Maratona de Praga: uma confirmação, uma vitória e um recorde pessoal

Voltámos à prova checa e confirmámos a ideia que tínhamos da edição do ano passado

• Foto: Getty Images

Não estaremos a exagerar se dissermos que Praga é uma das cidades europeias mais encantadoras e fascinantes. Talvez digamos isto porque a pessoa que vos escreve tem na capital checa a sua cidade preferida, mas dificilmente será possível encontrar alguém que não tenha uma opinião similar. Desmintam-me nos comentários, mas confio piamente que serão raros os que discordam. E essa é desde logo uma boa razão para apanharmos um avião e irmos a Praga correr a sua maratona, certo?

Depois da experiência menos positiva de 2022, com um susto que ficou para sempre gravado na memória, o regresso demorou menos do que esperado - nós tínhamos prometido voltar - e este ano lá estivemos de novo à partida. Para confirmar que Praga tem mesmo uma das maratonas mais bonitas da Europa. Mais bonitas e bem organizadas. E que, apesar do piso que exige alguns cuidados (já lá iremos...), é possível até correr rápido por entre as suas ruas encantadoras, pitorescas e repletas de história. Afinal de contas, depois de quatro tentativas em provas claramente mais planas, o jornalista destacado para a prova conseguiu finalmente o sub-3 horas na distância. Depois de Sevilha (por duas vezes), Berlim e Frankfurt, aí chegou ele...

O corpo foi o principal responsável pela obtenção desse resultado, isso é óbvio. Mas ter uma prova com tudo organizado de forma perfeita ajuda. E muito. É isso que temos sempre que nos apresentamos à partida para uma que tenha a chancela da RunCzech. Por alguma razão a Adidas lhes delega a organização dos seus recentes eventos privados ou a World Athletics se apoia na sua estrutura para recolher contributos para melhorar as competições internacionais.

Um dos maiores exemplos disso mesmo, mas também da própria capacidade de inovação da organização checa, é a chamada 'Battle of the Teams'. Um conceito inovador, que nasceu em plena pandemia, inicialmente fechado apenas à elite, mas que agora envolve também os atletas de pelotão. Até os mais lentos importam. Mais uma prova de que o atletismo é a modalidade mais inclusiva do planeta. Qual a outra modalidade em que podemos estar e fazer parte de um recorde do mundo, como nos aconteceu meio ano na Maratona de Berlim? É essa a proposta da RunCzech. Fazer que todos os corredores contem.

E não se pense que é só 'treta'. É que nesta Battle of the Teams o resultado do último pode definir o desfecho da batalha entre as elites e mudar em vários milhares de euros o seu encaixe monetário. É... os atletas que ganham, normalmente africanos, têm de ficar a torcer pelos amadores, aqueles que acabam 3 ou 4 horas depois, para saber se levam para casa mais uns milhares de euros...

Este ano também nós fizemos parte deste desafio. E até ganhámos. Bem, não ganhámos nada. Mas fizemos parte da equipa vencedora. Por isso o nosso título desta crónica. Pode ser enganador por um lado, mas aconteceu mesmo. Nós, com o jornalista que neste dia de Maio foi a Praga, vencemos a Maratona de Praga. Para isso acontecer é preciso ter olho para escolher a equipa certa. Foi isso que nos aconteceu quando elegemos a equipa CEZ Group, onde estava o vencedor masculino, o queniano Alexander Mutiso, que até fixou um novo recorde do percurso.

Querem saber mais sobre este conceito? Podem ler mais aqui.

E agora que já nos vangloriáramos o suficiente, voltemos ao que Praga tem para oferecer em termos de maratona. Sendo realizada numa cidade pequena, com o seu quê de lisboeta pelas colinas onde estão alguns pontos emblemáticos mas também pelo empedrado -, o percurso não é dos mais encantadores, porque nos obriga a ir para zonas mais despovoadas e industriais, mas não deixa de ter muitos pontos de interesse.

