profissionais. Como as analisa?
VF – Para já, penso que estão consolidadas. O projeto da OFM-Quinta da Lixa é o mais recente, mas também transita de uma estrutura enquanto equipa amadora. As restantes também existem há vários anos. Mas é evidente que as equipas vivem dos patrocinadores e estes, a qualquer momento, podem deixar de o ser. Vive-se sempre em sobressalto.
R – E seis equipas são suficiente, deviam ser mais ou menos?
VF – O nosso ciclismo é um pouco especial. Vivemos muito o ciclismo dentro de casa, para consumo interno, com orçamentos muito inferiores em relação ao que se faz no estrangeiro. Ao longo dos anos têm existido contudo projetos que conseguem mostrar-se além-fronteiras.
*Diretor-desportivo do Banco BIC-Carmim