O norueguês Magnus Carlsen abdicou da defesa do título mundial contra o russo Ian Nepomniachtchi, segundo revelações feitas em um podcast esta terça-feira, pelo que o vencedor do Torneio de Candidatos, disputado recentemente em Madrid, irá encontrar o segundo classificado na mesma prova, o chinês Ding Liren.
"Falei com a minha equipa técnica, falei com a FIDE, falei com Ian também. A conclusão é muito simples: não estou motivado para jogar outro título mundial", declarou Magnus Carlsen.
O número um mundial está cansado do seu próprio sucesso: "Não tenho muito a ganhar e embora tenha a certeza de que seria um match interessante por razões históricas, não tenho nenhuma motivação."
Carlsen confirmou assim as dúvidas que havia expressado em 14 de dezembro de 2021 quanto à defesa do título mundial, que deteve desde 2013.
"Tem sido uma experiência interessante desde que decidi jogar os Candidatos em 2013, o que, para ser honesto, foi um capricho. O título mundial abriu-me muitas portas e estou feliz por isso. As partidas foram interessantes e divertidas", considerou Carlsen, que não descarta regressar no futuro: "Pode ser que volte, pode ser que não."
Ainda antes da decisão, Carlsen reuniu com o presidente da FIDE, Arkady Dvorkovich, e o diretor-geral Emil Sutovsky, mas ninguém convenceu o norueguês a defender o título pela quinta vez, após triunfos frente ao indiano Vishy Anand, o russo Sergey Karjakin, o norte-americano Fabiano Caruana e o russo Ian Nepomniachtchi.
"Em última análise, a conclusão permanece, sobre a qual pensei muito um longo tempo. Esta decisão tem mais de um ano, provavelmente um ano e meio", acrescentou Magnus Carlsen, de 31 anos.
O triunfo de Nepomniachtchi no Torneio de candidatos também não ajudou a uma outra decisão de Carlsen, que preferia jogar frente a um adversário da nova geração, designadamente o génio iraniano Alireza Firouzja: "Quatro mundiais não significaram nada para mim. Não foi nada, mas fiquei satisfeito com o trabalho que fiz. Fiquei feliz por não ter perdido", acrescentou o dominador do xadrez da última década.
Carlsen promete, no entanto, continuar a jogar: "Esta decisão não significa que me esteja a reformar do xadrez. Vou ser um jogador ativo, a jogar por exemplo o Grand Chess Tour na Croácia e de lá sigo para Chennai para a Olimpíada, que vai ser muito divertida, para mais porque a Noruega é a quarta equipa do ranking mundial. Depois, Miami, na FTX Crypto Cup, que será incrível, e a Sinquefield Cup."
O repescado Ding Liren já reagiu, em relação aos seus novos objetivos: "Estou muito animado para jogar o match pelo Mundial no próximo ano", considerou o chinês, que se encontra em Barcelona, pois apanhou Covid-19 e ainda não conseguiu viajar para a China.
"Sabia que Magnus Carlsen tinha dúvidas em voltar a defender o título, mas sempre esperei que jogasse. Mas também entendo. Ser campeão do mundo significa muitas responsabilidades", disse Ding Liren.
Refira-se que na longa história do Mundial de xadrez já teve campeões que não defenderam o título, como o franco-russo Aleksander Alekhine, falecido no Estoril, em 1946, como campeão.
Em 1975, também o norte-americano Bobby Fischer não concordou com o regulamento do match da FIDE e perdeu o seu título para o vencedor do Torneio de Candidatos, o russo Anatoly Karpov.
Quanto ao russo Garry Kasparov deixou a FIDE em 1993 e criou uma associação profissional para decidir o título mundial, criando um cisma que durou até 2006, altura em que o russo Vladimir Kramnik ganhou ao búlgaro Veselin Topalov no match da reunificação.
Por Alexandre Reis