A experiência foi positiva, mas também ventosa e muito fria. Muito mesmo!
Um dia depois de termos corrido a Meia Maratona de Praga (com uma temperatura bem mais alta do que as previsões), cruzámos a fronteira para ir a Bratislava correr a maratona da capital eslovaca. E essa sim, com uma temperatura esperada: baixa, baixinha... de congelar! Estavam uns 2 ou 3 graus, mas com a ventania que encontrámos a sensação térmica andava certamente pelos 5 ou 6 negativos. É, foi uma jornada dura! Mas, no final, a experiência até foi bem interessante.
Não é uma grande maratona, não esperem nada de extraordinário, mas vale pela aventura, pela experiência diferente de correr num destino pouco conhecido no mundo do running. Não a tencionamos repetir, mas entendemos que vale a visita. Até porque é relativamente barata e bem organizada. E a cidade, sendo pequena, é também de fácil e rápida visita. Se querem conhecer destinos diferentes, Bratislava vale o bilhete!
O primeiro ponto positivo
Por termos feito a 'meia' de Praga na véspera, apenas conseguimos chegar a Bratislava já ao início da noite, sem qualquer possibilidade de levantar o nosso kit de participação. Se fosse noutro lugar, provavelmente teríamos um grande problema em mãos, mas aqui é possível levantá-lo na manhã da prova, entre as 6:30 e as 8:00. Logo aí Bratislava leva um ponto positivo, pois pensa naqueles que viajam de fora, que podem chegar tarde, e permite-lhes recolher o seu kit logo de manhã. É óbvio que nem todas as provas conseguem fazê-lo, por vezes devido a questões de logística e localização, mas aqui temos de dar o aplauso.
Como temos de dar o aplauso ao que se seguiu, pois daqui vamos diretamente para a partida da maratona. Localizada junto do Eurovea, um enorme complexo bastante moderno, que alberga um centro comercial de grandes dimensões, está numa área de fácil localização, com uma longa reta que permite acomodar os cerca de 7 mil corredores que neste domingo estiveram em ação de início, mais aqueles que competiram nas duas estafetas, que seriam, no total cerca de 2.500 (tanto a meia como a maratona tinham estafetas, sempre de 4 elementos). Apesar de estreita, esta zona inicial permitiu um rápido e fácil escoamento do pelotão, isto enquanto um DJ estava em cima do pórtico a dar um show que serviu de aquecimento para entrarmos no ritmo.
Não foi fácil, porque, como dissemos acima, estava um gelo daqueles! Na véspera, a organização avisara-nos e tomou precauções. Havia previsões não só de temperaturas baixas, que obrigavam a um cuidado adicional no que à roupa diz respeito, mas de forte vento, com rajadas que podiam chegar aos 60 km/h. Por isso, numa medida de prevenção, a organização tratou de tirar alguns dos materiais passíveis de 'voar' ao longo do percurso, procurando dessa forma garantir a segurança dos atletas. Quando começámos, pelas 9 da manhã, sentia-se bem esse gelo e vento. Fomos de luvas, de camisola de manga cumprida e, mesmo assim, foi um começo de jornada duro. O vento soprava e nem o facto de estarmos com um grande grupo de corredores, todos bem compactados, tornava a situação menos difícil. Mas lá fomos. Tínhamos de ir...
Planinho, planinho... até deixar de ser
Os primeiros 12 a 13 quilómetros são rapidíssimos, totalmente planos e propícios a correr bastante rápido, isto apesar de ser uma parte algo 'chata', porque vamos numa zona residencial, numa enorme reta, sem grandes pontos de interesse. A partir dos 13, chega o desafio, mas que também nos leva ao melhor deste percurso. A passagem pela zona central da capital checa. Enfrentamos algum piso empedrado, mas de boa condição. E, apesar de algumas ruas mais estreitas, não tivemos qualquer dificuldade em negociar curvas e contracurvas que nos foram surgindo. Depois dessa passagem pelo centro, o percurso leva-nos a cruzar o Danúbio para fazer uma pequena volta no Sad Janka Krála, um parque do outro lado do rio muito bem conservado e até bastante bonito.
Damos essa tal volta por lá, cerca de 4 quilómetros, antes de voltarmos a passar a ponte para finalizarmos a primeira volta no mesmo local em que tínhamos começado. Para quem se aventurou na 'meia', era ali que acabava a aventura. Para quem ia à maratona, havia mais uma voltinha para fazer. Esta situação podia, num dia mau, levar-nos a hesitar e ficar ali. Mas estávamos incrivelmente bem, a sentir as pernas fortes para continuar, numa altura em que o objetivo de ritmo passava pelos 4'40/km (tínhamos 30 km a esse ritmo, antes de acelerarmos aos 33k).
A segunda volta. Uma aventura (quase) a solo
A maratona teve cerca de 1.500 concluíntes, o que tornou a segunda volta (exatamente igual à primeira) num desafio adicional, pois o pelotão agora seria mais pequeno e bem mais alongado. O que se torna um enorme desafio quando temos de enfrentar ventos cruzados certamente acima dos 40 km/h, que nesta altura já tinham congelado as mãos, a ponto de nem as luvas nos safarem! Na segunda metade de prova, com três géis para tomar, tivemos a necessidade de parar em duas ocasiões para conseguir tirá-los do bolso. Porque simplesmente, a correr... era impossível! Isto quando, ao ritmo que íamos conseguindo manter, praticamente não encontrávamos atletas para formar grupos. Esta segunda volta foi mesmo uma aventura a solo!
