Depois do oitavo posto no contrarrelógio, Luís Costa tinha apontado ao top-5 na prova de estrada, mas acabou por ter de se contentar com nova oitava posição. Isto numa prova na qual o algarvio, de 43 anos, admite que tentou procurar a surpresa e ir ao ouro. Não deu e o atleta explica porquê.
"Confesso que queria mesma ganhar. Queria fazer uma surpresa e durante parte da corrida pensei que podia... A estratégia era ir com eles até dois quilómetros do fim, proteger-me e nessa altura tentar uma surpresa e atacar. Não sou um dos favoritos, nem sou sprinter. Certamente que se atacasse não iriam atrás de mim, porque estariam mais preocupados com o Zanardi ou com o Ernst. Pensei que fugindo ali, não viriam atrás de mim e, quando o fizessem, seria tarde de mais. Tive de lutar muito durante a corrida. Fiquei para trás três vezes: na primeira, segunda e terceira volta. Ficava para trás uns 500 metros e eles atacavam. Numa delas tive de arrastar um segundo grupo e nas outras fiquei mesmo sozinho. Ou continuava a fundo na esperança de que o ritmo reduzia ou deixava-me ir no meu ritmo. Acreditei até ao fim", começou por explicar.
"Tentei fazer o que tinha planeado, ataquei a dois quilómetros do final, mas olhei para trás e estavam todos ali. Não valia a pena continuar, porque não tinha hipótese. Tinha de me limitar a colar-me a eles e esperar um azar. Fiz oitavo, porque o Tim De Vries caiu. Foi às barreiras e mesmo assim apanhou-me na última curva. Mesmo assim fê-la mal e bati-o em cima da linha de meta. Ficar em oitavo, a sete segundos... Lutei até ao fim! Há dois anos era diferente. Antes se ficasse para trás não recolava. Estou com os melhores e agora é preparar Tóquio e aí não será pela surpresa, mas sim pela força, para tentar ganhar a medalha", apontou.
"Hoje adaptei-me melhor às curvas. O problema foi mesmo a velocidade. Para terem uma ideia, no contrarrelógio fiz uma média de 38,5 km/h. Hoje na segunda volta íamos com 37,7 km/h, quase ao nível do contrarrelógio. Houve alturas em que fui a mais de 50! Ontem o meu máximo tinha sido 47. Foi uma loucura. Uma prova feita num ritmo elevado. Vamos a 45 km/h e alguém tenta reagir. É de loucos!", atirou.
Objetivo cumprido? SimAinda que tenha falhado as suas previsões, quando apontou ao top-5, Luís Costa deixa o Rio de Janeiro feliz com aquilo que alcançou no Brasil.
"Saio daqui satisfeito, especialmente pelo trabalho que foi feito. O acompanhamento por parte da Federação, com direito a preparador físico, o Gabriel Mendes, só o tenho desde o ano passado, quando entrei no projeto paralímpico. Comecei a ter acompanhamento personalizado diário. Daí para cá a evolução foi notória. Este ano o trabalho foi mais intenso, muito mais forte e isso revelou-se nestes resultados", explicou.
Com 43 anos, Luís Costa aponta já a Tóquio e nem a idade que terá nessa altura o pára. E o maior exemplo para essa vontade estava mesmo ao seu lado. "O maior exemplo estava aqui, o Johan Reekers, que tem 58 anos, acabou à minha frente. Fez grande parte da prova comigo, houve uma altura em que o puxei e ele agradeceu-me. Não resultou o meu ataque e paguei fatura. O homem compete há 40 anos! Aos 18 fez os primeiros Jogos, e este ano fez os Jogos pela nona vez, em modalidades diferentes. Cada vez que olho para ele penso que tudo é possível", admitiu.
"É um sonho estar aqui, sem dúvida. Cheguei aqui como líder do ranking, já não mau. Saio daqui no segundo ou terceiro lugar o ranking. Estar no top-5 mundial no terceiro ano a competir não se pode pedir muito mais...".
A busca por um patrocínio
Inspetor da Polícia Judiciária, Luís Costa admite que gasta mais tempo com o ciclismo do que com a sua vida profissional e, em termos monetários, até fica a perder com esta paixão.
"Digamos que ganhei perdendo algo [a perna, no acidente]. Ganhei vontade de fazer um desporto diferente. Vivo mais para isto do que para o meu trabalho. Esta é a minha atividade principal. Não vivo disto, porque em Portugal não há condições. Não ganho um tostão! Aliás, perco mais dinheiro do que ganho. Mesmo tendo patrocínio. Talvez agora apareça um patrocínio a sério, agora que cheguei ao topo. Vamos ver", finalizou.