Os famosos irmãos Jardel

Qualquer motorista de táxi de aeroporto ou hotel em Fortaleza sabe onde mora Mário Jardel. Numa cidade com mais de dois milhões de habitantes, o ponta-de-lança do Sporting é um dos habitantes VIP do Estado do Ceará. O irmão George, cujos feitos na Europa ainda estão por chegar, não passa, para já, disso mesmo: de irmão do Jardel. Mas ambiciona ganhar espaço e nome próprios.

O que os taxistas sabem é que Jardel mora no Bairro Dunas, espécie de Restelo da cidade mas em versão tropical. Por entre as vivendas mais ou menos luxuosas do local, a do mais produtivo ponta-de-lança da Europa destaca-se pela cor: amarela.

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Uma piscina é o centro imediato das atenções da casa. "Não mergulho muito, não, porque a água é fria", diz George, mal habituado aos 30 graus da água na Praia do Futuro, logo abaixo da vivenda 1204.

Jardel, mais descontraído que o entusiasmado irmão, apesar de não ter o seu futuro também completamente definido, divide-se entre os petiscos típicos cearenses preparados pela mãe e avó, pelas peladinhas no campo relvado junto à casa, e pelo "telão" recentemente montado na sala de troféus e munido de parabólica. Férias totais antes dos trabalhos na Academia de Alcochete.

"Esse cara vai para o Benfica? Nem sabia", diz Jardel, referindo-se, em tom de gozo, ao irmão. Menos brincalhão, mas igualmente bem-disposto, George ri-se das piadas de Mário, que também é dono do seu passe. Quando viu a camisola encarnada com que iria tirar as fotos, reagiu de imediato: "Vou ficar com ela, pode ser?" Jardel também se agarrou definitivamente à verde e branca.

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George vai ser testado na Suíça por Jesualdo Ferreira e quer ficar no plantel do Benfica. Jardel está consciente de que deve ficar no Sporting, mas um "grande" estrangeiro continua a ser um sonho.

"Não vamos torcer um contra o outro"

– Em crianças, vocês jogavam sempre juntos?

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Mário Jardel – Sim. Treinando nos clubes ou então jogando na rua, em qualquer lugar, em qualquer campo.

– Mas o George podia jogar com vocês, mais velhos?

MJ – A gente deixava. Jogava o meu irmão mais velho, eu, os nossos amigos e o George também já participava.

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– Aqui em Fortaleza vocês alinharam ambos no Ceará e no Ferroviário?

MJ – Eu joguei no Ceará e no Ferroviário e ele também. Não jogámos juntos. Eu sou mais velho, por isso ele actuava noutra categoria.

George Jardel – E eu comecei pelo futebol de salão com oito, nove anos. Joguei apenas nos 'escolinhas' e nas restantes categorias de base, enquanto ele já alinhava na equipa profissional.

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– Não aconteceu um jogar pelo Ferroviário e outro pelo Ceará, ao mesmo tempo?

GJ – Não. Jogarmos por clubes rivais só está a acontecer agora.

– Depois foram ambos para o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Como é que isso aconteceu?

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MJ – Só treinámos juntos. Eu falei com o Eurico Miranda [ndr: na altura vice-presidente para o futebol, actual presidente do Vasco] e disse-lhe: 'Tenho um jogador bom para o clube, é o meu irmão.' Passado uma semana, ele fez os testes e foi aprovado.

– No FC Porto jogaram juntos apenas num particular em Monção, não foi?

MJ – Isso mesmo. E ele marcou um golo.

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GJ – É verdade.

– Você (Mário Jardel) não marcou?

MJ – Não. Eu só marco quando é preciso marcar (risos).

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– Na família há mais um jogador profissional, não é?

MJ – O nosso irmão mais velho, Júlio César, era defesa-central mas já não joga. O Júnior, o mais novo de todos, alinha na minha posição. É atacante. E mais alto do que eu. Bom cabeceador. Está no Ferroviário, primeira divisão do Estado do Ceará, terceira nacional.

– O ponto forte do Mário é a cabeça. E do George?

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MJ – Ele tem mais habilidade com os pés, sobretudo o direito. Mas também marca muitos golos de cabeça.

– São jogadores complementares, então.

MJ – Acho que um jogador que reunisse as nossas qualidades juntas seria o melhor do Mundo. Mas era bom também que tivesse a força do Ronaldinho (risos).

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GJ – A explosão do Ronaldinho é única.

– Quando jogar o clube rival, Benfica ou Sporting, vocês agora vão torcer contra ou a favor?

MJ – Vou torcer sempre para que o meu irmão faça um bom jogo. Torcerei para ele jogar bem e fazer golos. Não vou torcer contra o Benfica, só por torcer, muito menos contra ele. A única coisa que posso responder é que vou torcer pelo meu irmão.

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GJ – Ele salvou-se tão bem da pergunta que eu respondo igual (risos).

"Jardel era mais traquina"

Dona Fátima, mãe de Mário Jardel e de George, vai fazer o pleno: depois de sofrer pelo FC Porto e de vibrar com o Sporting, passa agora a desejar que o Benfica também ganhe. Tal como o resto da família, lida melhor com a rivalidade no interior do clã Almeida Ribeiro do que com as saudades dos filhos.

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"Vou comprar uma camisola verde e branca de um lado e encarnada do outro", garante Fátima Ribeiro, durante um encontro familiar em casa dos pais (avós de Jardel e George).

Ao mostrar fotografias do álbum de família, Dona Fátima vai recordando a infância dos dois jogadores: "O Jardel era muito mais traquina. Faltava às aulas sempre atrás da bola. O George sempre foi mais calminho, mais caseiro. Na escola? Jardel tinha sempre notas baixas (risos). O George foi melhor estudante. O amor do Jardel pelo futebol foi ganho através do pai, que o levava a ele e ao Júlio, o mais velho, ao colo, aos jogos do Ferroviário. Ele adorava. O George também chegou a ir. Mas menos".