A partida este ano foi na conceituada Wenceslas Square, um ponto que, sendo algo mais estreito para dispersar os corredores no arranque, é muito mais amplo para montar toda a estrutura envolvente. Até ao ano passado o ponto de início e chegada era a Old Town Square, provavelmente algo mais simbólico para terminar uma maratona, mas não se preocupem. Passamos por lá duas vezes, aos 13 e aos 41! Além desta dupla passagem pelo ponto central mais emblemático da cidade, onde temos, por exemplo, o famoso Relógio Astronómico, também corremos por baixo da Torre da Polvóra em duas ocasiões e, no começo, cruzámos o rio Vltava na Ponte Carlos II. Sim, aquela ponte que normalmente está apinhada de gente e onde todos querem tirar fotos... Corremos em cima dela, apenas só nós, os corredores.

De resto, em função da dimensão reduzida da própria cidade, fazemos várias vezes a passagem de um lado para o outro da cidade através das diversas pontes que a servem. Na corrida chegamos a perder a conta de quantas vezes o fazemos, mas fomos fazer contas: são 10! Esses pontos são também aqueles que normalmente apresentam maior dificuldade em termos de perfil, porque as pontes coincidiam quase sempre com alguns topos que nos obrigavam a gastar uma energia extra. Outro aspeto a destacar é um que já tínhamos falado: o piso empedrado. Fazendo contas por alto, esta maratona terá pelo menos 20% do seu percurso com este tipo de piso. O seu perfil é bastante regular, mas mesmo assim exige algum (ou muito!) cuidado. E nós podemos bem confirmar que é preciso ter atenção, porque ao fim de 600 metros... já estávamos no chão. Fruto de uma pequena distração, um pequeno deslize, e lá fomos de anca ao solo. Menos mal que a adrenalina estava nos píncaros e o regresso à corrida se fez uns 3 ou 4 segundos depois!

Outro ponto a ter em atenção são também os carris do elétrico. Porque mesmo estando bem visíveis e não serem demasiado profundos, é muito fácil apoiar mal o pé, torcê-lo e dizer adeus à prova. Mas nada que seja possível melhorar, pois é isto que temos quando corremos no coração de uma capital europeia como Praga. Não podemos querer que simplesmente coloquem alcatrão nas estradas só porque nós, os corredores, queremos. Certo?

É difícil encontrar pontos negativos nesta prova. Estaremos se calhar com uma opinião um pouco enviesada pelo facto de tudo nos ter corrido bem, mas certamente temos perdão por isso mesmo. A adrenalina e a satisfação pelo resultado obtido ainda cá andam. De um modo global, tudo correu bastante. Os bengaleiros, agora localizados na Wenceslas Square, estão muito bem mais dispostos (antes estavam em torno das ruelas próximas da Old Town Square), permitindo que deixemos as mochilas de forma mais rápida e simples.

O acesso às caixas de partida, ainda que algo mais estreito - pelo facto da rua ser igualmente estreita -, fez-se de forma rápida e não houve qualquer problema para arrancar e imprimir o ritmo desejado. As caixas de partida, este ano com 10 mil corredores, estavam bem definidas e, mesmo que tenha todo o pelotão saído em conjunto, não houve relatos de problemas nos corredores que saíram mais para trás.

Durante a prova, é impossível não destacar o trabalho dos voluntários. Sempre incansáveis a ajudar os corredores, nomeadamente na forma como nos davam as águas nos abastecimentos ou como nos apoiavam. Umas vezes em checo (que não percebemos patavina...), outras em inglês. Uma grito de incentivo era sempre bem-vindo, especialmente depois dos 30 quilómetros. Este ano, talvez aprendendo com o sucedido na 'sauna' de 2022, a organização parece ter reforçado o número e comprimento das mesas de abastecimento, o que naturalmente se elogia.

No global, voltámos a Praga para confirmar as boas impressões com que tínhamos ficado de 2022. Mas agora com a prova a ser na sua capacidade máxima. Tanto em recursos como em pelotão. Se têm planos para correr uma maratona no próximo ano por esta altura, não descartem Praga. Vão agradecer!


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Por Fábio Lima
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