Volta à França: 100 anos de paixão

1, 2, 3, luzes, acção. É já hoje, na mítica cidade de Paris, que o Tour se faz à estrada para percorrer, com o seu habitual encanto, mais de três mil quilómetros de um percurso que serpenteia por paisagens bucólicas e por entre montanhas que mais parecem tocar os céus.

Mas esta não é apenas mais uma Volta à França. Este é o Tour do Centenário, o Tour das mil e uma recordações, o Tour que, por ter um passado grandioso, nos faz pensar e reflectir sobre uma prova que, sendo já uma instituição mundial, tem tanto de dureza como de beleza.

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"Meu Deus! Era com isto que eles faziam a Volta à França em 1937? É inacreditável! Bom, eu não quero trocar a minha bicicleta por esta, mas gostaria muito de ficar com ela para ir comprar pão. Isso seria muito cool!" Estas foram as palavras de David Millar, ciclista da Cofidis, depois de ter experimentado, numa iniciativa da revista francesa, Velo, a bicicleta de Mathias Clemens, luxemburguês que participou no Tour em 1937.

Ver as imagens de 100 anos de história, de uma história sem paralelo no mundo do desporto, é a melhor forma de se perceber, ainda que à distância, as vicissitudes de uma competição que não deixa ninguém indiferente. Alguém poderá ignorar uma fotografia do pelotão a rolar lentamente em direcção a Bayonne, em 1927, com alguns dos ciclistas a fumar, chegando mesmo a dividir os cigarros?

Como poderá passar despercebida uma outra, ainda mais antiga, em 1922, do francês Robert Jacquinot, sentado num café a comer um prato de sopa durante a longa etapa entre Sables-d'Olonne e Bayonne? São estas e outras imagens, preservadas religiosamente pelo L'Equipe, jornal francês quase umbilicalmente ligado à organização da prova, que contribuíram para a grandeza do Tour e para que conseguisse a dimensão que tem hoje no panorama desportivo.

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O Tour, com todo o seu dramatismo, transformou-se no evento mais popular da história de França e serviu, ao longo dos tempos, para criar uma unidade nacional, talvez a mais profunda, como escreveu o romancista francês, Georges Conchon. Mais do que um acontecimento desportivo, a Volta à França é um fenómeno social capaz de despertar grandes paixões entre um povo que se orgulha dos seus ídolos, mesmo sabendo que vão longe os tempos em que o coração se dividia entre Jacques Anquetil e Raymond Poulidor.

Bernard Hinault, natural da Bretanha, foi o último francês a vencer o Tour. Já lá vão 18 anos, mas nem a ausência do primeiro lugar do pódio desde essa altura faz diminuir a paixão que os gauleses têm pela prova. E se, em 1903, numa quarta-feira, 1 de Julho, se fez luz sobre a ideia de Henri Desgrange, o primeiro patrão do Tour, é bem provável que daqui a mais cem anos alguém esteja cá para contar, nas páginas de Record, como foram 200 anos de intensas paixões, de uma incontornável cumplicidade entre ciclistas e o povo que os ajuda a mover montanhas.

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