Mas, mesmo assim, uma aventura a solo que se revelou bastante satisfatória. Ao fazer a segunda volta, já sabíamos exatamente o que vinha em diante. A pequena subida junto ao centro histórico, o empedrado, as curvas e contracurvas. Mas também um pouco mais de apoio popular, pois a esta altura já o relógio passava das 11 horas e mais gente andava nas ruas. Tudo isso ajudou a percorrer os quilómetros finais da maratona, especialmente aqueles feitos dos 33k até ao final, em que tínhamos de baixar o ritmo até aos 4'20/km. Apesar do desgaste, e até da área mais sinuosa, não tivemos grandes problemas. Muito por culpa também da escolha de sapatilhas que fizemos, com as Kiprun KD900X LD+, um modelo que iremos analisar ao detalhe em breve.
Fizemos todo o percurso da segunda volta e, num ápice, chegámos ao último quilómetro. À última subida para a ponte, antes de Starý most (Ponte Velha). E sempre a um ritmo surpreendentemente rápido e tranquilo. Passámos à meia maratona em 1:39:32, na 295.ª posição. Acabámos em 3:14:24, em 199.º, depois de termos feito a segunda volta em 1:34:52. Um registo que mostra que é possível correr-se rápido em Bratislava, apesar dos desafios do perfil do percurso, mas também dos que encontrámos neste dia, com aquele tal frio e vento, que nos fez chegar ao final... sem sentir os dedos! Aliás, quando acabámos estariam não mais do que 2 ou 3 graus. Sim, ao meio dia...
Apesar disso, apesar de todos esses desafios adicionais, a experiência na Eslováquia foi muito interessante e não nos arrependemos nada de ter decidido esta loucura de correr uma 'meia' e uma maratona em dois dias. No final de contas, foi uma maratona que nos permitiu conhecer a zona histórica da cidade a correr e, depois, durante a tarde (enquanto o clima permitiu), voltar lá para tirar umas fotos para recordação. Uma recordação que ficará para sempre, tal como a aventura de ir à Eslováquia para correr a 50.ª maratona da 'carreira' do jornalista que vos escreve, no 20.º país europeu.
NOTAS FINAIS
Percurso: 6/10
São 2 voltas (quem faz a meia fica-se pela primeira), em que os primeiros 10 quilómetros são extremamente planos e os restantes algo desafiantes - mas corríveis a bom ritmo. Aí, contudo, entrámos na parte mais interessante, com a passagem pela zona histórica da cidade e também o cruzar do Danúbio para depois dar uma ‘voltinha’ num parque do lado oposto. Não é dos mais interessantes, mas também já corremos em piores.
Logística: 9/10
Aqui vamos dar um ponto extra pelo facto da organização permitir o levantamento do dorsal no dia da prova. Para quem viaja de fora, chegando um pouco em cima da hora, como foi o nosso caso, é algo muito importante. No dia da prova, o processo de arranque foi bastante fluído e os abastecimentos pareceram-nos adequados. Apenas bebemos água em dois deles, mas tudo correu de forma satisfatória. No final, o pelotão flui de forma muito rápida para recolher as medalhas e as ofertas que nos eram dadas.
Ambiente: 6/10
A forma como o percurso da prova foi desenhado acaba por condicionar a questão do ambiente, pois durante larguíssimos quilómetros vamos totalmente sozinhos, sem qualquer apoio. A situação muda bastante de figura assim que nos aproximamos do centro, onde - aí sim! - temos muito e bom apoio. Nota também para o momento do arranque, com um DJ que trabalha muito bem para animar aqueles (gelados) momentos iniciais.
Medalha: 9/10
A primeira vez que a vimos torcemos o nariz. Mas assim que a recebemos meio que mudámos de opinião. O design inspira-se em alguns pormenores da cidade e conta ainda com o número 20 (em alusão à edição deste ano). As medalhas das 2 distâncias são iguais no design, mas a da maratona é maior do que a da meia maratona.
Dado extra
13 corredores portugueses correram neste domingo, entre meia e maratona. Um número até interessante tendo em conta o quão longe (e até pouco conhecida no meio do running) é a capital eslovaca. Mas podia ter sido bem maior, caso os militares portugueses estacionados em Bratislava (26) tivessem seguido o exemplo dos seus camaradas espanhóis. Vá lá, malta! :)
Data em 2026: a definir
Preços (em 2025)
45€/50€/55€
Bengaleiro: Sim (gratuito)
Provas paralelas: Maratona em estafeta (4x10.5k) e Meia Maratona individual e em estafetas (4x5.5k) no domingo; 10 KM, Mini Marathon (4.2k) e provas de crianças no sábado
Blocos de partida: Sim
T-shirt: grátis
Potencial para recorde pessoal: 6/10
Como chegar
Não havendo voos diretos - nem do Porto, nem de Lisboa -, a nossa recomendação passa por apanhar um voo direto para alguma das cidades próximas (Viena é a melhor solução) e, depois, viajar para Bratislava de comboio.
Onde ficar
Os hotéis na capital eslovaca são a preços relativamente acessíveis e a maior parte deles estão na zona próxima à partida/meta. E mesmo ficando algo afastados dessa área, a cidade é pequena o suficiente para lá chegarmos rapidamente. No nosso caso, ficamos no Sheraton... a 50 metros da partida/meta.
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