O atletismo português começa a ter expressão internacional através de Manuel Oliveira, quando no início nos anos 60 consegue uma série de resultados extraordinários em reunião no estrangeiro que culmina com o 4.º lugar nos 3.000 metros obstáculos nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964. Era uma época dominada pelos sucessos do Benfica em futebol na Taça dos Campeões e do Sporting na Taça das Taças. E nas modalidades ainda não tinha despontado o fenómeno Joaquim Agostinho. A vela, através dos irmãos Quina, prata em Roma (1960), não era propriamente uma modalidade popular. E quando repentinamente surgiu Manuel Oliveira tudo mudou para melhor em Portugal. Tal como Bella Guttman disse uma vez em relação a Eusébio nos primeiros treinos no Benfica – "É ouro, é ouro" –, também Moniz Pereira poderia ter dito o mesmo em relação a Manuel Oliveira.
Alvalade funcionou como o primeiro centro de alta competição em Portugal. Manuel Oliveira fazia as suas refeições na sede do Sporting na Rua do Passadiço e treinava-se todos os dias, após sair do emprego que lhe tinha sido arranjado por um conhecido dirigente dos leões, Cazal Ribeiro. As qualidades de Oliveira sobressaíram e só pontualmente fazia treinos bidiários. Era a aproximação à elite mundial. Que seria consumada uma década depois por Carlos Lopes e Fernando Mamede.
A ‘universidade’ de Alvalade durou gerações e os novatos eram contagiados pelas grandes figuras. Quando participei no ‘Primeiro Passo’ em 1973, Manuel Oliveira era um grande ídolo. E quando fui receber a medalha, lá estava ele a dar umas palavras de incentivo a um miúdo de 16 anos. Nunca mais o esqueci.
Por Norberto Santos