Há uma tradição que temos sempre que iniciamos a análise a um produto: abrimos o portal RunRepeat para perceber o que se diz por ali sobre cada modelo. Já trabalhámos com este portal no passado (podem ver aqui e aqui) e quase sempre encontrarmos pontos que vão ao encontro daquilo que vimos e sentimos nas mais variadas sapatilhas. Com as Endorphin Pro 3 da Saucony não foi diferente. E logo aí tivemos o primeiro grande momento 'wow!' com este modelo. É que, segundo o ranking do portal norte-americano, estas são as melhores sapatilhas do mercado. Nota 92 (de 0 a 100), à frente de modelos admirados e até idolatrados no Mundo da corrida, como as Nike ZoomX Vaporfly NEXT% 2, as Adidas Adizero Adios Pro 2.0 ou as Asics Metaspeed Sky+.
E mesmo que não tenhámos tido oportunidade de testar nenhum desses modelos (provavelmente por as referidas marcas não encararem Portugal como um mercado que mereça atenção...), podemos afirmar que, sim. Olhando aos modelos que já testámos por aqui, este é mesmo o melhor. Mas desengane-se quem pensa que foi amor à primeira vista. Porque não foi. Inicialmente até ficamos algo desiludidos, pois nos primeiros dois treinos não tivemos aquela sensação que esperavámos, de um forte retorno de energia e uma maior responsividade. Mas ao terceiro treino...
Foi como se as sapatilhas tivessem ganho nova vida. Provavelmente faltava tirar-lhes o pó, como se diz na gíria popular. Dali em diante, a cada treino a sensação era cada vez melhor. A responsividade estava lá. A sensação explosiva também. A estabilidade, fosse em terra algo solta, fosse em piso (muito ligeiramente) molhado, também. E nestes meses de calor extremo, nem a necessária respiração do nosso pé dentro das sapatilhas foi esquecida. Parece que está tudo na medida correta. Como tem de ser. Como deve ser numas sapatilhas que são destinadas àquele dia em que tudo tem de estar alinhado. Se as sapatilhas estiverem, mais perto estaremos do sucesso.
Mas vamos, então, explicar o que temos aqui nestas Saucony Endorphin Pro 3. Trata-se de um modelo de competição, com 204 gramas (está 9g mais leve do que o seu antecessor) e um drop de 8mm. Estão ali no limite da legalidade segundo as regras da World Athletics (40mm/32mm), ainda que um primeiro olhar até nos faça pensar que estão bem para lá dessa margem. A sua altura segue um pouco a tendência das novas 'supersapatilhas', em que se procura um equilíbrio entre a agressividade e um amortecimento que permita poupar as pernas ao longo dos quilómetros que enfrentamos. No caso, este modelo está especificamente desenhado para a maratona e é aí que pode e vai render mai, ainda que não seja, de todo, uma opção errada para 10 ou 21 quilómetros.
O melhor rendimento na maratona explica-se pela generosíssima dose de espuma que temos na meia-sola, com o composto PWRRUNPB a ser a estrela da companhia. Melhorado em comparação aos modelos anteriores, este composto funciona na perfeição com a placa de fibra de carbono, para dar uma corrida não só mais rápida como também mais estável. Tudo isto numa sapatilha que tem uma geometria voltada para nos projetar em diante, mercê do Speedroll e uma placa de fibra de carbono com um design em S.
Há pouco falámos na respiração da zona superior e isso deve-se essencialmente à malha extremamente fina e com imensas entradas de ar que a Saucony aqui colocou - é facilmente visível nas fotos que aqui deixamos. A zona superior é também relativamente confortável, o que é pouco comum em modelos de competição, especialmente num modelo com a construção que aqui temos, com um minimalismo quase puxado ao máximo. E esqueçam qualquer tipo de preconceito com a cor das sapatilhas, porque isso aqui é mesmo o menos importante. E até diríamos que dá um toque diferente e especial. Agressividade num tom de rosa... quem diria?
Já que falamos em agressividade, há algo a reportar, porque nem tudo é perfeito neste modelo. Mercê da sua construção agressiva, voltada para o 'ataque', estas Endorphin Pro 3 exigem uma superior capacidade de aguentar o choque nos tornozelos. Confessamos que no final dos tais dois treinos foi essa a área que mais nos preocupou. Parecia que tínhamos levado pancada à séria. Mas foi uma questão de habituar, de adaptar. Depois disso não mais tivemos problemas com os tornozelos, mas é provável que algum leitor que avance para a compra possa precisar de algum tempo de adaptação. O alerta fica dado...
Com pouco mais de 200 gramas, poderíamos pensar que as Endorphin Pro 3 estariam algo comprometidas no que à durabilidade ou tração da sola diz respeito, mas a situação é totalmente inversa. Com mais de 100 quilómetros já rodados, a sola, com o composto XT-900 a fazer a sua magia, está num ótimo estado e em termos de tração foi como dissemos acima: tudo perfeito. A fechar, um último detalhe, seguindo a sua tendência de preocupação ambiental, a Saucony produziu um modelo totalmente vegan e com uso abundante de materiais reciclados.