Dona Iracema, mãe de Fátima e avó dos craques, interrompe, pouco familiarizada com o futebol português: "Qual é o nome dos clubes deles?" "Sporting e Benfica", responde a filha. "É uma rivalidade tipo Flamengo e Vasco", completa. "Puxa vida: vai ser como os nossos sobrinhos paulistas, um do Palmeiras, o outro do Corinthians. Será que eles vão virar fanáticos?", pergunta Iracema. "Não, eles são muito amigos", sossega Fátima.

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O avô António, a avó Iracema, os tios, os primos e os amigos, rematam a questão da forma mais simples: Sporting ou Benfica não interessa, desde que sofram pelo Brasil contra a Alemanha!

Mãe vai para Lisboa com George

A mãe de Jardel e George, depois de ter vivido no Porto, vai agora morar em Lisboa. O filho benfiquista merece mais apoio nesta fase cheia de mudanças. "Precisa que eu cozinhe, que eu limpe. Eu não me importo, gostei muito de viver em Portugal, já conheço um pouco de Lisboa e torci muito pela selecção portuguesa na Copa, mas infelizmente correu mal. Estou muito habituada a Portugal e assim posso ficar perto dos meus dois filhos."

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Jardel viu Brasil-Turquia no seu 'telão'

Mário Jardel viu o Brasil-Turquia, das meias-finais do Mundial, no "telão" especial que tem na vivenda, numa das poucas zonas que escapa ao sol impiedoso de Fortaleza. Viu o jogo sozinho mas sofreu só como adepto canarinho – está a pensar em adiar a viagem para Lisboa para poder ver a final na íntegra – e não tanto pelo facto de ter sido esquecido por Scolari. Esteve ligado na Globo e não na Sportv brasileira, por isso perdeu um elogio público do antigo internacional Júnior. Este disse que chamavam a Sukur o Jardel turco, mas que, segundo ele, o jogador brasileiro é muito superior.

Foto de Scolari passou para lugar discreto

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Mário Jardel elogia sempre Luiz Felipe Scolari e diz que não se deixou abater pelo facto de o seleccionador brasileiro ter preferido jogadores como Luizão a ele próprio. Conviveram ambos no Grémio e os dois foram essenciais na carreira um do outro. A amizade, por isso, perdura. Mas há pormenores que fazem pensar que a relação está aí a uns 90 por cento. Na sala de troféus e fotografias de Jardel, uma foto dele com Scolari, após mais um título gaúcho, passou de uma posição central para um lugar mais recatado. Na sala de Jardel, é ele quem tem o poder de escolha.

George foi a programa de televisão

George Jardel, o menos mediático dos dois irmãos cearenses que vivem em Portugal, vai pouco a pouco ganhando contacto com a fama. Na quinta-feira passada foi convidado de um programa importante de uma rede de televisão local, interessada no sucesso do irmão de Super-Mário. A aposta do Benfica, "candidato eterno ao título português", como descreveram, motivou a entrevista. George, cuja voz é praticamente igual à do irmão, saiu-se bem e começa a ganhar contacto com as câmaras, ainda antes de se estrear pelo clube da Luz. Um bom teste, sem dúvida, para quem ambiciona destacar-se pelo clube com mais adeptos em Portugal.

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GEORGE sobre MÁRIO

– Como é o Jardel como irmão?

– Como jogador, toda a gente conhece, toda a gente sabe os golos que ele faz, os títulos que conquista. Como pessoa, é o 'cara' que sempre me ajudou e me deu força para trabalhar e para eu não desistir.

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– Estamos a falar também no dono do seu passe.

– Isso só demonstra o apoio e a confiança que ele deposita em mim. Considero-o muitíssimo. Mas ele tem a cabeça um pouco maior do que a minha (risos).

MÁRIO sobre GEORGE

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– Como é o George como jogador?

– É um jogador cujo passe me pertence, em quem eu apostei. Aos 17 anos, jogava no Vasco, ao lado do Edmundo na equipa principal, e agora só precisa de oportunidades. Em Portugal não tem tido. Mas ele tem condições para jogar em qualquer clube português: olha que eu sei, que os meus olhos nunca me enganam. É só preciso colocá-lo na posição certa: a jogar solto, a cair na direita, na esquerda, no meio. Sempre perto do ponta-de-lança.

– E como pessoa, como é ele?

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– É espectacular. É o meu irmão mais próximo, com quem eu falo e desabafo mais. Tem é a cabeça muito grande (risos).

Júnior: "Também sonho com Portugal"

Júnior, de 18 anos, joga como titular no Ferroviário, clube onde começou Mário Jardel, e também gostaria de actuar em Portugal. O irmão mais novo do clã é avançado, altíssimo (mais ainda que o jogador sportinguista) mas prefere jogar com os pés (tal como George).

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"Comecei como médio nos juvenis do Ferroviário, clube da primeira divisão do Ceará, mas agora o treinador colocou-me como avançado", explica Júnior (ou Juninho para os familiares).

O jovem craque sonha com uma oportunidade igual à que os irmãos mais velhos tiveram. "Portugal? Adoraria!", explica. "Se preferia o Sporting de Jardel ou o Benfica do George? Não sei. Não devo escolher, devo é esperar por uma oportunidade e continuar a trabalhar. O que posso oferecer a um clube português é habilidade. Embora sendo alto como o Jardel não cabeceio tão bem. Sou mais pela habilidade com os pés, como o George", conclui.

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